Adoecimentos, licenças maternidade, cessões e afastamentos para funções administrativas na rede de ensino de Natal estão desfalcando as escolas da capital potiguar e afetando o dia a dia nas escolas da cidade. Segundo um parecer do Ministério Público de Contas, a rede de ensino de Natal conta com 45% dos professores afastados das salas de aula, sendo 1.555 profissionais em números absolutos de um universo de 3.551 professores, incluindo Ensino Fundamental e Infantil.
A Secretaria Municipal de
Educação confirma os dados e aponta que esse é um problema estrutural da pasta
que se intensificou nos últimos anos com a ausência de concurso público e com a
pandemia de covid-19, que gerou afastamentos por doença e intensificação de
aposentadorias. A planilha mais atualizada da SME repassada à TRIBUNA DO NORTE
aponta que dos 1.555 afastamentos, a maioria (1.067) é para funções
administrativas e pedagógicas, representando 80% do total. Há ainda 48 licenças
prêmio; 127 licenças médicas; 22 licenças paternidades; 43 licenças para estudo
e 248 cedidos.
“Existe realmente essa dificuldade da SME em termos esse número de afastados. Não há concurso para gestor, coordenador pedagógico, inspetor, por exemplo. Muitos professores são readaptados, que viram assistentes financeiros, técnicos, mediadores de leituras, nas escolas. Ou seja: das 146 unidades, temos 292 gestores. Tem escolas que pelo número de alunos precisam de dois coordenadores pedagógicos por turno. Esse pessoal não vai para sala de aula. Existe uma diversidade de funções do professor que não há em concurso”, aponta a secretária de Educação de Natal, Cristina Diniz.
A titular da SME Natal diz
ainda que a pandemia provocou um adoecimento em massa de muitos professores,
fenômeno que também se repetiu na capital. “Muitos não puderam ficar em sala de
aula e precisaram ser readaptados provisoriamente”.
Segundo informações da SME,
uma das soluções para minimizar a situação são casos específicos de
coordenadores e gestores ministrando aulas em disciplinas sem professores, além
de enviar atividades complementares para alunos estudarem em casa.
Uma das saídas da secretaria
para cobrir esse déficit são os editais temporários, com professores podendo
ficar na rede por até dois anos. Atualmente, a rede conta com 875 professores
nessas condições, mas ainda há vacâncias. Recentemente, no último dia 15 de
maio, a SME convocou mais 940 professores temporários após autorização do
Tribunal de Contas do Estado. Há dificuldades, por exemplo, em encontrar
professores de disciplinas como Artes, Ensino Religioso e Libras.
“Nosso último concurso foi em
2015, com o último convocado em 2018. E nós temos um lapso temporal de oito
anos sem concurso que de certa forma fez com que precisássemos fazer vários
processos temporários, principalmente na pandemia, porque professores não
tinham condições psicológicas de voltarem para sala de aula”, disse.
Dos 940 profissionais do
magistério temporários, foram convocados 303 educadores infantis, 296
professores dos Anos Iniciais, 46 professores de História, 37 de Geografia, 49
de Língua Portuguesa, 33 de Matemática, 133 de Ciências, 36 de Educação Física
e 07 Intérpretes de Libras.
Os profissionais vão atuar nas
146 unidades de ensino da Rede Municipal de Natal, sendo 74 Centros Municipais
de Educação Infantil e 72 Escolas de Ensino Fundamental.
TCE determina plano de
redimensionamento
Após um parecer do Ministério
Público de Contas do Rio Grande do Norte (MP Contas), foi autorizada novamente
a retomada das contratações temporárias de dois editais de 2022 que estavam
suspensos. Além disso, a Prefeitura do Natal precisará fazer um Plano de Redimensionamento
da rede pública de ensino, após decisão do Tribunal de Contas do Esado.
“Devendo ser assinalado o
prazo de 90 dias para a apresentação de um Plano de Redimensionamento para
adequação do sistema de municipal de Natal nos moldes versados nesta manifestação,
como condição resolutiva dos contratos temporários firmados em decorrência das
seleções simplificadas, que serão encerrados automaticamente em caso de
desatendimento da obrigação de fazer no prazo ofertado”, diz texto assinado no
dia 28 de abril deste ano. A atual secretária de Educação de Natal, Cristina
Diniz, diz que a expectativa da Prefeitura é entregar o plano antes do prazo.
Outra questão que aponta a
falta de professores na rede municipal de ensino são as aposentadorias de
profissionais da educação. Segundo dados da SME, foram pelo menos 800
aposentadorias concedidas nos últimos oito anos. A médio prazo, a secretaria
pensa em fazer uma reanálise de todos os afastamentos e licenças para saber
quem poderia voltar a exercer funções em sala de aula. Já a longo prazo, a
solução é um concurso público, uma vez que o último certame foi em 2015.
De acordo com a secretária de
Educação de Natal, Cristina Diniz, ainda não há definição quanto ao
quantitativo de vagas para o próximo certame, mas a avaliação da gestora é de
que o concurso precisará de no mínimo 800 vagas.
“Esse concurso está em
andamento. Estamos pensando na possibilidade de mudança de carga horária, isso
precisa ser via projeto de lei. Então estamos estudando para fazer tudo de
forma correta e queremos que esse concurso pelo menos se inicie até o fim do
ano. Estamos fazendo um diagnóstico de aposentadorias recentes e dos que estão
para solicitar, mas esse concurso precisará ter pelo menos 800 vagas”, cita.
“No geral, percebemos que tem
uma falta grande de professores, o relatório do TCE traz esse dado de que os
efetivos estão sendo substituídos por temporários e já temos cobrado isso da
Prefeitura, essa necessidade da realização de um concurso. Já ouvimos rumores
dessa discussão, mas não sabemos quando vai acontecer, quantidade de vagas e
não fazemos parte da comissão que discute o concurso, apesar de já termos
reivindicado”, analisa o coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores em
Educação do RN (Sinte-RN), Bruno Vital.
Para a presidente da União dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Joária Vieira, a realidade vivida
por Natal se estende a outros municípios potiguares. “Não temos uma pesquisa,
mas é uma realidade que passa por quase todos os municípios”, aponta.
A gestora em educação da
cidade de Rio do Fogo diz que os municípios também optam por contratação de
professores temporários, mas diz não vislumbrar cenários de resolução a curto
prazo para as cidades, mas aponta alternativas. “Uma saída interessante seria como
é feito nas universidades, com os professores substitutos: quando um professor
universitário sai para programas de mestrado ou formação, é realizado o
processo seletivo enquanto aquele professor está fora, vinculando àquele
profissional”, cita a gestora em educação.
“Temporário não cria raízes na
escola”
A professora Cláudia Santa Rosa, doutora em práticas pedagógicas exitosas, disse que a falta do professor traz impactos no aprendizado e frisa que o ideal é que ele não seja alocado em funções administrativas. Aponta ainda que o professor temporário “não cria raízes na escola”.
Tribuna do Norte
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