O Banco do Brasil já fechou
185 das 402 agências bancárias previstas para encerrar as atividades até março
de 2017. A redução da estrutura física de atendimento faz parte do plano de
reestruturação anunciado pelo banco em novembro de 2016. Um mês antes, a
instituição já havia comunicado o fechamento de 51 agências.
A reestruturação também prevê
a transformação de 379 agências em postos de atendimento e a extinção de 31
superintendências regionais. Apenas com a reorganização, o Banco do Brasil espera
economizar cerca de R$ 750 milhões, recursos que a instituição planeja investir
parcialmente na expansão e melhoria do atendimento digital. Segundo o banco, o
número de correntistas que usam computadores e celulares para realizar
operações bancárias básicas é cada vez maior, e a economia com o
redimensionamento da estrutura física permitirá que as operações sejam
readequadas conforme o novo perfil dos clientes.
O banco planeja abrir 255
escritórios e agências de atendimento digital ainda este ano. Atualmente, há
245 unidades digitais em funcionamento, que atendem a 1,3 milhão de clientes,
com expectativa de chegar a 4 milhões até o fim de 2017. Segundo o Banco do
Brasil, além de mais eficiente e rentável para a instituição, o novo modelo tem
sido aprovado pelos clientes, que têm consumindo até 40% mais produtos e
serviços do que nas agências físicas.
Clientes sem aviso
De acordo com o banco, os
clientes das agências a serem fechadas são avisados previamente por meio de
correspondência e mensagens de celular, cartazes afixados nas agências, contato
dos gerentes de contas e também pelos terminais de autoatendimento. No entanto,
em apenas meia hora diante de uma das 17 agências já fechadas em Brasília
(outras três terão o mesmo destino até o próximo dia 19), a reportagem Agência
Brasil testemunhou a surpresa de várias pessoas diante do cartaz afixado na
porta.
Cliente da agência da 502 Sul
desde 1997, o paisagista Gilson Silva lamentou ter que passar a gastar mais
gasolina e tempo para se deslocar até a agência mais próxima. “Todo começo de
mês eu venho ao banco pagar contas, providenciar o pagamento dos funcionários e
fazer outras coisas que não faço pela internet. E tinha escolhido essa agência
justamente em função da proximidade”.
Moradora de um prédio quase em
frente à agência, Marlene Moura estava viajando quando a agência encerrou as
atividades, no último dia 28. Só hoje (14), ao passar em frente ao prédio
desocupado e ver os avisos, soube do fechamento. “Essa agência vai fazer muita
falta. Principalmente porque nessa área há muitos idosos e a alternativa mais
próxima fica em uma área não muito segura.”
Administradora Anna Paula
Barros disse que não recebeu nenhum aviso sobre o fechamento da agência da qual
é correntista há muitos anos – apesar de frequentar o local cada vez menos
desde que passou a usar os serviços digitais do banco. “Recebi sim uma mensagem
para procurar minha agência, mas que não dizia nada sobre o fechamento ou para
onde minha conta seria transferida. Hoje vim até aqui, mas estou sem saber
sequer onde fica minha agência. Vamos ver que orientação vão me dar nesses
telefones de contato.”
Já o comerciante Valdex Paulo
Silva, dono de uma loja de reparos de televisores vizinha ao antigo banco disse
pensar em transferir sua conta para uma instituição privada. “Mudei para o
Banco do Brasil há muitos anos exatamente porque o banco onde eu tinha conta
antes fechou a agência que funcionava aqui perto. Agora, estou pensando em ir
para outro que fica no fim da quadra. Uso bastante o aplicativo para celular,
mas tem coisa que prefiro resolver presencialmente.”
Trabalhadores
Segundo o secretário-geral da
Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Carlos de
Souza, a reestruturação do Banco do Brasil feita “às pressas” causou não só
transtornos desnecessários para os clientes e muitos comerciantes, como é
motivo de preocupação para os empregados da instituição. Em várias partes do
país, sindicatos dos bancários afirmam receber queixas de funcionários que
alegam ter sido transferidos para outras agências sem aviso prévio.
“As novas tecnologias exigem
uma readequação e o banco tem autonomia para tomar decisões administrativas,
mas as justificativas para a reestruturação são reducionistas e imediatistas.
Muita gente continua indo às agências bancárias, onde a qualidade do
atendimento tende a piorar”, disse Souza. “O país ainda não dispõe de acesso à
internet de qualidade que justifique fazer uma reestruturação assim às pressas,
em poucos meses. Isso poderia ser feito gradualmente, minimizando os impactos e
evitando prejuízos aos trabalhadores e aos clientes.”
Para Souza, a reestruturação
nacional e medidas como a redução da presença no exterior a título de reforçar
o capital da instituição tendem a “apequenar” o Banco do Brasil. O
secretário-geral da Contraf argumenta que a presença de agências bancárias em
pequenas cidades contribui para o dinamismo da economia local, facilitando o
acesso da população às linhas de crédito e financiamentos.
“Na verdade, são 781 agências
bancárias que estão sendo fechadas. Na maioria dos casos, transformar agências
em postos de atendimento é a mesma coisa que fechá-las, pois esses postos não
têm autonomia: não operam linhas de crédito e financiamento, têm apenas caixas
eletrônicos e, quando muito, um único funcionário”, comparou.
O Banco do Brasil garante que
nenhuma cidade onde a instituição atua ficará desassistida, pois contará com ao
menos um posto de atendimento. A instituição também se compromete a transferir
os funcionários das agências fechadas para locais preferencialmente próximos.
A pedido das entidades que
representam os funcionários, o Ministério Público do Trabalho (MPT) está
acompanhando a reestruturação de perto. A Coordenadoria Nacional de Combate às
Irregularidades Trabalhistas na Administração Pública (Conap), do MPT, já
promoveu duas audiências de mediação com representantes de entidades sindicais
e do banco e tem uma terceira agendada para o dia 2 de março.
Segundo o coordenador da
Conap, procurador Cláudio Gadelha, a reestruturação do Banco do Brasil tem
impacto não só para os empregados da instituição, mas para toda a sociedade.
Apesar dos transtornos, não há, até o momento, segundo ele, ameaça de
demissões.
“Estamos diante de uma nova
realidade e o banco tem todo o direito de fazer essas mudanças. O papel do MPT
é atuar para diminuir eventuais impactos negativos na vida dos trabalhadores e
não questionar judicialmente a reestruturação. Mesmo assim, não tenho dúvidas
de que há sim um grande prejuízo para a sociedade como um todo. [Os efeitos]
para o banco, só o tempo dirá.”
Informações
Os clientes do Banco do Brasil
que tiverem dúvidas sobre o fechamento de agências podem obter informações
pelos números 4003-5282 ou 0800 729 5282, para pessoas físicas, e 4003-5281 ou
0800 729 5281 para empresas. A Central de Atendimento funciona de segunda a
sexta-feira, das 8h às 22h.
Agência Brasil
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