
O diretor geral da Aneel,
Romeu Rufino, admite que deve abrir uma audiência pública para reavaliar o
instrumento da bandeira tarifária. Atualmente, a metodologia considera o valor
do Custo Marginal de Operação (CMO) para o próximo mês, mas o executivo
considera que esse valor é muito volátil e defende que também seja considerado
o nível de armazenamento. “É o que mais importa, olhando para o futuro, qual é
de fato a condição de atendimento da carga.”
Segundo Rufino, isso poderia
evitar uma bandeira verde como a observada em meados do ano, quando já se
esperava uma hidrologia desfavorável durante o período seco e um forte consumo
dos reservatórios. A nova metodologia, disse ele, deve entrar em vigor no ano
que vem.
Abaixo
A Aneel afirma que a receita
proveniente das cobranças adicionais de bandeiras tarifárias não serão
suficientes para cobrir os custos extraordinários com o risco hidrológico e a
geração termelétrica que se observa neste ano, o que tende a influenciar os reajustes
tarifários do próximo ano.
Somente entre janeiro e agosto
de 2017, o risco hidrológico já custou R$ 7,6 bilhões, segundo levantamento
feito pela TR Soluções, com base em números divulgados pela Aneel, e a
tendência é de um crescimento expressivo nos meses sucessivos, tendo em vista a
piora do cenário hídrico e a consequente elevação dos preços da energia no
curto prazo.
Por outro lado, a arrecadação
com as bandeiras tarifárias não deve alcançar, em todo ano de 2017, sequer o
custo com esse risco hidrológico. Nos oito primeiros meses, segundo a Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a arrecadação com as bandeiras
somou R$ 1,78 bilhão.
“Nem mesmo o acionamento da
bandeira vermelha patamar 2 até o fim do ano seria suficiente para cobrir todo
o custo”, afirma o gerente Comercial e de Novos Negócios da TR, Helder Sousa.
Pelos cálculos da TR Soluções,
o montante obtido com as cobranças extras na tarifa somaria cerca de R$ 7,5
bilhões se fosse acionada a bandeira vermelha patamar 2 entre agosto e
dezembro. Mas em agosto, a bandeira foi vermelha no patamar 1, e em setembro a
bandeira foi amarela.
No segundo nível de
acionamento da bandeira vermelha, os consumidores pagam R$ 3,50 a cada 100
quilowatt-hora (kWh) consumidos. No nível 1, a cobrança extra é de R$ 3,00 a
cada 100 KWh e a bandeira amarela, que vigorou em setembro, por exemplo,
adiciona R$ 2,00 a cada 100 KWh.
Repasse
Quando a receita com as
bandeiras tarifárias não é suficiente para cobrir os custos, as distribuidoras
arcam com compromisso e, no momento do reajuste, o saldo dessa conta entra no
cálculo da tarifa, resultando em aumento de conta de luz para o usuário.
Para o ano que vem, a
matemática aponta para um forte movimento de alta nos preços da tarifa. Somente
a Light, distribuidora carioca, um exercício feito pela TR Soluções mostrou tem
balanço desfavorável de R$ 455,9 milhões. Com isso, se ocorresse um reajuste
tarifário em setembro, o passivo, descontados os valores já adiantados na
tarifa (de R$ 389,59 milhões até agora), se refletiria em um impacto tarifário
de 1,84%.
A consultoria fez o mesmo
exercício para outras importantes distribuidoras do País e identificou um
impacto tarifário hipotético de até 3,06%, no caso da Copel, ou de 2,75% para
Eletropaulo e de 1,88% para a Cemig, considerando que as distribuidoras teriam
reajuste em setembro. Vale salientar, no entanto, que como os aumentos nas
tarifas são determinados em períodos distintos, esses números não servem de
referência para um aumento futuro.
Bandeira vermelha
A permanência de um quadro de
fracas chuvas até esta semana, como as observadas até agora em outubro, deve
levar o País a enfrentar mais uma vez a bandeira vermelha patamar dois, que
adiciona R$ 3,50 à conta de luz a cada 100 quilowatt-hora (KWh) consumidos.
“A continuar com o mesmo
desenho que temos até agora, aponta para a manutenção da bandeira vermelha
patamar dois”, disse Romeu Rufino, na semana passada, para jornalistas.
Ele comentou que o cenário
hidrológico do País permanece desfavorável e em outubro se observou o atraso do
início do período úmido nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, com o
registro de chuvas abaixo da média histórica, o que não permitiu qualquer
melhora nas condições de armazenamento dos reservatórios. “A expectativa é que
novembro possa finalmente o período úmido entrar na normalidade”, disse.
Ainda assim, ele salientou que
como os preços que determinam o acionamento das bandeiras é volátil, se houver
um volume de chuva importante nos próximos dias, o modelo considera essa
precipitação e reproduz para frente, ainda que o cenário não seja verdadeiro, o
que pode influenciar na definição da bandeira de novembro.
Estadão Conteúdo
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