
Com isso, o país caminha para
registrar sua recessão mais longa e intensa da História recente — superando até
mesmo as crises de 1981 a 1983, quando houve moratória da dívida externa, e de
1989 a 1992, no confisco do governo Collor.
Com a queda do último
trimestre, o PIB brasileiro retornou ao patamar de seis anos atrás. Frente ao
terceiro trimestre de 2015, a queda foi de 2,9%. O resultado acumulado em 12
meses ficou negativo em 4,4% — ligeiramente melhor do que o tombo de 4,8%
acumulado no segundo trimestre.
— Já estamos com previsão de
(crescimento) zero para 2017. Um pouco por inércia, um pouco por estatística,
(a retomada) só em 2018. Até lá o mercado de trabalho já parou de piorar. A
perspectiva é ainda muito desfavorável por causa dessa incerteza e dos efeitos
esperados de uma política fiscal mais apertada — afirma José Francisco de Lima
Gonçalves, economista-chefe do banco Fator e professor da FEA/USP.
HERANÇA DE 2016
Pela ótica da produção, a
indústria caiu 1,3% frente ao segundo trimestre, enquanto na agropecuária a
queda foi de 1,4%. O setor de serviços, por sua vez, teve perda de 0,6%.
Já a ótica da despesa apontou
uma redução de 0,6% do consumo das famílias na comparação com o trimestre
anterior, acompanhada por recuo de 0,3% do consumo do governo. O investimento,
medido pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), caiu 3,1%. Das 12 atividades
da economia, só duas tiveram alta frente ao segundo trimestre:
extrativa-mineral (3,8%) e serviços de informação (0,5%). O indicador de
atividades imobiliárias ficou estável, e os outros nove segmentos recuaram.
— Não é meu cenário dominante,
mas aumentou a probabilidade de não se ter crescimento em 2017. Há muita
incerteza, inclusive com a presidência de Donald Trump, de como ficarão a taxa
de câmbio e os juros. Mesmo um crescimento de 1,1% não é para celebrar. Mas não
há que ser excessivamente dramático, nada dura para sempre. A Grande Depressão
nos Estados Unidos também terminou — diz o economista-chefe do Goldman Sachs
para a América Latina, Alberto Ramos.
Um dos fatores determinantes
para o desempenho da economia brasileira em 2017 é a trajetória da taxa de
juros. Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic de 14%
para 13,75% ao ano.
— Se o Banco Central cortar
pouco a taxa de juros, a chance de um crescimento perto de zero aumenta. Se
chegar ao fim de 2017 em 11,25%, como é nossa estimativa, a possibilidade de
estagnação é baixa. Mas há risco de recessão, sim, se a crise política
recrudescer e gerar uma crise de governabilidade — avalia o economista-chefe da
LCA Consultores, Bráulio Borges.
Uma das barreiras para o
desempenho em 2017 é o chamado carregamento estatístico deste ano. Ou seja,
quanto o resultado de 2016 vai influenciar o do ano que vem. Se a economia
ficar estável ao longo de 2017, ainda assim o PIB registrará uma queda de 0,7%
por causa desse efeito estatístico.
— Não dá para descartar um PIB
negativo, porque depende da evolução dos fundamentos e da conjuntura
internacional. Até porque as projeções não estão muito distantes de zero ou
negativo. Ainda esperamos alguma recuperação, mas mais lenta e gradual do que
anteriormente — aponta o economista do Santander Rodolfo Margato.
FORÇAS PARA RETOMADA
Uma das principais dúvidas
entre os economistas é de onde virá a força para a retomada da economia. O
setor externo, que vinha sendo apontado como uma saída, já vê seu impacto
positivo se dissipar diante da queda do dólar. Já o consumo das famílias — que
acumula sete trimestres de queda, após mais de 11 anos de altas seguidas — se
encontra restrito pelo desemprego e pela queda na renda, além do envidamento.
Por outro lado, a incerteza ainda emperra os investimentos.
Gustavo Rangel,
economista-chefe para América Latina da ING Global Markets, previa há algumas
semanas um crescimento de 1,7% para o ano que vem. Hoje, sua estimativa é de
0,9%.
— A recuperação está bastante
difícil, porque todo mundo está bastante endividado. Então, enquanto não houver
alívio nesse endividamento, dificilmente haverá recuperação de investimento e
consumo — diz Rangel.
As projeções positivas para a
economia em 2017 são ancoradas nas expectativas de corte de juros,
desaceleração da inflação e bons desempenhos da agricultura e de alguns
segmentos da indústria.
— As perspectivas para a
colheita em 2017 são bastante favoráveis. A safra de produtos relevantes deve
crescer dois dígitos, de acordo com projeções do IBGE e da Conab (Companhia
Nacional de Abastecimento). Em 2016, houve muita quebra de safra,
principalmente do milho. A agricultura sozinha representa só 5% do PIB, mas o
agronegócio como um todo espera um cenário mais favorável no ano que vem —
comenta Margato.
Sergio Vale, da MB Associados,
diz que o setor automobilístico também pode ajudar no resultado positivo no ano
que vem:
— Se mantivermos a média
diária de oito mil unidades por dia em 2017, o crescimento das vendas de
automóveis e comerciais leves seria de 5%.
O Globo
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