
A decisão de cortar os juros
confirma a expectativa do mercado financeiro. Os analistas, porém, estavam
divididos quanto à intensidade da redução. Parte do mercado previa um corte
para 14% ao ano, enquanto outros estimavam uma diminuição maior, de 0,5 ponto
percentual, para 13,75% ao ano.
Para os economistas dos
bancos, este será o primeiro de uma série de cortes nos juros básicos da
economia. A estimativa é de que o Copom, que se reúne a cada 45 dias,
continuará a reduzir a Selic até setembro de 2017, quando a taxa deverá estar,
pelas previsões, em 11% ao ano.
O aumento dos juros, ou sua
manutenção em um patamar elevado, é o principal mecanismo usado pelo BC para
frear a inflação. Com esse procedimento, o BC encarece o crédito. O objetivo é
reduzir o consumo no país para conter a inflação, que tem mostrado resistência.
Porém, os juros altos
prejudicam a atividade economica e, consequentemente, inibem a geração de
empregos. Quando o Banco Central julga que a inflação está compatível com as
metas preestabelecidas, pode baixar os juros.
Sistema de metas
O Banco Central toma as
decisões sobre a taxa de juros olhando para a frente e tendo como objetivo
cumprir as metas de inflação previstas pelo sistema em vigor no país.
Para 2016, 2017 e 2018, a meta
central é de inflação em 4,5%. Entretanto, o sistema prevê um piso e um teto,
que é de inflação em 6,5%, em 2016, e em 6% em 2017 e 2018.
Isso significa que se a
inflação deste ano, por exemplo, superar o alvo central de 4,5% mas ficar
abaixo de 6,5%, o BC terá cumprido a meta. Entretanto, mercado estima um Índice
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao redor de 7% para 2016.
As decisões da autoridade
monetária sobre a taxa básica de juros surtem efeito pleno em seis a nove
meses. Assim, o BC já está mirando, neste momento, a meta de inflação de 2017,
e não a deste ano.
Explicações do Banco Central
Em comunicado, o Banco Central
informou que a inflação recente "mostrou-se mais favorável que o esperado,
em parte em decorrência da reversão da alta de preços de alimentos".
Além disso, acrescentou que
suas projeões recuaram desde o final de setembro. No cenário de referência, que
pressupõe juros e câmbio estáveis, a previsão do BC para a inflação de 2017 já
caiu para 4,3% - abaixo da meta central de 4,5% do ano que vem.
"No cenário de mercado
[que considera as estimativas dos economistas dos bancos para câmbio e juros],
a projeção para 2017 manteve-se praticamente inalterada em torno de 4,9% e a
projeção para 2018 aumentou para aproximadamente 4,7% – ambas acima da meta
para a inflação para esses dois anos-calendário, de 4,5%", informou o BC.
Crise econômica X inflação
A reunião do Copom aconteceu
em um ambiente de recessão na economia brasileira. Para este ano, a mais
recente previsão do mercado financeiro é de um tombo de 3,2% no Produto Interno
Bruto (PIB), após um recuo de 3,8% ano passado – o maior em 25 anos. Com o
fraco nível de atividade, o desemprego e a inadimplência continuam aumentando.
Embora a queda recente do
dólar contribua para impedir uma escalada maior dos preços, a forte
deterioração das contas públicas atua em sentido contrário. Para este ano, a
previsão é de um déficit de R$ 170,5 bilhões para as contas do governo e, para
2017, a previsão é de rombo de R$ 139 bilhões. Déficits maiores implicam em
mais gastos públicos - que pressionam a inflação.
Os números mostram, porém, que
baixo nível de atividade começou a impactar mais fortemente a inflação nos
últimos meses. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) -a inflação
oficial do país - tem mostrado desaceleração. Em setembro, o indicador somou
0,08%, o menor nível para esse mês desde 1998.
Além disso, outros fatores
também têm influenciado para baixo as expectativas de inflação para os próximos
meses, como a aprovação, em primeiro turno na Câmara dos Deputados, da PEC 241,
que institui um teto para os gastos públicos pelos próximos 20 anos -
contribuindo para diminuir as pressões inflacionárias. A proposta ainda tem de
passar pelo segundo turno na Câmara e pelo Senado Federal. Recentemente, a
Petrobras anunciou também redução do preço da gasolina.
Juros reais e poupança
Mesmo com a redução de juros
promovida pelo Banco Central nesta quarta-feira, o Brasil ainda permanece na
liderança disparada do ranking mundial de juros reais (calculados com
abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses), compilado pelo
MoneYou e pela Infinity Asset Management.
Com os juros básicos em 14% ao
ano, a taxa real soma 8,49% ao ano. Com isso, permanece bem acima do segundo
colocado, que é a Rússia, com 4,27% ao ano, seguida pela Colômbia, com 3,61% ao
ano. Nas 40 economias pesquisadas, a taxa média está negativa em 1,9% ao ano.
De acordo com cálculos da
Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade
(Anefac), mesmo com a redução dos juros para 14% ao ano, os fundos de
investimento continuam mais atrativos do que a poupança, ganhando em rendimento
na maioria das situações.
A poupança continua atrativa
somente para fundos com taxas de administração acima de 2,5% ao ano. Isso
ocorre porque o rendimento dos fundos de renda fixa sobe junto com a Selic. Já
o rendimento das cadernetas, quando a taxa de juros está acima de 8,5% ao ano,
como atualmente, está limitado em 6,17% ao ano mais a variação da Taxa
Referencial (TR).
Consequências do corte de
juros
Segundo economistas, a queda
dos juros poderá ajudar na recuperação da economia brasileira – que atravessa a
maior recessão de sua história – por meio do aumento da confiança dos
investidores e do recuo dos juros bancários. Além disso, poderá resultar em
menos pressões de alta do dólar, contribuindo para impedir a volta da inflação
no futuro. O corte também resultará em pagamento menor de juros pelo setor
público.
De acordo com o
diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional de
Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José
Ribeiro de Oliveira, a queda da taxa Selic não tende a impactar, pelo menos em
um primeiro momento, os juros bancários – que estão em patamar recorde. Mas, se
as reduções persistirem no futuro, poderão pressionar para baixo os juros dos
bancos.
Outra consequência do corte da
taxa Selic pelo Banco Central é a redução nas despesas de juros da dívida
pública. Atualmente, mais de R$ 600 bilhões em dívida em mercado estão
atrelados à taxa básica de juros da economia. Com sua queda, recua também o
pagamento de juros. A estimativa é de que um corte de 0,25 ponto percentual na
Selic reduza essa despesa em R$ 1,5 bilhão em 12 meses.
G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Reflita, analise e comente