Pelo quinto dia útil
consecutivo, a cotação do dólar comercial fechou em alta, dessa vez de 0,61%.
Com isso, o preço de venda da moeda norte-americana terminou o dia em R$ 3,701,
o maior valor em 26 meses. Na máxima do dia, a moeda chegou a valer R$ 3,713. A
alta do dólar ocorre um dia depois do Comitê de Política Monetária (Copom) do
Banco Central (BC) decidir manter os juros básicos da economia brasileira em
6,5% ao ano, numa tentativa de lidar com o aumento da volatilidade
internacional de capitais e evitar a retirada de investimentos do país.
A desvalorização do real
também pode ter influenciado a decisão do BC de manter a taxa Selic no mesmo
patamar, uma vez que dólar mais caro pode significar aumento da inflação no
médio prazo, devido ao encarecimento de produtos e serviços importados em moeda
estrangeira.
O dólar turismo, que é aquele
comprado quando alguém faz uma viagem internacional, estava sendo vendido a R$
3,86 ao fim do pregão. No cartão pré-pago, no entanto, as casas de câmbio
estavam vendendo a pelo menos R$ 4,06, já incluindo taxas como o Imposto sobre
Operações Financeiras (IOF).
A alta do dólar ocorre mesmo
com ajustes na atuação do Banco Central no mercado de câmbio nos últimos dias.
O órgão alterou leilões de contratos de swaps cambiais, equivalentes à venda de
dólares no mercado futuro, passando a renovar contratos que tinham vencimento em
junho. Com isso, o BC iniciou a oferta diária de rolagem integral de 4.225
contratos. Além disso, passou a fazer a oferta adicional de 5 mil novos
contratos ao longo do mês e não apenas ao final, como estava previsto. A ideia,
com isso, é manter aplicações em dólar no país, evitando a fuga da moeda que
impacta na desvalorização do real.
EUA
Outras moedas de países
emergentes, como México e Turquia, também tiveram dia de desvalorização frente
ao dólar. Para o economista Sílvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, o
mercado de câmbio está seguindo um padrão externo de pressão a favor do dólar.
"Basicamente, um fator
para isso é a continuidade dessa pressão, que é o reflexo do movimento de alta
das taxas futuras de juros nos EUA", explica. Juros mais altos nos Estados
Unidos estimulam que os investidores vendam ações na bolsa de valores e comprem
títulos do Tesouro norte-americano, considerados os papéis mais seguros do
mundo. Da mesma forma, propiciam a fuga de capitais de países emergentes, como
o Brasil, para cobrir prejuízos em mercados de economias avançadas. Com menos
dólares no país, o valor da moeda frente ao real aumenta. Para o governo, no
entanto, a volatilidade é passageira e não há motivo para grandes preocupações.
IBovespa
O IBovespa fechou em queda de
3,37%, com 83.622 pontos, a maior baixa registrada em um ano, desde 18 de maio
de 2017. Para o economista Joelson Sampaio, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em
São Paulo, a manutenção da taxa Selic é um dos motivos para a forte queda.
Outra razão apontada pelo economista é a valorização do dólar frente ao real.
“A queda tem uma relação com a sinalização do governo de que o PIB [Produto
Interno Bruto] tende a crescer menos do que eles esperavam. Os indicadores de
atividade econômica não são bons, o PIB do primeiro trimestre em comparação ao
do ano passado teve redução; o dólar continua se valorizando; e o Banco
Central, que tinha a tendência de continuar reduzindo a Selic, acabou
suspendendo isso. Somando tudo isso, acaba refletindo na expectativa dos
investidores”, disse à Agência Brasil.
Mas este cenário, segundo o
economista, não deve se repetir nos próximos dias. “Acho que a tendência que
vai continuar é a volatilidade. É um período de muita volatilidade. Vai ter
hora que vai cair, tem hora que vai subir. Mas sem uma tendência muito clara
porque ainda há muitas incertezas [na economia do país]”.
Agência Brasil
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