A crise econômica e o ajuste
fiscal levaram o governo federal a fazer cortes em pelo menos sete programas
sociais, alguns exibidos como bandeiras de campanha à reeleição da presidente
Dilma Rousseff. Somente em dois deles (Pronatec e Aquisição de Alimentos) os
gastos previstos no orçamento de 2016 caíram R$ 2,487 bilhões em relação à
previsão de despesas deste ano. O governo cortou, no orçamento do próximo ano
do Farmácia Popular, R$ 578 milhões para subsídios na compra de medicamentos
vendidos na rede conveniada, o que permite descontos de até 90% no preço dos
remédios. Dilma, que chegou a prometer que a área social seria poupada, já
admitiu cortes no setor.
Há casos de programas, como o
Minha Casa Melhor (de aquisição de móveis e eletrodomésticos para beneficiados
pelo Minha Casa Minha Vida) que tiveram suas contratações suspensas em
fevereiro deste ano. Outros já haviam sofrido cortes drásticos em 2015. O Água
para Todos, por exemplo, destinado a garantir água para regiões carentes, teve
uma queda de R$ 550 milhões, se comparado o orçamento de 2014 com o deste ano.
No caso do Fies, a oferta de
vagas do primeiro para o segundo semestre de 2015 ano caiu 75%. Além disso, os
juros cobrados subiram de 3,5% para 6,5% ao ano. Entre 2014 e 2015, o programa
já sofrera uma redução de 418 mil vagas (de 731 mil para 313 mil). Já o Ciência
sem Fronteiras sofre um baque no número de bolsas oferecidas para interessados
em estudar no exterior. O objetivo inicial, anunciado em 2011, era distribuir
101 mil bolsas até o fim deste ano. Mas o painel de controle do próprio
programa informa que a meta não será alcançada. Até o primeiro trimestre de
2016, serão 87 mil bolsas oferecidas.
A redução dos investimentos
prejudica a vida de quem depende dos programas sociais, entre eles, os
produtores rurais. A Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) afirma que em
estados como São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná, o governo não
renovou contratos de fornecimento de alimentos este ano, tampouco informou aos
produtores com antecedência que o programa sofreria cortes. Com isso, os
alimentos que já haviam sido plantados e estão em ponto de colheita vêm sendo
descartados e até mesmo jogados aos porcos.
— Foi um desastre. Era a nossa
sobrevivência. A gente não sabe o que vai acontecer daqui para frente — conta
Lucilei Guilhem, presidente da Associação Nossa Senhora Das Graças e Malu, em
Caiuá, interior de São Paulo.
A Confederação de
Trabalhadores na Agricultura (Contag) confirma o impacto dos cortes e diz
receber reclamações de atrasos de pagamento aos profissionais rurais. O governo
nega a falta de pagamentos e cortes, mas confirma a redução do orçamento do
programa este ano e também na previsão orçamentária de 2016. Enquanto em 2014 o
orçamento do Aquisição de Alimentos era de R$ 1 bilhão, este ano a previsão de
gastos já havia caído para R$ 647 milhões. Desse montante, foram gastos até
setembro R$ 300 milhões. A previsão de orçamento para 2016 é de R$ 560 milhões.
— Já enviamos diversos
documentos pedindo ao governo que o orçamento se recomponha. Recebemos
reclamações de vários estados falando sobre a falta de pagamento aos
agricultores — conta Alberto Broch, presidente da Contag.
Em Goiás, a presidente da
Cooperativa Mista Agropecuária dos Produtores Rurais de Ferninópolis, Luciana
Naves, conta que enviou à Conab o projeto de 2015, com o que cada agricultor
continuaria a produzir, mas os contratos não foram celebrados.
— Enviamos o projeto de 2015 e
a Conab aprovou. Mas, no fim de agosto, tivemos a má notícia de que a verba
para atender aos projetos estava cortada. Pegaram-nos de surpresa. Não fomos
orientados a não fazer o projeto e os produtores se organizaram para entregar
esses produtos. São 84 famílias cadastradas pela cooperativa e a maioria tem
esse valor como uma forma de sobrevivência. Nunca passamos por essa situação
antes — diz.
Na pasta da Educação, os
cortes atingem principalmente um dos programas mais exaltados durante a campanha
presidencial, o Pronatec. O programa sofreu corte de mais da metade em seu
orçamento para 2016, em comparação com o gasto previsto para 2015, que é de R$
4 bilhões. Na lei orçamentária apresentada à Câmara pelo governo, a previsão
caiu para R$1,6 bilhão no próximo ano. Do montante previsto para 2015, foram
executados até setembro R$ 2,4 bilhões. O Pronatec terá este ano um milhão de
vagas, um terço do oferecido em 2014.
Sobre a redução dos
investimentos nos programas, o MEC afirma que tem trabalhado para viabilizar as
metas do Plano Nacional de Educação e, para tanto, todos os programas e ações
do ministério estão mantidos e terão continuidade no próximo ano. Porém, diante
da situação fiscal pela qual passa o país, o ministério terá que fazer mais com
menos.
SUSPENSÃO NO CRÉDITO
Lançado em junho de 2013, o
Minha Casa Melhor, da Caixa, foi suspenso no fim de fevereiro deste ano e não
há previsão de retomada das contratações. O objetivo do programa era oferecer
linha de crédito para aquisição de móveis e eletrodomésticos para os
beneficiários do Minha Casa Minha Vida. Dos R$ 3 bilhões destinados ao
programa, aproximadamente R$ 2,92 bilhões foram utilizados. Cerca de 700 mil
famílias utilizaram o cartão, segundo o banco.
Ainda na área da habitação, o
governo afirma que pretende investir este ano R$ 250 milhões no programa Água
para Todos. Deste montante, foram gastos R$ 204 milhões até setembro. Os
investimentos estão bem abaixo do valor de 2014, quando foram gastos R$ 800
milhões no programa. Para 2016, a previsão orçamentária é de R$ 268 milhões. De
acordo com o Ministério da Integração Nacional, o programa continua, e, desde
2011, já beneficiou mais de cinco milhões de pessoas com “tecnologias de
abastecimento de água”.
Na área da Saúde, a navalha
vai passar pelo Farmácia Popular. A doação de remédios vai continuar, mas o
governo acabará com subsídios de R$ 578 milhões, que garantiam descontos nas
farmácias e drogarias da rede privada com a identificação “Aqui tem farmácia
popular”.
Com o fim do cofinanciamento
de medicamentos, a Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de
Pesquisa) estima que cerca de três milhões de pessoas devem deixar de ser
beneficiadas. A modalidade oferece tratamento para colesterol, osteoporose, mal
de Parkinson, glaucoma e rinite.
Em nota, o Ministério da Saúde
disse que os medicamentos cofinanciados ofertados como parte do programa
integram a Relação Nacional de Medicamentos (Rename) e, portanto, devem ser
ofertados na rede pública de saúde, independente da disponibilização no
Programa Farmácia Popular.
Sobre a redução nos programa
sociais, o Ministério do Planejamento afirma que, em momento de cenário
restritivo, escolhas precisam ser feitas. Segundo a pasta, a prioridade é pagar
o que já está contratado e alterar o calendário de novas ações. O objetivo é
reduzir os restos a pagar, com menos limite orçamentário e mais limite
financeiro.
O Globo
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