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O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva - Sérgio Lima / AFP/9-10-17
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O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva afirmou que a ex-presidente Dilma Rousseff "traiu o
eleitorado que a elegeu" em 2014, quando anunciou que faria um ajuste
fiscal. A declaração foi dada ao jornal espanhol "El Mundo", em
entrevista publicada neste domingo. De acordo com Lula, este foi um dos erros
cometidos por sua sucessora na Presidência.
— O segundo erro (do governo)
veio quando a presidente anunciou o ajuste fiscal e traiu o eleitorado que a
elegeu em 2014, ao qual tínhamos prometido que manteríamos os gastos. Assim
começamos a perder a credibilidade — afirmou o ex-presidente, que em seguida
comparou o ano de 2015 com 1999:
— O ano de 2015 foi muito
parecido com 1999, quando Fernando Henrique Cardoso tinha popularidade de 8% e
o país tinha quebrado três vezes. No entanto, nesta ocasião o presidente da
Câmara era Michel Temer, que o ajudou a governar. Nós (do PT) tínhamos Eduardo
Cunha (como presidente da Câmara em 2015), que se encarregou de barrar cada
reforma que Dilma propunha. Foi ele quem levou adiante um processo ilegítimo de
impeachment. Tínhamos um inimigo em casa.
Lula também fez críticas à
política de desonerações de empresas durante o mandato de Dilma. Segundo o
ex-presidente, esse foi o maior erro da petista.
— Claro que falhamos. Nosso
maior erro foi exagerar na política de desonerações das grandes empresas. O
Estado deixou de arrecadar para dar aos empresários, e em 2014 saía mais
dinheiro do que entrava. Entre 2011 e 2014 se desonerou R$ 428 milhões. Quando
Dilma tentou acabar com essa ajuda, o Senado não permitiu — disse.
Confira abaixo outros trechos
da entrevista:
ARREPENDIMENTO POR 2014
Não me arrependo (de não ter
sido candidato em 2014), porque antes de tudo sou leal à democracia e à Dilma
Rousseff. Ela era a mandatária e tinha o direito de ser reeleita. Não sou o
tipo de pessoa que se lamenta. Temos que olhar para frente. Quero voltar a ser
presidente para mostrar ao mundo que o Brasil pode funcionar.
FÓRMULA PARA RECUPERAR O PAÍS
O Brasil tem que voltar a ser
governado pensando na maioria, e não em alguns poucos. Por isso, o primeiro que
penso é implementar um referendo revogatório de muitas medidas aprovadas pelo
Michel Temer. É criminoso ter uma lei (do teto de gastos) que limita durante 20
anos a possibilidade de inversão do Estado. No Brasil faltam coisas básicas
como saneamento, tratamento de água.
MERCADO REAGE BEM A TEMER
Claro, pretendem privatizar o
país. Só temos que ver o que querem fazer com a Petrobras. O petróleo era nosso
passaporte para o futuro. Se o vendem, nos deixam sem soberania. É uma pena que
destruam assim nossa empresa.
DIZEM QUE CORRUPÇÃO DESTRUIU A
PETROBRAS...
Coloquemos que tenha sido
assim. Que prendam todos os corruptos, mas não quebrem a empresa e acabem com o
trabalho de milhares de pessoas.
CONDENAÇÃO x CANDIDATURA
Não há ninguém que saiba
cuidar do povo mais necessitado como eu. Conheço suas entranhas, como vivem, o
que precisam. Se pensam que uma condenação vai me tirar a ideia de ser
candidato, conseguiram o efeito contrário. O julgamento ao qual estou submetido
é uma farsa. Nem a Polícia Federal nem o Ministério Público encontraram provas
para me acusar, por isso digo que a sentença do juiz Sergio Moro é
eminentemente política. Num primeiro juízo, diziam que eu tinha apartamento
numa praia e que lá tinha dinheiro da Petrobras. Quando entramos com um
recurso, o mesmo juiz que me condenou (Moro) depois disse que nunca tinha dito
que o apartamento era meu e que era dinheiro da Petrobras. Então, se não é meu
nem tem dinheiro da Petrobras, por que me condenaram? A única resposta que
tenho é que fazem isso porque são reféns da imprensa. Hoje no Brasil os meios
(de comunicação) têm mais poder do que o Ministério Público e, pela primeira
vez, um juiz se comporta de acordo com a opinião pública. Encontraram dinheiro
na casa do (senador) Aécio Neves, do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio
Cabral, do ex-ministro Geddel Vieira Lima. Mas, na minha casa, nada. Revistaram
contas de bancos de todo o mundo para encontrar algum desvio de dinheiro e
nada. Mas de manhã, de tarde e de noite, a imprensa me destrói e se nega a
publicar que não há provas contra mim.
PT: APOIO INCONDICIONAL A
MADURO
Não dou nenhum apoio
incondicional. Há muitas coisas que não estou de acordo com Maduro, e também
com presidentes de outros países. Defendo para a Venezuela o mesmo que defendo
para o Brasil, e é que discuta seus assuntos sem a ingerência externa. Não
entendo por que a Europa se preocupa tanto com Maduro, que, afinal, foi eleito
democraticamente. Os venezuelanos terão que resolver seus problemas entre eles.
E QUANTO AO TRUMP?
Sou muito cuidadoso ao
analisar as pessoas. Posso dizer que me surpreende que o presidente de um país
do tamanho e da importância dos Estados Unidos se ponha a falar de tudo. Há
coisas que tem que um funcionário do Estado tem que dizer. Um secretário...
Talvez (ele fale de tudo) porque acabou de chegar e tem coisas para aprender.
Mas não se pode governar o mundo pelo Twitter.
O Globo
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