Em um pregão de mau humor
generalizado, o dólar comercial subiu de forma expressiva e voltou a superar os
R$ 4. As declarações da Fitch sobre o ajuste fiscal no Brasil e a sinalização
de um rebaixamento fizeram a divisa acelerar a alta nos minutos finais de
negociação. A moeda americana fechou cotada a R$ 4,107 para compra e R$ 4,109
para venda, valorização de 3,37% ante o real. Além das questões internas, os
investidores estão preocupados com a desaceleração da economia da China, que
pode prejudicar ainda mais a retomada da atividade global, o que derrubou as
Bolsas em todo o mundo. O Ibovespa recuou 1,95%, aos 43.956 pontos, puxado por
Vale e Petrobras.
—As declarações do
representante da Fitch causaram um estresse maior. A expectativa é que a
agência rebaixe a nota do Brasil e coloque a perspectiva negativa. Como não
vemos capacidade do governo em reagir e mudar o cenário, a perda do grau de
investimento deve ocorrer na sequência —avaliou Felipe Silva, analista da Saga
Capital.
Nesta segunda-feira, Rafael
Guedes, diretor executivo da Fitch, afirmou, em evento realizado em São Paulo,
que “uma mudança de rating do Brasil pode ocorrer a qualquer momento”, segundo
a Bloomberg. Disse ainda que a agência não costuma fazer um rebaixamento de
duas notas de uma só vez, mas lembrou que durante a crise de 2002, a nota do
Brasil foi cortada duas vezes no mesmo ano. Na Fitch, o Brasil ainda está com
um rating duas notas acima do grau especulativo. “O governo não sabe como
conseguir cooperação do Congresso. Medidas não são difíceis de passar, mas
Congresso dificulta”, avaliou.
Para analistas, a avaliação é
que pouco está sendo feito em relação ao ajuste fiscal e que será difícil o
Brasil se livrar da perda do grau de investimento por uma segunda agência de
classificação de risco - o país já não possui o selo de bom pagador pela
Standard & Poor’s.
FINAL DE MÊS
Ainda como fator de pressão,
ocorre na quarta-feira, último dia útil do mês, o fechamento do dólar Ptax, que
é calculado pelo Banco Central e que serve de referência para uma série de
contratos dos mercados financeiros. Os dados da dívida pública também não
agradaram.
— O cenário externo não está
ajudando. Do ponto de vista interno, o BC fez o discurso sobre o uso das
reservas, mas não teve mudanças do ponto de vista fiscal. E essa semana é de
formação da Ptax — afirmou Hideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora.
Na sexta-feira, a divisa
fechou cotada a R$ 3,975, recuo de 0,73%, no segundo dia de queda com o impulso
das declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini, sobre o uso das
reservas internacionais, caso necessário. A ideia foi reforçada pelo ministro
da Fazenda, Joaquim Levy, e pela presidente Dilma Rousseff, que no sábado, em
Nova York, afirmou que estava “extremamente preocupada” com a alta do dólar, já
que parte das empresas brasileiras possui dívidas atreladas à moeda americana.
Os investidores estão atentos
aos desdobramentos da reforma ministerial, já que a escolha de ministros e o
anúncio do fim de algumas pastas pode piorar ainda mais a relação com o PMDB.
O dólar no Brasil vai na
contramão do mercado externo. O “dollar index” operava com queda de 0,21% no
encerramento dos negócios no Brasil. Esse índice é calculado pela Bloomberg e
mede o comportamento do dólar frente a uma sexta de dez moedas.
MAU HUMOR GLOBAL
O mau humor global está
atrelado à China. O lucro das empresas chinesas mostrou recuo de 8,8% em
agosto, bem abaixo do esperado e após já ter caído 2,9%. Para analistas, essa
informação mostra que a segunda maior economia do mundo deve ter uma
desaceleração maior que a esperada. Com isso, as ações de empresas ligadas a
commodities são as que mais sofrem nesta segunda-feira, levando para baixo os
principais índices de ações.
Dilma, entre os ministros
Aloizio Mercadante (esquerda) e Ricardo Berzoini, durante reunião com líderes
da base aliada na Câmara, no Palácio do Planalto
Dilma tenta conciliar corte
com o apetite do PMDB
Na Europa, o DAX, de
Frankfurt, fechou em queda de 2,12% e o CAC 40, da Bolsa de Paris, teve
desvalorização de 2,76%. O FTSE 100, de Londres, recuou 2,46%, com a forte
queda de mineradoras. As ações da Glencore despencaram 29,4% no mercado
londrino, com os temores de que a empresa não esteja fazendo os esforços
suficientes para controlar a sua dívida no momento em que o preço das matérias
primas está em baixa. Os papéis da Rio Tinto caíram 4,8% e os da Anglo Americana
10%. Nos Estados Unidos, o Dow Jones recuou 1,92% e o S&P 500 cai 2,57%. A
BHP, negociada nas Bolsa de Nova Yor, cai 4,36%.
—Além da questão fiscal no
Brasil, há uma preocupação em relação às economias do mundo que provoca uma
aversão global. Há a ideia de que a atividade econômica global vai desacelerar
mais por conta da situação na China e o impacto no mercado acionário é forte
—afirma Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.
No Brasil, os papéis
preferenciais (PNs, sem direito a voto) da Vale tiveram desvalorização de 7,37%
e os ordinários (ONs, com direito a voto) caíram 7,47%.
No caso da Petrobras, as
preferenciais da estatal registraram desvalorização de 5,57%, cotadas a R$
6,44, e as ordinárias caíram 5,07%, a R$ 7,67. Os bancos, com maior peso na
composição do Ibovespa, também fecharam em terreno negativo. As PNs do Itaú
Unibanco recuaram 0,07%, as do Bradesco 2,49% e as ações do Banco do Brasil
encerraram o pregão com queda de 4,98%.
O Globo
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