Familiares aguardam
informações no IML de Boa Vista
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Em entrevista coletiva nesta
sexta-feira, 6, em Roraima, o secretário de Justiça e Cidadania Uziel Castro
afirmou que os 33 presos mortos durante a chacina promovida pelos integrantes
do Primeiro Comando da Capital (PCC) não tinham ligação com o crime organizado.
Segundo Castro, as mortes não foram decorrência de um confronto entre facções,
mas "uma ação isolada de membros do PCC contra pessoas que não eram
ligadas a nenhuma facção". Mais cedo, o ministro da Justiça, Alexandre de
Moraes, havia dito que a matança aconteceu por um acerto de contas interno do
PCC.
Ele contou que a chacina foi
previamente planejada, mas disse que os órgãos de inteligência não haviam
detectado indícios que ela ocorreria. "Foram três frentes de homicídios
contra vítimas sem ligações com facções. Presos do regime fechado mataram presos
do mesmo regime, assim como os preventivados e os que estavam na ala de
segurança se mataram entre eles."
Para o secretário, o que
ocorreu foi uma ação isolada. "Foi uma barbaridade contra presos comuns, e
não entendemos o motivo. Não tem justificativa nem fundamentos, e a princípio,
seriam 33 mortes de pessoas que não pertencem a organização criminosa."
Apesar das declarações do
secretário de Justiça de RR e do ministro da Justiça, mensagem deixada pelos
presos no chão da cadeia, escrita com sangue dos mortos, indica guerra de
facções: "Extermina. Quem manda aki (sic) é o PCC. Sangue se paga com
sangue".
Mensagem com sangue foi
deixada por presos
Ele informou que os presos
integrantes de facção foram separados no dia 3 de novembro e que os que se
declararam do Comando Vermelho estão na cadeia pública, onde não houve
rebelião. "Separamos os presos por facções, além de estarmos preparados
para evitar fugas. Fazemos revistas constantes, foram feitas varreduras onde
encontramos armas e até pólvora e tudo foi apreendido. As armas usadas na
chacina são artesanais que eles utilizam feitas lá dentro mesmo com sobra de
material de construção da reforma do presídio".
A Secretaria de Justiça e
Cidadania (Sejuc) ainda não informou quem são os mortos e deu o prazo até este
sábado, 7, para divulgar os nomes dos principais envolvidos.
Reforma. O secretário anunciou
uma reforma no presídio que deve começar de forma imediata e disse que as
péssimas condições do sistema carcerário não são segredo para ninguém. "A
governadora determinou a alocação de recursos para a reforma que já foi
licitada. Algumas empresas participaram da licitação e estão se discutindo
valores. Creio que no início de ano começaremos as reformas", explicou Castro
acrescentando que em 70 dias será entregue um módulo para acomodar 140 detentos
perigosos.
A empresa do Rio Grande do Sul
que fará a construção do novo presídio está deslocando contêineres para
construir os blocos e em 20 dias chega em Roraima." Relatório de 2014 do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) classificou de "péssimas" as
qualidades do presídio palco da matança. O déficit de vagas em penitenciárias
no Estado é de 924 vagas.
Manaus. A matança em Boa Vista
ocorreu cinco dias após o massacre de 60 presos em prisões do Amazonas - a
maior parte ligada à facção criminosa PCC. Na ocasião, detidos da Família do
Norte (FDN) mataram 56 presos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) e
outros 4 em outra prisão também em Manaus. Relatório produzido pelo Ministério
da Justiça, por meio do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura
(MNPCT), já apontava, em dezembro de 2015, que os presos se
"autogovernam" nos presídios amazonenses e que a ação da
administração penitenciária no Estado é "bastante limitada e "omissa
diante da atuação de facções criminosas". O documento menciona forte disputa
entre facções.
Um dia depois da matança, o
ministro da Justiça afirmou que o governo do Amazonas sabia da possibilidade de
fugas entre o Natal e o ano-novo nos presídios do Estado e não pediu auxílio ao
governo federal. Ele ressaltou, porém, que “até o momento, não está
caracterizada nenhuma omissão do governo estadual”, que disse ter tomado todas
as providências para evitar fugas. Pouco depois, representantes da Segurança
Pública do Estado do Amazonas rebateram o ministro. “Foi desenvolvido um plano
de contingência. É claro que o sistema de inteligência sabia da possibilidade
de confusão no sistema prisional, mas isso não implica sucesso ou não de
evitarmos fugas”, afirmou o diretor do Centro Integrado de Comando e Controle,
coronel Oliveira Filho. “Contingência não é prevenção. E me aponte um presídio
no Brasil onde os presos não pensem em fugir ou fazer rebelião.”
Estadão Conteúdo
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