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Um planeta órfão e solitário, vagando pelo espaço sem a companhia de uma estrela-mãe
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Um cientista americano acaba
de descobrir um planeta órfão, que não tem sol. Ele está flutuando pelo espaço,
não muito distante do Sistema Solar. O achado vem se somar a outros para
consolidar cada vez mais a noção de que é difícil estabelecer uma separação
clara entre planetas e estrelas.
O novo objeto, que atende pela
feiosa designação WISE J085510.83–071442.5, tem entre 3 e 10 vezes a massa de
Júpiter — é um gigante gasoso, portanto — e, como seria de se esperar de um
astro que não gira em torno de uma estrela, é frio. Sua temperatura estimada
gira entre -48 e -13 graus Celsius. Aliás, só não é mais frio que isso porque
provavelmente ainda retém algum calor proveniente de seu processo de formação.
E ainda bem, porque é o fato de não ser completamente congelado que permitiu
sua detecção, por meio de um suave brilho em luz infravermelha detectado pelo
satélite Wise, da Nasa.
O achado tem chamado a atenção
dos astrônomos por duas razões: primeiro porque é o astro mais frio desse tipo
já detectado. Segundo porque ninguém sabe direito como chamá-lo. O autor da
descoberta, Kevin Luhman, da Universidade Estadual da Pensilvânia, preferiu
defini-lo como uma “anã marrom”. Essa classe de objetos é composta por estrelas
“abortadas”, que não conseguiram reunir massa suficiente para iniciar a fusão
de hidrogênio em seu núcleo e, por isso mesmo, não “acenderam”. Só que parte da
comunidade astronômica traça a linha entre planetas e anãs marrons num limite
de 13 vezes a massa de Júpiter. Seguindo esse critério, o achado seria um
planeta órfão, e não uma anã marrom.
A sugestão vem do fato de que,
com mais massa que isso, o objeto consegue ao menos fundir deutério (versão
mais pesada do átomo de hidrogênio, com um próton e um nêutron no núcleo),
gerando uma módica quantidade de energia térmica. Agora, se ele tem menos de 13
massas de Júpiter, nem isso ele consegue. É uma bola morta de gás, que vai se
resfriando conforme o calor interno da formação se esvai, ao longo de bilhões
de anos. Bem a cara de um planeta gigante gasoso, só que sem uma estrela para
chamar de mãe.
Luhman está pintando e
bordando em tempos recentes com os dados do satélite Wise. Num estudo recente,
ele praticamente descartou a presença de um planeta X nas profundezas do
Sistema Solar (para a tristeza dos nibirutas), e noutro ele conseguiu analisar o
padrão de nuvens de uma anã marrom pertencente a um par binário que ele mesmo
descobriu. A descoberta do WISE J085510.83–071442.5 (para os íntimos, WISE
0855–0714) é o terceiro trabalho bombástico em sequência. O astrônomo americano
está rapidamente se tornando o rei das anãs marrons. Esse último artigo foi
publicado na última segunda-feira no “Astrophysical Journal Letters”.
PLANETAS SOLITÁRIOS (E
PRÓXIMOS)
O achado, na prática,
demonstra que pelo menos um certo tipo de planeta — gigantes gasosos maiores
que Júpiter, mas menores que as anãs marrons — pode se formar sozinho no
espaço, pelo mesmo processo que leva ao surgimento de estrelas.
Também é muito interessante
observar a proximidade que esse astro recém-descoberto guarda do Sistema Solar.
O objeto está a 7,1 anos-luz da Terra, uma distância que faz dele o quarto
sistema mais próximo (perdendo apenas do trio em Alfa Centauri, da anã vermelha
conhecida como Estrela de Barnard e do par binário de anãs marrons descoberto
anteriormente pelo próprio Luhman). Não chega a ser uma distância para
encorajar nibirutices, mas me faz pensar em algo que o físico britânico Freeman
Dyson disse, ao refletir sobre viagens interestelares.
Costumamos pensar que uma
viagem até a estrela mais próxima (Proxima Centauri, a 4,2 anos-luz) significa
que a humanidade terá de atravessar essa imensa distância (cerca de 40 trilhões
de quilômetros) numa pernada só. Isso, por sua vez, faz muitos pensarem que voo
interestelar é impraticável. Dyson, contudo, destaca que há muita coisa nesse
suposto vazio entre uma estrela e outra. Ele sugere que viagens interestelares
podem ser feitas mais ou menos do mesmo jeito que os antigos polinésios
atravessaram o oceano Pacífico — pulando de ilha em ilha.
Já sabemos que há muitos
objetos de porte razoável além de Netuno (planetas anões como Plutão e Éris),
que poderiam nos receber e abrigar colônias humanas instaladas em ambientes
controlados, a despeito do frio intenso. De lá, podemos saltar para objetos que
ora se aproximam daquela região, ora se afastam, como o Quaoar. Numa terceira
parada, teríamos os possíveis planetas anões presentes na nuvem de Oort, que se
estende até um ano-luz de distância do Sol. De lá, quem disse que não
encontraremos planetas órfãos — pequenas ilhas no vazio cósmico — que nos
ajudem a atravessar os três anos-luz restantes?
Além de planetas que não
conseguiram virar anãs marrons, podemos encontrar astros de todo tipo que
nasceram em torno de estrelas, mas depois foram ejetados de seus sistemas
planetários de origem e agora seguem órbitas em torno do centro da Via Láctea.
Eles são praticamente invisíveis para nós daqui, visto que são pequenos,
distantes e gelados, mas talvez possam ser detectados pela humanidade do
futuro, que já tiver estabelecido uma estação de pesquisa em Quaoar.
Além de turvar a distinção que
fazemos de planetas e estrelas, esses astros órfãos realçam a incrível
variedade do cosmos. E nos fazem lembrar que não podemos restringir nossa
imaginação aos próximos dez anos, ou mesmo ao próximo século. O Homo sapiens já
tem 200 mil anos. Se continuar existindo por outros 200 mil, o que não poderá
estar fazendo no longínquo ano de 202.014? Gosto do Dyson sobretudo porque ele
não tem medo de pensar grande. Quando você se vê diante do tempo em escala
astronômica, nada parece impossível.
Mensageiro Sideral
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