As primeiras imagens transmitidas pela New
Horizons do sobrevoo feito de Plutão nesta terça-feira (14) trazem a promessa
de revolucionar nossa compreensão de muitos objetos em nosso sistema planetário
— talvez até a Terra. Mas vamos primeiro nos concentrar no que dá para ver de
cara: montanhas de gelo de água na superfície do planeta anão!
Esse pedaço da superfície fica ao sul da região
do “coração”, que a equipe da sonda da Nasa decidiu batizar de Tombaugh Regio,
em homenagem a Clyde Tombaugh, o astrônomo que descobriu Plutão, em 1930.
A sacada é: não existe nenhuma cratera — pelo
menos que os cinetistas tenham encontrado — nessa imagem, e o planeta anão vive
num cinturão de objetos, o que significa que pancadas devem ser comuns. (Dê uma
olhada na superfície de Ceres, no cinturão de asteroides, para referência).
Isso, e mais as agudas montanhas, com cerca de 3.000 a 4.000 metros de
altitude, sugere que essa superfície é extremamente nova. John Spencer,
cientista da missão, deu um palpite informado de que essas superfícies devem
ter menos de 100 milhões de anos — o que é um piscar de olhos, para um objeto
que tem 4,6 bilhões de anos de idade.
Em resumo: Plutão está geologicamente ativo!
Agora, quer saber o mais empolgante disso? Não
é por força de maré, o mecanismo que se atribui à atividade de mundos como as
luas Europa (Júpiter) e Encélado (Saturno). Como Caronte, a maior lua de
Plutão, está numa órbita circular e ambos mantêm a mesma face voltada um para o
outro, não existe estresse de maré para manter essa atividade. Então, o que
acontece? Quem esqueceu o “motor geológico” de Plutão ligado por 4,5 bilhões de
anos? É um mistério. O mecanismo a impulsionar a geologia de Plutão é desconhecido.
E mais: Caronte também é geologicamente ativo.
Uma imagem mais próxima da lua, revelada hoje, mostra menos crateras do que se
esperava, e terrenos bem lisos — o que implica novos –, além de falhas que têm
toda a cara de tectonismo. Recente. Se pá, o mesmo mecanismo que manteve Plutão
ativo está trabalhando em sua maior lua também.
Spencer apresentou duas possíveis explicações
para a atividade recente, e você vai adorar ambas. Uma é que Plutão tem
suficiente calor emitido por elementos radioativos no seu interior para manter
o motor geológico funcionando. É o que acontece na Terra, e por isso temos
vulcões, terremotos e tudo mais. Só que a Terra é cinco vezes maior. Grande
surpresa. Principalmente porque, no caso de Plutão, o manto é de gelo de água,
e não de rocha, como na Terra. Isso significa que provavelmente há mesmo água
líquida sob a crosta gelada.
E a outra explicação? O calor interno
radioativo do núcleo rochoso já se foi há tempos, mas o oceano interno segue
gradualmente se congelando e, com isso, liberando calor que leva à atividade
geológica na superfície.
A implicação disso é que não só Plutão é um
lugar incrível, mas os geofísicos terão muito trabalho pela frente para
explicar por que suas explicações atuais para o calor interno de planetas não
se encaixam aos fatos.
Mensageiro Sideral UOL
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