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Foto: Nasa/JPL-CalTech/ASU
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Desde que a sondas Pionner 10
e 11 visitaram os gigantes gasosos na década de 1970, a maior lua de Saturno,
Titã, é um dos lugares mais estudados do Sistema Solar. Isso porque, nas
imagens das duas sondas, nenhum detalhe de sua superfície pode ser visto. Tudo
bem que as câmeras eram meio tosquinhas até em comparação com outras de sua
época, mas outras luas revelaram características de suas superfícies. Em vez de
crateras e penhascos, Titã exibia uma pálida coloração amarela-alaranjada.
A conclusão, depois confirmada
pelas sondas Voyagers, era que Titã é coberta por uma espessa atmosfera. A
única lua do Sistema Solar a ter uma atmosfera densa. Foi por esse motivo que a
sonda Voyager 1 foi planejada para fazer um sobrevoo exclusivo em Titã, abrindo
mão de todo o resto do Sistema Solar exterior. Essa tarefa acabou ficando para
sua irmã gêmea, a Voyager 2.
Quando a Nasa decidiu por uma
missão a orbitar Saturno, uma das missões principais da sonda Cassini foi
estudar Titã fazendo diversos sobrevoos. Nessas rasantes, a sonda utilizou seu
radar para penetrar na atmosfera e mapear o solo do satélite. Além disso, seus
instrumentos no infravermelho também ajudaram a entender o que havia por baixo
das nuvens.
A atmosfera de Titã é composta
basicamente por metano e nitrogênio e sua pressão chega a ser 45% maior do que
a pressão atmosférica. Sendo densa assim, seria possível manter algumas
substâncias em estado líquido. Não há água, já que a temperatura por lá é de
-180 graus Celsius! Mas com metano na atmosfera, as chances de haver metano
líquido não são pequenas, já que a essa temperatura ele pode se condensar.
Quando a Cassini começou suas
observações com seu radar, encontrou de fato metano líquido, talvez até etano,
mas mais do que isso, encontrou lagos e até mares dessa substância! Com o
passar dos anos – a missão Cassini durou 13 anos – a superfície de Titã foi
sendo mapeada aos poucos, combinando-se as informações de radar e de
infravermelho.
Depois de 13 anos de dados
coletados e mais de 2 anos analisando todas as imagens, a geóloga planetária
brasileira radicada nos EUA, Rosaly Lopes, do Laboratório de Propulsão à Jato
da NASA, publicou nesta semana um estudo com o mapa mais completo de Titã até
hoje conhecido. Esse mapa geológico global permite identificar lagos, mares,
planícies e dunas de areia.
O mapa é tão detalhado que é
possível identificar a ação do ciclo hidrológico de Titã, que é igual ao da
Terra, com a diferença que aqui o elemento ativo do ciclo é a água. Durante
todos esses anos de mapeamento, foi possível ver lagos diminuírem de tamanho
até desaparecerem totalmente durante épocas em que a lua se aquecia. Para
depois reaparecer em épocas de temperaturas mais amenas. Em outras palavras,
era possível o ciclo de evaporação e chuva do metano em Titã!
Foi possível, inclusive, ver a
ação desse ciclo hidrológico no terreno, através da erosão provocada no leito
dos rios de metano e na mudança nos campos de dunas. As imagens da Cassini por
vezes mostravam a formação de nuvens de metano que iam desaparecendo aos
poucos, conforme se dissipava com o vento ou mesmo com a precipitação.
“Titã tem um ciclo hidrológico
ativo baseado em metano que formou uma paisagem geológica complexa, fazendo de
sua superfície a mais diversa em termos geológicos do Sistema Solar,” disse
Lopes em entrevista. Ela acrescentou, ainda, que mesmo com diferenças grandes
de temperatura, pressão, gravidade e principalmente de substância ativa, as
semelhanças entre rios, lagos e vales encontrados na Terra e em Titã mostram
que o processo geológico que os criou deve ser o mesmo.
Fotos mostram pedaço de ilha
desaparecendo em lago de metano em Titã — Foto: Nasa/ESA
Além do interesse geológico,
Titã também é de interesse na busca por vida. Para que ela surja e se
desenvolva, um dos pré-requisitos é haver um meio líquido. A vida como se
conhece é baseada na água, mas metano e etano líquidos poderiam ser esse meio
aquoso. É claro que a vida baseada em hidrocarbonetos líquidos seria muito
diferente da vida baseada em água e provavelmente não haveria estruturas muito
mais complexas do que seres unicelulares. Ainda assim, seria vida e motivo de
todo o interesse da ciência.
G1
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