Cunha usou a mesma estratégia
dos outros três deputados condenados no mensalão e apresentou uma carta
oficializando o desligamento do cargo. No texto, o parlamentar diz ter
“consciência de dever cumprido” e cita o escritor cubano Leonardo Padura: “(…)
pois a dor e a miséria figuram entre aquelas poucas coisas que, quando
repartidas, tornam-se sempre maiores.”
Quando surgiram as denúncias
do escândalo do mensalão, em 2005, Cunha enfrentou um processo de cassação, mas
os deputados contrariaram parecer do Conselho de Ética e o consideraram
inocente em votação no plenário. O episódio não teve impacto nas urnas, e o
petista conseguiu a reeleição em 2006 e em 2010.
Apesar do bom desempenho com o
eleitorado, Cunha vivia às sombras depois da condenação no mensalão: raramente
era visto nos corredores da Casa, não falava na tribuna e tampouco apresentou
projetos de lei. No fim do ano passado, quando o STF já havia iniciado as
prisões no julgamento do mensalão, o petista resolveu reaparecer: lançou uma
revista na Câmara dos Deputados na qual se diz inocente e passou a viajar pelo
país adotando discurso contra o julgamento da Suprema Corte.
O ex-presidente da Câmara se
disse alvo de “tortura” depois de o presidente do STF, ministro Joaquim
Barbosa, ter entrado de férias sem assinar o mandado de prisão. Em resposta,
Barbosa disse que o mensaleiro merecia o “ostracismo”.
Condenação – João Paulo Cunha
foi condenado pelos crimes de lavagem de dinheiro, peculato e corrupção
passiva. Conforme denúncia do Ministério Público, ele recebeu 50.000 reais do
publicitário Marcos Valério para favorecer a agência de publicidade SMP&B
em um contrato na Câmara. Para a acusação, o dinheiro era propina, o que o
deputado nega. Inicialmente, ele afirmou que o PT enviou recursos para que
fosse paga uma fatura de TV a cabo. Em seguida, mudou a versão e disse que o
dinheiro foi usado para realizar pesquisas pré-eleitorais na região de Osasco
(SP).
Diante da afirmação de que
Cunha não ia renunciar ao mandato, a Câmara dos Deputados agendou reunião para
a próxima quarta-feira para discutir a possibilidade de abrir processo de
cassação contra o ex-presidente da Casa. Um dia antes de se desligar da Câmara,
o petista, que cumpre pena em regime semiaberto enquanto aguarda análise dos
embargos infringentes, formalizou pedido à Vara de Execuções Penais (VEP) para
exercer o mandato parlamentar durante o dia. O agora ex-deputado também quer
autorização para estudar Direito em uma instituição particular de Brasília.
O novo líder do PT na Câmara,
deputado Vicentinho (SP), divulgou nota em nome da bancada na qual diz ter
“certeza da inocência” de Cunha e que ele terá apoio “em todas as iniciativas
que vier a tomar para demonstrar os equívocos, erros e omissões que permearam
seu julgamento”.
Veja
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