Ainda é de triste memória os
anos finais da administração Aldo Tinoco à frente do Município de Natal.
Pensávamos todos que nada pior poderia acontecer. E eis que nos deparamos com
algo mais prejudicial, mais triste, mais trágico, que causa a todos nós raiva e
indignação.
Se àquela época consideramos
ruim ficar meses sem receber salário, recebendo-o depois de forma parcelada,
pelo menos tínhamos o consolo de que o descaso não atingira o funcionamento das
escolas, concluindo-se o ano letivo como planejado, os alunos não foram vitimas
da situação.
Há tempos li em algum lugar a
máxima de que "médico quando erra, mata; professor quando erra,
aleija". Modificando o dito, podemos afirmar que gestão pública quando
erra, mata. Mata de forma real, haja vista a situação da saúde e da limpeza
pública, e de forma metafórica, considerando a situação por que passam as
escolas municipais.
É lugar comum culpabilizar
professor como o fator por que a Educação não apresenta melhores resultados na
aprendizagem. É verdade que somos resistentes a nos ver como parte do processo,
quando este não mostra excelência. Contudo, também é verdadeiro o fato de que
podemos ser verdadeiros educadores quando se trata de fazer o nosso aluno
superar as dificuldades, quando tiramos do bolso recursos que deveriam ser
destinados pelo poder público.
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O poder público que
vergonhosamente falhou, que fez uma opção em não priorizar a melhoria de uma
rede de ensino, embora pequenos oásis despontem em meio ao caos, como a maior
oferta de vagas na Educação Infantil. Entretanto, o Ensino Fundamental e a
Educação de Jovens e Adultos amargaram reveses, como a não ampliação do número
de escolas, a agonia de ver a oferta de vagas ser menor que a demanda, quadras
deterioradas, chão sem teto e tetos a céu-aberto, uma evasão incontida.
O que ate então era sagrado, a
merenda dos alunos, o pagamento de salário aos trabalhadores, o envio de
recursos às escolas, tomou-se uma falácia até resultar na impossibilidade de se
concluir um ano letivo dentro da normalidade para se cumprir integralmente os
200 dias com alunos, professores, equipe gestora e funcionários empenhados em
uma rotina escolar.
Indignados com o descaso,
somos adultos e haveremos de superar esse desfecho, como já superamos a ação
truculenta da polícia em movimento grevista, as gestões autoritárias por
apadrinhamento político desprovidas de conhecimento técnico-pedagógico. E
nossos alunos, como diminuir-lhes o prejuízo?
Não nos enganemos. Nossa boa
vontade não resgatará o conhecimento, ainda que este possa ser reapresentado
nas aulas do próximo ano. Atividades vivenciais não bastam; sem o ato
presencial, o conteúdo se mostra fragmentado, tão somente um ato de responder,
preencher, completar. Sem querer discriminar, somos realistas de que a maioria
de nossos alunos não tem múltiplas formas de pesquisa, nem sempre suas famílias
podem ajudar na resolução das atividades propostas, restando-lhe a presença
cotidiana do professor com suas orientações. Para alguns a merenda ainda é uma
de suas principais refeições!
É a esse aluno que o poder
público com suas peripécias prejudicou. Se seu direito às aulas foi
prejudicado, foi igualmente usurpado o seu direito de cidadão. Consumou-se o
que tanto é difundido de forma sociológica: a educação não é prioridade, um
povo instruído incomoda, porque pensa, porque ler, ao ler, escrever e pensar se
toma agente de transformação, não sendo passivo aos desmandos do poder.
Se não pudemos exercer a
profissão de ensinar pela falta de escola, ainda que prédios haja, podemos, no
entanto, ficar orgulhosos da lição dada pela mesma gestão que tão
desastradamente nos desamparou. É necessário cuidado, extrema atenção em quem
votamos, é preciso ficar atento às ações dos gestores públicos, E essa deve ser
a primeira lição em 2013.
Autor(a): Ednice Peixoto -
Presidente do Conselho Municipal de educação de Natal
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