A pedra causa cólica renal
quando sai do rim e cai no canal que o liga à bexiga. Foto: Freepik
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A pedra no rim pode ser a
‘ponta do iceberg’ de outros problemas, segundo a nefrologista Ita Heilberg,
coordenadora do Ambulatório de Litíase Renal da disciplina de Nefrologia da
Unifesp, referência no assunto.
“Existe uma razão para um
cálculo estar se formando, principalmente se não for um cálculo único. É
preciso fazer uma avaliação do metabolismo da urina com um nefrologista para
saber o que está por trás disso”, afirma.
Ela explica que todas as
pessoas excretam sais minerais pela urina, que formam cristais. Quando são
pequenos, são eliminados. Já quando são um pouco maiores, a tendência é que se
agreguem. Isso é provocado por um desequilíbrio metabólico na urina.
“A pedra é causada pelo
desequilíbrio entre os promotores e os inibidores da formação de cristais na
urina. Primeiramente, é necessário identificar quais são as alterações
metabólicas que estão provocando isso para poder modificar o ambiente urinário
que é onde essas compressões se formam”, explica.
Cirurgia bariátrica predispõe
pedra nos rins
Essas alterações metabólicas
estão relacionadas principalmente ao excesso de substâncias como cálcio,
oxalato de cálcio, fosfato de cálcio e à falta de citrato de cálcio. Cerca de 85%
dos cálculos são formados por oxalato de cálcio. “É preciso saber o que a
pessoa tem para saber o que será corrigido”, diz.
“Alguns pacientes fazem muitas
infecções urinárias e o núcleo da pedra é formado por bactéria”, completa.
Segundo a nefrologista, ainda
existem diversas pesquisas em andamento para entender quais doenças estão por
trás dos cálculos renais. “O cálculo renal seria uma consequência”, afirma.
Ela explica que hoje já se tem
conhecimento que doenças, ou condições, provocam cálculo renal: diabetes,
adenoma na paratireoide, cirurgia bariátrica, que pode predispor a pedras,
doença inflamatória intestinal, que excreta determinadas substâncias e produz
cálculo renal, alguns medicamentos que causam precipitação de sais na urina e
alguns suplementos alimentares.
“Mesmo quem tem predisposição
genética não vai ter necessariamente pedra. Pode não ter. Se toma pouca água, a
urina fica concentrada, o que já é um fator de risco para cálculos”, diz.
Segundo ela, a média de ingestão de água por dia deve ser de 2 litros.
“Quando se produz mais que 2
cálculos na vida, já é indício de maior propensão à formação de pedras. Já é
pessoa com fator de risco para ter novos cálculos”, completa.
Dieta interfere na formação de
cálculos
A hipertensão é outra doença
que tem associação com a formação da pedra. A nefrologista afirma que ainda não
existe um mecanismo que consiga explicar a razão disso. “Coincidentemente há
muitos pacientes hipertensos que também formam cálculos renais”, diz.
A dieta interfere nas
substâncias que serão excretadas na urina e influenciam a formação do cálculo.
A nefrologista ressalta que contribuem para o problema, além da ingestão de
pouca água, o consumo excessivo de sal e de proteínas.
“Quem tem pedras de oxalato
não devem consumir, em excesso, alimentos que contenham a substância”, orienta
o nefrologista Marcos Alexandre Vieira, presidente da Fundação Pró-Rim.
Ela afirma que as principais
são carambola, beterraba e folha verdes, como couve e espinafre.
O nefrologista ressalta que
uma dieta pobre em cálcio pode estimular a formação de pedras de oxalato. “O
cálcio e o oxalato se unem no estômago, não deixando formar a pedra. Quando se
restringe o cálcio, pode se formar pedra de oxalato”, diz.
Já sucos cítricos, como de
laranja e limão, ajudam a prevenir pedras formadas por citrato, segundo Vieira.
Pedra é mais frequente entre
30 e 50 anos
A formação de cálculos renais
é mais frequente no sexo masculino, entre os 30 e 50 anos de idade, segundo o
presidente da Fundação Pró-Rim.
“A indicação para intervenção
depende de cada caso, mas normalmente cálculos acima de 0,8 mm tem essa
indicação, especialmente quando o cálculo obstrui o ureter, canal que leva
urina do rim à bexiga”, afirma.
De acordo com Ita Heilberg, um
dos principais avanços em relação às pedras nos rins se deu em relação aos
meios de extração dos cálculos do organismo.
“Hoje em dia existem processos
endoscópicos nos quais as pedras são retiradas por meio de cateter”, diz.
Ela se refere à
ureterolitotripsia. O procedimento, realizado por um urologista, consiste em
introduzir uma câmera endoscópica pela uretra, que alcança a pedra no ureter,
quebrando-a e a removendo, segundo Vieira.
Outra técnica considerada
avançada é o tratamento por meio de ondas de choque. O paciente entre em uma
máquina na qual ondas de choque fragmentam a pedra. Reduzidas a poucos
milímetros, elas são eliminadas espontaneamente.
Pedra costuma levar até 72
horas para ser expelida
A pedra só causa cólica quando
ela sai dos rins e cai no ureter. Ao se mover ou obstruir o canal, causa dor
intensa, comumente comparada à dor do parto. Ao cair na bexiga, a dor cessa.
Nos homens, a dor pode voltar quando a pedra percorrer a uretra.
“O tempo que leva para ser
expelida depende da sua localização e anatomia. Pedras menores que 5 mm tem 90%
de chance de sair. Se ela está na bexiga, tem mais chance de sair, mas, se está
alojada no rim, pode ficar lá até os 95 anos”, diz Ita.
Quando está no ureter, a
tomografia é o exame de imagem capaz de detectá-la.
Ainda não existe remédio para
dissolver a pedra, segundo o médico. Um recurso, considerado recente, é o uso
de remédio contra hiperplasia de próstata que promove a contração do ureter e,
por consequência, ajuda a expelir a pedra.
“Um cálculo costuma levar, em
média, no máximo 72 horas para ser expelido. Não se recomenda que fique com o
cálculo por mais que 15 dias, pois a obstrução a longo prazo pode levar à
insuficiência renal crônica. Por isso é importante o acompanhamento de um
urologista”, diz Vieira.
A médica explica que a pedra
no rim é uma condição antiga na história da humanidade. “Tem muita evolução
ainda. Estamos caminhando, mas não estamos totalmente livres dela”. “Como
apresenta uma causa multifatorial, é difícil eliminar a formação do cálculo
renal por completo”, conclui.
R7
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