Após quase 70 horas de
rebelião, os cerca de 180 presos da Casa de Custódia de Curitiba libertaram
três dos quatro agentes penitenciários mantidos como reféns desde o fim da
tarde do último domingo (1º).
Segundo o Departamento
Penitenciário do Paraná (Depen), os agentes têm ferimentos leves e, tão logo
foram libertados, foram encaminhados para um hospital próximo, onde, por
precaução, receberam atendimento médico.
Ainda de acordo com o Depen,
os detentos se comprometeram a liberar o último agente penitenciário na manhã
desta quinta-feira (5), concluindo as negociações com especialistas do Batalhão
de Operações Policiais Especiais (Bope).
A rebelião começou por volta
das 18h de domingo, quando os agentes penitenciários foram rendidos ao fazer a
contagem dos presos da Galeria 1. A Seção de Operações Especiais do sistema
prisional estadual conseguiu evitar que o tumulto se espalhasse para as outras
duas galerias da Casa de Custódia, mas não conseguiu impedir que cinco agentes
terminassem em poder dos detentos. O primeiro foi libertado poucas horas
depois, com ferimentos leves.
Em um vídeo gravado pelos
detentos e divulgado ontem (3) nas redes sociais, dois agentes feitos reféns
aparecem algemados e cercados por custodiados armados com facões e objetos
perfurantes. Um dos agentes pede que as autoridades apressem as negociações e
reclama da iniciativa do governo estadual de cortar o fornecimento de luz, água
e comida para os presos em meio às negociações. Com escoriações no rosto, o
agente classifica a ação de “idiota” e pede que a situação seja levada a sério.
A seu lado, outro gente permanece calado, imóvel, com um facão contra o
pescoço.
Mais cedo, o presidente da Comissão
de Direitos Humanos da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no
Paraná, alexandre Salomão disse à Agência Brasil que a ausência de lideranças
entre os rebelados têm dificultado a conclusão das negociações. Segundo o
Depen, menos de 200 dos 600 detentos abrigados na Casa de Custódia de Curitiba
participam da rebelião, restrita à Galeria 1 do estabelecimento. Segundo
Salomão, a maioria não tem ligação com facções criminosas.
Já o vice-presidente do
Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen), José Roberto das
Neves, declarou à Agência Brasil que a rebelião na Casa de Custódia da capital
paranaense reflete a precariedade do sistema prisional. “As condições de nossas
prisões são péssimas e episódios como este tendem a se repetir se o governo não
encontrar alternativas à política de superencarceramento”, disse Neves.
Nem a Secretaria de Segurança
Pública e Administração Penitenciária, nem o Departamento Penitenciário
comentaram as críticas de Neves. As autoridades paranaenses também evitam
comentar as reivindicações dos detentos, mas tanto Salomão quanto Neves afirmam
que a principal queixa dos presos diz respeito à transferência de custodiados
para outras unidades prisionais estaduais onde, segundo eles, os membros de
organizações criminosas são maioria. Os presos alegam que a rebelião foi a
forma de exigir que os transferidos fossem trazidos de volta à Casa de Custódia
de Curitiba ou que, no mínimo, ficassem em alas onde não corressem risco de
morte.
De acordo com o Depen, uma
tentativa de fuga foi registrada na Casa de Custódia de Piraquara, na região
metropolitana de Curitiba. Por volta das 14h, três detentos mantidos isolados
nas chamadas shelters (células modulares) existentes na unidade, mas foram
capturados por agentes da Seção de Operações Especiais do sistema prisional
estadual. Segundo o Depen, a situação já está normalizada e não há informação
sobre feridos.
Agência Brasil
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