A recente onda de violência
entre integrantes de facções rivais em todo o Estado – inclusive com mortes –
podem representar um processo gradativo de extinção das torcidas organizadas,
no Rio Grande do Norte. O Ministério Público está investigando os casos
registrados nos últimos 12 meses, envolvendo possíveis “rixas” entre as
uniformizadas. O promotor de justiça José Augusto Peres é categórico ao falar
sobre o assunto. Para ele, as 14 mortes registradas no ano passado e os
atentados registrados já neste ano entre torcedores são elementos concretos
para que o MP possa pedir o fim das uniformizadas nos estádios. “Esses
elementos começam a surgir, principalmente com o trabalho feito pela delegada
Alzira Veiga”, destaca.
Segundo Augusto Peres, o
processo para a extinção dessas torcidas vai depender das provas que surgirão
após a conclusão do inquérito da 10ª Delegacia de Polícia de Natal, que
investiga a morte do estudante Flávio Augusto da Costa Leandro, de 17 anos, em
novembro do ano passado. Ontem, a delegada titular, Alzira Veiga, deflagrou a
Operação “Clássico Rei”, que culminou na prisão de dez integrantes da Tradição,
Motivação e Vibração – TMV (antiga Máfia Vermelha, extinta pela justiça).
O grupo é apontado como
responsável pela morte de Flávio August, assassinado a tiros na noite do dia 15
de novembro de 2013, em Neópolis, zona Sul de Natal. E é exatamente esse caso o
que pode decretar a extinção das torcidas. “Vamos aguardar a finalização do
inquérito para termos mais elementos. Mas o processo para extinção pode até ser
feito mais rápido, desde que tenhamos essas provas antes da finalização do
inquérito. Não podemos responsabilizar de imediato essas organizações pelas
mortes recentes, mas tudo indica que o caminho é esse”, afirmou o representante
do MP.
Contudo, o promotor alerta que
o ato de acabar com as facções tem consequências. Peres comenta que sem a
divisão entre “torcedores comuns” e “torcedores organizados” pode ser que surja
uma espécie de proteção para os criminosos que utilizam um nome de uma
organização para cometer crimes. Com a extinção em questão, os órgãos
competentes – Polícias Civil e Militar, MP, Poder Judiciário – ganham
responsabilidade no combate ostensivo para evitar a ação desses criminosos.
“É preciso manter o trabalho
policial. Com o fim das torcidas organizadas a violência vai acabar? Não vai.
Por isso nos exigirá mais atenção porque no momento em que se acaba com essas
instituições, fica mais difícil a identificação dos marginais que se aproveitam
para agir, hoje, usando o nome de uma torcida”, alertou o promotor.
O MP vem fazendo um trabalho
investigativo tentando interligar os crimes envolvendo possíveis rixas entre
torcidas, de acordo com Augusto Peres, ao contrário da Polícia Civil. De acordo
com o delegado geral adjunto, Adson Kepler, a Civil trabalha isoladamente cada
caso. “A Polícia Civil vem num trabalho de investigação sigilosa quanto a esses
casos. Cada delegacia distrital faz esse trabalho que vimos nessa operação”,
disse.
Para o presidente do Conselho
Estadual de Direitos Humanos, Marcos Dionísio, é possível erradicar a violência
entre torcidas. “No geral, os crimes não são solucionados, e quando são, não
passamos de medidas socioeducativas. Esse é o problema. Por isso essa prisão é
um fio de esperança para que o reino da impunidade no RN tenha um fim. Acho que
para evoluirmos, é fundamental a criação da Divisão de Homicídios”, opinou
Dionísio.
Flávio Augusto foi morto em
novembro, após jogo do ABC
O adolescente Flávio Augusto
da Costa Leandro, 17, foi morto próximo à passarela de Neópolis. Ele voltava
para casa com mais dois jovens, um deles seu irmão, depois de saírem do Estádio
Frasqueirão. O jogo era ABC e ASA de Arapiraca, pelo Campeonato Brasileiro da
Série B, realizado no dia 15 de novembro de 2013. Todos estavam utilizando
camisas ou algum acessório do clube potiguar.
Por volta de 21h, o grupo se
encaminhava para casa, às margens da BR-101, quando um carro de cor preta se
aproximou do e um de seus ocupantes efetuou disparos. Todos foram atingidos e
levados para o Pronto-socorro Clóvis Sarinho. Segundo as investigações, Flávio
não tinha envolvimento com torcidas organizadas e não costumava ir ao estádio.
Aquela era apenas a segunda vez que o rapaz frequentara um estádio. Seu irmão e o amigo sobreviveram, mas Flávio
morreu no hospital.
A outra morte por suposto
envolvimento com torcidas aconteceu no loteamento José Sarney, em Lagoa Azul,
na zona Norte. O caso foi registrado na mesma noite. Quatro jovens com camisas
do ABC voltavam para casa quando foram surpreendidos por disparos de arma de
fogo, na Avenida Apucarana. Os tiros vieram de um carro que passou pelo grupo.
Ismael Aprígio Teixeira, 18, foi socorrido, juntamente com seus colegas, mas
não resistiu aos ferimentos.
Neste ano, em três
oportunidades, desde a abertura da Arena das Dunas, torcedores do América foram
alvos de atentados antes e depois de jogos do clube. O último ocorreu no dia 9
deste mês, quando três torcedores de uma organizada do América foram atacados
por dois homens detidos pela Polícia Militar e que se identificaram como
integrantes de uma facção do ABC.
Tribuna do norte
Tribuna do norte
É colocar pra trabalhar pesado pra se manter num presidio no pé de uma serra, sem direito a ventilador e tomar só um banho por dia. Ai sim os outros tinham medo de fazer o mesmo.
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