Autoridades da Suiça
bloquearam US$ 2,4 milhões, o equivalente a R$ 9,6 milhões, em contas secretas
do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e de familiares dele, segundo
disse nesta quinta-feira ao GLOBO uma fonte que acompanha o caso de perto. Os
extratos com o registro do saldo nas contas foram enviados pelo Ministério
Público suíço e chegaram ontem à tarde na Procuradoria-Geral da República.
Caberá agora ao procurador-geral Rodrigo Janot decidir se pede abertura de um
novo inquérito ou se apresenta nova denúncia contra Cunha, que insiste em negar
ser correntista no país europeu e que ‘não há hipótese de renunciar à
presidência da Casa.
As contas foram descobertas em
abril deste ano e desde então o presidente da Câmara vinha sendo investigado na
Suíça por corrupção passiva e lavagem de dinheiro desviado da Petrobras. Cunha
é suspeito de receber propina numa transação relacionada vazamento de
informação privilegiada e venda, para a Petrobras, de um campo de petróleo no
Benin. O presidente da Câmara foi denunciado, em agosto, por corrupção passiva
e lavagem de dinheiro.
Cunha foi acusado de receber
US$ 5 milhões em propina para facilitar a compra de dois navios-sondas da
Samsung Heavy Industries, pela Petrobras, um negócio de US$ 1,2 bilhão. O
negócio teria resultado em propina no valor total de US$ 40 milhões. Outros
dois acusados no caso, o lobista Fernando Soares, o Baiano, e o ex-diretor da
área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró já foram condenados por Sergio
Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Baiano foi condenado a 16 anos
e um mês de prisão. Cerveró deverá cumprir 12 anos e 3 meses. Na denúncia que
fez, Janot pede que Cunha devolva ao cofres públicos US$ 80 milhões, soma entre
multa e valores desviados. As investigações iniciadas na Suíça podem se
complementar com outras informações já obtidas pelo Ministério Público Federal
e pela Polícia Federal no Brasil.
DEPOIMENTO DE LOBISTA FOI
CRUCIAL
Parte das suspeitas das
autoridades suíças sobre a movimentação financeira de Cunha foram confirmadas
pelo lobista João Augusto Rezende Henriques. Em depoimento à Polícia Federal em
Curitiba, há duas semanas, João Henriques disse que fez depósito numa conta
que, mais tarde, ele descobriu pertencer a Cunha.
A conta destinatária do
pagamento foi indicada a ele pelo lobista Felipe Diniz, filho do ex-deputado
Fernando Diniz (PMDB-MG), já falecido, um ex-aliado do presidente da Câmara. João
Henrique disse que fez o depósito em retribuição à venda de um campo de
Petróleo no Benin para a Petrobras. A transação só foi possível graças a uma
informação privilegiada que ele recebeu. A partir da informação, o lobista teve
um encontro com o empresário Idalecio de Oliveira, que seria o dono de um
terreno no Benin.
Os dois fizeram uma sociedade
e logo em seguida venderam a área por US$ 15 milhões para a Petrobras. Depois
da operação, ele teria embolsado US$ 7,5 milhões. Em seguida, fez pagamentos
para pessoas que o ajudaram na concretização do negócio.
"Que, por fim, o
interrogando gostaria de adicionar que em relação a aquisição pela Petrobras do
campo de exploração em Benin, a pessoa que lhe indicou a conta para pagamento
foi Felipe Diniz; Que Fernando Diniz era filho de Fernando Diniz; Que Felipe
apresentava dificuldades econômicas; Que a conta indicada para o pagamento
pertencia a Eduardo Cunha", afirmou Henriques em depoimento a um dos
delegados da Operação Lava-Jato, Henriques foi preso na segunda-feira passada,
na 19ª fase da Lava-Jato, por ordem do juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de
Curitiba.
Logo depois da citação ao nome
do presidente da Câmara, o depoimento do lobista foi enviado ao ministro Teori
Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). A existência
e o bloqueio do dinheiro nas contas de conta foram confirmadas pelo Ministério
Público da Suíça. Mas, procurado várias vezes desde que o caso veio a público,
Cunha repete que não tem contas na Suiça. Ele diz que todas as contas que tem
estão declaradas à Receita Federal.
O Globo
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