O Brasil teve 392 mortes
violentas registradas dentro dos presídios no ano passado. É o que mostra
levantamento feito pelo G1 com base em dados fornecidos pelos governos dos 26
estados e do Distrito Federal. O número equivale a uma média de mais de um
morto por dia, e os dados se referem a todas as mortes consideradas não naturais
– o que inclui homicídios e suicídios.
O Amazonas, onde 56 detentos
foram assassinados no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) neste ano,
teve dez mortes em 2016 – menos de 1/5 das mortes registradas no 1º dia do ano
em Manaus. O número de mortos no complexo em 2017 também impressiona se for
comparado ao total do país em todo o ano passado (14%).
O Ceará aparece na primeira
posição do ranking, com 50 mortes. Parte delas ocorreu em apenas uma rebelião,
no Centro de Privação Provisória de Liberdade (CPPL), em Itaitinga, cidade da
Região Metropolitana de Fortaleza. Foram 14 assassinatos em maio, em
decorrência de conflitos entre detentos. Houve uma crise com sucessivos casos
pelo estado, e a Força Nacional teve de ser acionada.
O governador Camilo Santana
disse nesta quarta-feira (4) que a situação do Ceará não é muito diferente da
de outros estados. “Todos os presídios do país enfrentam dificuldades, questões
de infraestrutura e excesso de presos. Isso é uma realidade nacional. No ano
passado, o estado construiu um presídio com mais de mil vagas, estamos
construindo mais 3 mil vagas no Ceará.
Mas isso não resolverá o
problema prisional”, afirmou o governador. "O Ceará tinha 200 presos
monitorados por tornozeleiras eletrônicas. Hoje temos mais de 1,2 mil. Temos a
audiência de custódia, como forma de o preso estar à frente da Justiça. Então
são ações que o estado vem mantendo".
“Mas, se não houver uma ação
articulada nacionalmente, com determinação de bloqueadores de celulares em
todos os presídios nacionais, se isso não for uma lei federal, se não tiver
recursos destinados para recuperar os presos e os presídios, dificilmente só os
estados vão conseguir superar os desafios, e sempre haverá de acontecer fatos
como os que aconteceram no Amazonas”, afirmou Santana.
“De fato, nós temos
organizações criminosas dentro dos presídios. Mas o estado e a Polícia Federal
têm feito um monitoramento nos presídios. Muitas ações são evitadas. Tanto é
que o Ceará transferiu mais de 40 presos perigosos para presídios federais.”
Brigas de facções
Várias das mortes no ano
passado foram motivadas por briga de facções. Em Boa Vista (Roraima), dez
presos foram mortos e seis ficaram feridos na Penitenciária Agrícola de Monte
Cristo em 16 de outubro. Um dia depois, em Porto Velho (Rondônia), oito presos
morreram asfixiados em um incêndio na Penitenciária Estadual Ênio dos Santos
Pinheiro.
Entre os casos mais graves,
está o de uma série de rebeliões na Penitenciária Juiz Plácido de Souza, em
Caruaru (Pernambuco), que deixou seis mortes em julho. Dez ficaram feridos.
Pavilhões foram incendiados e a cabeça de um dos presos foi encontrada no lixo.
No presídio, com capacidade para 380 presos, havia 1.922. O estado aparece em
segundo na lista com mais mortes violentas nos presídios em 2016: 43.
A situação tem se repetido
neste ano em alguns estados, como na Paraíba. No Amazonas, a rebelião no Compaj
logo após a virada do ano deixou, além dos 56 presos mortos, mais de 180
foragidos. Foram 17 horas de tensão. A suspeita inicial é que presos que
integram a facção Família do Norte (FDN) tenham atacado membros do Primeiro
Comando da Capital (PCC), em um novo episódio da guerra entre a facção paulista
e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, pela disputa do controle do
tráfico de drogas nacional (entenda a disputa entre as facções e o que ela tem
a ver com a rebelião em Manaus).
Foi a maior matança desde o
massacre do Carandiru, que deixou 111 mortos no presídio paulista em 1992. O
complexo penitenciário, localizado no km 8 da BR 174, que liga Manaus a Boa
Vista, tem capacidade para 454 presos, mas abrigava 1.224. A superlotação era
de 170%.
Após as mortes, o governo do
Amazonas anunciou que a Polícia Militar vai passar a fazer a segurança
permanentemente dentro das penitenciárias, com revistas periódicas, em uma ação
emergencial. Nesta quarta, o coronel Oliveira Filho, adjunto do Centro
Integrado de Comando e Controle (CICC) do governo, afirmou que o plano para
conter uma fuga em massa foi um “sucesso” e citou um plano de contingência
desenvolvido pelo governo, que "sabia da possibilidade de uma convulsão no
sistema prisional".
O Ministério Público de Contas
do Amazonas protocolou no início da tarde desta quarta um pedido ao Tribunal de
Contas (TCE) para que sejam rescindidos os contratos com duas empresas que
administram os presídios do estado. Há indícios de irregularidades como
superfaturamento, mau uso do dinheiro público, conflito de interesses
empresariais e ineficácia da gestão, segundo o MP.
Exceção
De todos os estados, apenas o
Espírito Santo não teve mortes violentas nas prisões no ano passado, segundo o
governo do estado.
Walace Tarcísio Pontes,
secretário de Estado da Justiça do Espírito Santo, disse que o estado vem
reduzindo o número de mortes nos últimos anos e, em 2015, também não registrou
nenhum óbito violento nos presídios. “A raiz de tudo está na atenção. Estamos
com um parque prisional de certa forma pacificado, por conta de atenção mínima.
Alimentação, saúde, educação, temos que ocupar os presos, assistência
religiosa. Isso permite um sistema menos tensionado”, afirmou o secretário.
Sobre as facções, Pontes
afirma que o estado investiu em dispositivos de inteligência atuantes. “É
fundamental. E também são mantidas unidades de segurança máxima para presos com
alta periculosidade. Mas há outras medidas importantes, como as audiências de
custódia e diminuir o excesso de pessoas nas cadeias. Nossa situação não é a
ideal. Mas estamos trabalhando para diminuir o déficit de vagas.” Hoje, o
estado conta com 19,5 mil presos, mas só tem 13,8 mil vagas.
G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Reflita, analise e comente