Durante os últimos dias, os
analistas atribuíram a alta do dólar ao temor de um novo rebaixamento da nota
de crédito soberano do Brasil e ao impasse político que emperra a aprovação do
ajuste fiscal.
Em escala global, porém, dólar
opera em leve queda. O índice Dollar Spot da Bloomberg, que mede a força da
divisa contra uma cesta das dez principais moedas do mundo, recua 0,13%.
O dólar oscila hoje ao sabor
das declarações das autoridades. Às 9h, divisa abriu já em forte alta e atingiu
seu pico às 10h29m. A partir daquele horário, a moeda iniciou trajetória de
queda, acentuada pelo início do discurso de Tombini, às 11h. Por volta das
11h10m, o dólar zerou toda sua alta, retornando praticamente ao mesmo patamar
de fechamento do dia anterior.
Mas enquanto o presidente do
BC falava, a moeda recuperava fôlego, voltando para a casa dos R$ 4,20 por
volta das 12h30m. Foi nesse momento que surgiram notícias de que Renan
Calheiros havia marcado para a próxima quarta-feira a conclusão das votações
dos vetos presidenciais — assunto sensível para os investidores, devido à sua
repercussão sobre o ajuste fiscal. Com as declarações do presidente do Senado o
dólar despencou intensamente, atingindo a mínima de R$ 4,058 por volta de
13h40m.
ESPECIALISTAS FALAM EM ATAQUE
ESPECULATIVO
Para James Gulbrandsen,
diretor da NCH Capital, a venda de reservas não adiantaria muita coisa e
tornaria o país ainda mais vulnerável. Segundo ele, a saída é um choque
monetário.
— Se eu fosse o Tombini,
aumentaria a taxa de juros em três pontos percentuais, para 17,25%, de uma só
tacada. Seria um movimento temporário que enviaria uma mensagem os fundos de
hedge globais que estão promovendo um ataque especulativo contra o Brasil. Esses
caras são tubarões que farejam sangue na água e estão se aproveitando demais do
BC e da paralisia do governo para criar o caos. O aumento repentino dos juros
iria atrair um enorme volume de capital, elevando o preço dos ativos
brasileiros e o real, provocando grandes perdas a esses fundos que apostam
contra o Brasil — afirmou o americano, que mora no Rio. - A própria curva de
juros futuros está mostrando que o mercado não acredita que a taxa Selic está
correta hoje. Lógico que o mercado não está sempre certo, mas elevar os juros
enviaria a mensagem que o BC não deixará o ataque especulativo continuar.
Uma prova do ataque
especulativo sofrido atualmente pelo Brasil, segundo Gulbrandsen, é o
comportamento do iShares MSCI Brazil Capped, um fundo do tipo ETF (Exchance
Traded Funds, negociado em Bolsa) que acompanha ações brasileiras e é negociado
em Nova York. O fundo reúne papéis das principais empresas brasileiras, como
Petrobras, Itaú e Vale, e é uma das principais referências do tratamento dado
pelo investidor internacional ao Brasil. Segundo Gulbrandsen, das 84,2 milhões
de ações emitidas por esse ETF, 59 milhões, ou 70%, estão vendidas a
descoberto.
— Isso significa que os fundos
de hedge venderam ações que não possuem, papéis que alugaram com o objetivo de
vender, apostando na queda do papel. quando o valor do papel cai, esses fundos
os compram a preço de mercado e devolvem para quem alugou. Assim, eles ganham
com a diferença —explicou o investidor. — É claro que a crise do país não se
trata, simplesmente, de culpa desses fundos. O negócio deles é ganhar dinheiro.
Mas o BC deveria enviar uma mensagem. Na falta de um ajuste fiscal que ainda
não foi feito, a política monetária tem que compensar essa ausência.
BC VENDE US$ 1 BILHÃO EM
CONTRATOS DE SWAP
— A postura do Banco Central
(BC) de deixar o câmbio flutuar está dando margem aos grandes players para
especular em cima do câmbio. Ataque especulativo é um termo muito forte ainda,
mas é como se fosse isso. O mercado está, de certa forma, testando o BC. Se ele
não agir de forma mais efetiva, veremos o dólar passar R$ 4,50 e chegar, quem
sabe, a R$ 5 — afirmou Ricardo Zeno, sócio-diretor da AZ Investimentos. — A
desvalorização do real tem fundamentos, é claro, mas não nesses níveis. Pode
estar havendo um efeito manada.
Hoje o BC conseguiu vender 20
mil contratos de swap cambial (que funcionam como uma venda de moeda no futuro)
equivalentes a US$ 1 bilhão. Ontem, a intenção da autarquia era também oferecer
20 mil contratos mas só encontrou demanda junto aos bancos para 4,4 mil. Além
da oferta de novos contratos de swap, o BC faz a rolagem de 9.450 contratos que
venceriam em outubro, como vem fazendo nas últimas semanas.
Mas Zeno acredita que esse
tipo de operação não será suficiente para conter o câmbio. Para ele, a situação
exige mesmo que o BC venda dólares à vista no mercado, hoje depositados nas
reservas internacionais de US$ 370,8 bilhões da autarquia.
— Pode até ser que a venda de
dólares à vista não contenha a disparada do câmbio, mas ela geraria no mercado
a noção de que ele o BC está intervindo. Além disso, o órgão comprou reservas
em momentos em que o dólar estava muito baixo. Faz sentindo vender parte desse
montante para segurar um pouco o câmbio que, nos patamares atuais, não é
interessante para ninguém — recomendou o especialista.
INTERVEÇÃO MAIOR DO BC
Ontem, em pregão dominado por
nervosismo, o Banco Central (BC) reforçou sua artilharia para tentar conter a
volatilidade no mercado de câmbio. Foram anunciados dois leilões de linha
(venda de dólares com compromisso de recompra), no total de US$ 4 bilhões, e
uma nova oferta de contratos de swap cambial de US$ 1 bilhão.
Mas essa intervenção de US$ 5
bilhões não foi suficiente para segurar a cotação do dólar comercial, que
encerrou a R$ 4,145, com alta de 2,24%, um novo recorde desde o início do Plano
Real, em 1994.
Fontes da equipe econômica
consideraram que a oferta do BC de empréstimos em dólar foi a ação adequada
para tentar acalmar o mercado financeiro, além de aliviar a pressão sobre os
cupons cambiais. Como não quer queimar reservas, o BC usou o leilão de linha
para irrigar o sistema, combinado com operações de swap. Segundo essas fontes,
não adiantaria vender dólares no mercado à vista, ou seja, sem o compromisso de
recompra.
MAU HUMOR NAS BOLSAS EXTERNAS
No mercado de ações, o dia é
negativo para as ações europeias. Os investidores operam com cautela, à espera
de declaração, à tarde, da presidente do Federal Reserve (Fed, banco central
dos EUA), Janet Yellen. Contribui para o mau humor os desdobramentos do
escândalo Volkswagen, depois de da revista alemã “Autobild” dizer que o carro
esportivo X3, dessa vez da BMW, excede os limites de emissão de poluentes da
Europa. A BMW emitiu comunicado negando qualquer manipulação de dados, mas suas
ações chegaram a cair até 9,5%, maior tombo em quatro anos.
Com isso, a Bolsa de Frankfurt
recua 2,23%, enquanto o pregão em Londres opera em baixa de 0,74%. Em Paris, a
Bolsa cai 1,94%. O índice de referência do continente, o Euro Stoxx, cai 1,94%.
O Globo
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