
A PEC 50/2016 muda o artigo
225 da Constituição, que trata do meio ambiente, para descaracterizar a prática
de crueldade associada ao esporte. O texto foi apresentado em outubro de 2016,
logo após a decisão do STF. No julgamento de ação do Ministério Público contra
a lei que regulamentava as vaquejadas no Ceará, o relator, ministro Marco
Aurélio, considerou haver “crueldade intrínseca” contra os animais.
De acordo com a PEC, não serão
consideradas cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que
sejam manifestações culturais previstas na Constituição e registradas como
integrantes do patrimônio cultural brasileiro. A condição para isso é que sejam
regulamentadas em lei específica que garanta o bem-estar dos animais.
Defesa
A matéria foi aprovada com
várias manifestações favoráveis de senadores, especialmente os do Nordeste.
Quase todos os líderes de bancada encaminharam a votação favorável à matéria.
As exceções foram o PT, que liberou a bancada, e a Rede Sustentabilidade, que
orientou o voto contrário.
Apesar de reafirmar seu
respeito pelo STF, o autor do texto, senador Otto Alencar (PSD-BA), citou os
prejuízos causados pela decisão. Ele explicou que a cadeia da vaquejada engloba
produtores de ração e feno, vaqueiros, tratadores, produtores de couro,
artesãos que fazem selas e arreios. Além deles, também estão envolvidos no
processo os produtores de festas, os ambulantes que vendem alimentos nesse tipo
de evento, os donos de haras e as empresas de leilões.
“A vaquejada expandiu-se por
todo o Brasil e hoje tem uma cadeia produtiva que deve empregar, entre empregos
diretos e indiretos, algo em torno de um milhão de trabalhadores. Nesse
período, desde que houve a decisão do Supremo, muitas Vaquejadas foram
canceladas de forma abrupta”, lamentou.
Raimundo Lira (PMDB-PB) fez um
apelo aos senadores para que votassem a favor da PEC. O senador disse que o
Nordeste enfrenta o sexto ano consecutivo de seca e que a região precisa do
apoio do resto do país.
A pedido de Otto Alencar, o
presidente do Senado, Eunício Oliveira, foi substituído na presidência da
sessão para que pudesse registrar seu voto favorável à PEC, que disse
considerar importante para a cultura nordestina.
Sofrimento
A líder do PT, senadora
senadora Gleisi Hoffman criticou o texto. Para ela, o que a PEC faz é dizer que
esportes considerados Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade não causam
maus-tratos, ainda que, na prática, causem. A senadora lembrou que mesmo no
abate de animais para a alimentação já se procura minimizar o sofrimento dos
animais. Para ela, não se justifica maltratar um animal apenas para a diversão
humana.
Gleisi levou fotos ao Plenário
e citou os danos causados aos bois que são usados no esporte, como fraturas nas
patas, arrancamento de cauda, ruptura de ligamentos e de vasos sanguíneos, e
comprometimento da coluna vertebral. Ela também contestou os argumentos de que,
se esportes como o MMA machucam humanos, seria normal a vaquejada machucar
animais.
“Os seres humanos lutam o MMA,
telecatch, boxe porque têm livre arbítrio, porque querem, porque entram na
arena para fazê-lo. Não são colocados para fazê-lo sob força, para dar diversão
aos seres humanos”, contestou a senadora.
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB),
Armando Monteiro (PTB-PE) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) citaram aprimoramentos
no esporte que procuram garantir a integridade física dos animais. Para eles, as
vaquejadas regulamentadas não trazem mais os danos que as antigas competições
do gênero causavam aos bois.
Eles afirmaram que há
evoluções e defenderam a regulamentação do esporte para que não haja exageros e
nenhum tipo de maltrato aos animais.
Cultura
A questão cultural foi
lembrada por Roberto Muniz (PP-BA). O senador explicou que a vaquejada aglutina
diversas outras manifestações culturais, como o repente, o cordel e a música
nordestina. Na opinião do senador, não é possível deixar morrer algo que surge
da população mais pobre e que faz parte da raiz do orgulho nordestino.
“É por isso que nós temos aqui
que pedir aos Senadores que não fiquem de costas, não façam o que muitos fazem:
esquecer a importância da nossa raiz, a raiz da cultura, que vem do interior e
dos grotões. É claro que os empregos são importantes, é claro que a economia é
fundamental, mas tão fundamental quanto o emprego e a economia é deixar pujante
a cultura popular”, afirmou.
Apenas a Rede Sustentabilidade
fechou posição contrária ao texto. O líder do partido no Senado, Randolfe
Rodrigues (Rede-AP), leu uma nota em que a Rede critica o esporte. Na nota, o
partido afirma que não pode haver cultura no sentido positivo e justo quando se
aceita a violência contra os animais. Este seria, de acordo com o texto do
partido, o primeiro passo para o desrespeito à vida humana.
“Minha origem é nordestina,
tenho parentes nordestinos, e respeito, inclusive, parentes que assim pensam e
quem pensa diferentemente, mas há de se distinguir aqui o que é cultura do que
é, de fato, a prática reiterada de maus-tratos aos animais” argumentou o
senador.
Agência Senado
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