
"Foram fotos antigas que
começaram a despertar curiosidade aqui", conta Tadeu. “Vai ajudar a contar
não apenas a história forense em nosso estado, mas do próprio instituto”,
ressaltou.
Antigas fotos do prédio,
câmeras que registraram locais de crimes, fichas de identificação, máquinas de
datilografia também farão parte do acervo do museu, que ainda não tem data de
inauguração nem local definido. O objetivo, no entanto, é claro:
"preservar a história da instituição e possibilitar a divulgação do
importante acervo documental que foi produzido ao longo deste período, como o
documento que cita o mais famoso cangaceiro da história", explica o
diretor geral do órgão, o perito Marcos Guimarães Brandão.
Lampião no RN
A passagem do 'rei do cangaço'
pelo Rio Grande do Norte foi meteórica, tanto na rapidez quanto na devastação.
"Ele passou 96 horas no estado, e por onde passou só deixou
desgraça", conta o coronel da PM aposentado Ângelo Dantas, que também é
pesquisador.
A história já é conhecida: em
1927, Lampião e seu bando foram rechaçados pelos habitantes de Mossoró, cidade
da região Oeste potiguar, que, liderados pelo então prefeito Rodolfo Fernandes,
defenderam a cidade. Após a passagem dos cangaceiros, segundo o pesquisador
Rostand Medeiros, foram abertos três processos contra Lampião e seu bando.
"São de onde o bando deixou rastros. Em Martins, Pau dos Ferros e
Mossoró", destaca.
O documento achado no arquivo
do Itep, em Natal, é uma lauda escrita à fina caligrafia onde constam os nomes
dos 55 criminosos mais temidos do sertão nordestino. Ao final, a informação de
que os homens citados são enquadrados nos artigos 294 (Matar alguém) e 356
(Subtrahir, para si ou para outrem, cousa alheia movel, fazendo violencia á
pessoa ou empregando força contra a cousa", como consta no Código Penal
dos Estados Unidos do Brasil de 1890).
“Pouco se sabe sobre esse
documento, mas tem ligação com o processo da comarca de Pau dos Ferros. O fato
de estar em Natal pode ser apenas para deixar registrados os nomes e deixar
alguma informação sobre o bando", explica o coronel Ângelo. Lampião foi
morto em 1938, e o documento exibe a data de feitio em 1940, reforçando a ideia
de que é uma ata dos processos contra o bando.
No Itep, o trabalho de
apuração e restauração do material começou com o resgate de peças que estão em
salas que serão desativadas em breve. Feito isso, seguem as etapas de
higienização, reparo de documentos e classificação. Tiago Tadeu explica que as
atividades também irão contemplar a digitalização de todo o acervo do
instituto.
‘Aqui se faz ciência’
"Aqui se faz ciência.
Aqui se faz história", ressalta Tadeu sobre o instituto. Em 2016, o Itep
comemorou 41 anos, mas sua história é mais antiga. Aqui no Rio Grande do Norte
existem registros de laudos confeccionados já nos séculos XVIII e XIX.
Mas esses exames eram sempre
realizados por peritos e não existia órgão específico para tal. Somente em
agosto de 1909, através de Decreto, foi que o governador, à época, criou dois
cargos de médico, sendo: um de médico do Batalhão de Segurança (denominação da
Polícia Militar) e o outro de médico da polícia. Este último recebeu as
atribuições de médico legista.
Mas como a carência desse tipo
de profissional era muito grande, o mesmo médico foi nomeado para os dois
cargos. Trata-se do Dr. Antônio Emereciano China, verdadeiramente, o primeiro
médico legista, devidamente nomeado e empossado no cargo, de que se tem notícia
aqui no RN.
Em 1910, foi criado um órgão
denominado Enfermaria de Urgência, cuja finalidade era funcionar em caráter
ininterrupto para atender às requisições das autoridades policiais como exames
de corpo de delito e perícias. E em 30 de abril de 1975 o órgão passou a ser o
Instituto de Medicina Legal e Criminalística.
Segundo o chefe de gabinete do
Itep, o trabalho de se criar um museu está sendo idealizado para contribuir com
o fortalecimento de uma responsabilidade social. “Nesse projeto de resgate da
memória técnica do instituto, pretendemos apresentar um acervo que contemple a
devida importância do órgão no estado", explica.
Já para o coronel Ângelo
Dantas, a ideia do museu é promessa de sucesso. "Eu só tenho a aplaudir.
Ele está no caminho certo, cultura é produtiva", comemora.
Morte de Lampião
Faz 78 anos que Lampião e seu
bando foram mortos. Eles acamparam na fazenda Angicos, no Sertão de Sergipe, no
dia 27 de julho de 1938. A área era considerada por Virgulino como de extrema
segurança, longe das vistas das forças policiais. Mas, na manhã do dia
seguinte, os cangaceiros foram vítimas de uma emboscada, organizada por
soldados do estado vizinho, Alagoas, sob a batuta do tenente João Bezerra. De
acordo com pesquisadores, o combate durou somente 10 minutos.
G1RN
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Reflita, analise e comente