A ex-governadora Wilma de
Faria pode ficar tranquila: em todas as 280 páginas da sentença do juiz federal
Mario Jambo, o nome dela é citado menos de 10 vezes. Contudo, dentro de casa,
ela tem que abrir o olho: o filho dela, suplente de deputado estadual, Lauro
Maia, foi responsável por um dos maiores esquemas de corrupção já denunciados,
causador de um prejuízo de R$ 36 milhões aos cofres públicos e influenciador,
diretamente, da situação de caos na saúde pública vivida no Rio Grande do
Norte.
“A corrupção é um delito
devastador em relação à credibilidade da Administração Pública. Além do dano moral, causa gigantesco prejuízo
aos cofres públicos e é executado de forma dissimulada e silenciosa. No entanto, em verdade, representa um delito
de extrema violência, da violência indireta, porque faz o sangue respingar
longe, geralmente nas filas dos hospitais públicos, abarrotados e sem
estrutura, ou na supressão das possibilidades e esperanças de futuro para
aqueles que buscam uma escola pública de qualidade”, afirmou o juiz Mario Jambo
em um trecho da sentença que, em poucas horas, ganhou milhares de
compartilhamentos nas redes sociais, demonstrando o quão aguardada era essa
sentença da Operação Higia.
Não era por acaso. A ação de
parceria da Polícia Federal com o Ministério Público Federal, deflagrada em
2008, ganhou rapidamente manchetes dos jornais locais – e nacionais – na época
por levar para a cadeia (prisão temporária) o filho da então governadora, Lauro
Maia. Por envolver diretamente recursos utilizados na saúde pública, o esquema
denunciado teve enorme repercussão e se configurou como um dos principais
escândalos do Governo Wilma.
Isenta da denúncia de
corrupção na época, Wilma não conseguiu livrar o filho, que foi condenado na
sentença de Mario Jambo, publicada na tarde desta quarta-feira (19), a 16 anos
de prisão (pena ainda aguardando confirmação no Tribunal Regional Federal da 5ª
Região para poder ser cumprida). Não foi por acaso: a absolvição de Wilma está
diretamente ligada à atribuição de responsabilidade do filho, uma vez que na
sentença ele é colocado como agente influenciador das decisões da governadora,
como se ela tivesse dado aval ao esquema apenas por ação dele.
“Lauro Maia, como já dito, não
ocupava cargo público no Governo do Estado, mas se valia da sua condição de
filho da então governadora do Estado do Rio Grande do Norte para influenciar
servidores públicos dos mais variados escalões – inclusive sua própria mãe,
como ficou demonstrado no conjunto de áudios transcritos – e ocupantes de
cargos de primeiro escalão da estrutura organizacional do Governo Estadual,
sempre no interesse das empresas com ele previamente acordadas”, afirmou o juiz
federal.
E mais: utilizou, segundo a
Justiça Federal, a residência oficial da governadora, onde Wilma morou até
2010, para comandar a corrupção. “Os fatos estão escancarados nos elementos
produzidos na investigação e na instrução processual: o acusado Lauro Maia
realmente não tinha matrícula, cargo ou contracheque no Governo do Estado do
RN, mas detinha o que nenhum outro secretário ou servidor público tinha, um
escritório dentro da residência oficial da Governadoria, e os autos demonstram
que ele transformou um prédio público em um epicentro de corrupção e de tráfico
de influência”, apontou Mario Jambo.
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