Pessoas que perderam tudo, que
tiveram que adiar planos, que foram demitidas, que sofreram ameaças de morte. A
história da Telexfree esconde dramas que vão muito além do crime de pirâmide
financeira a qual a empresa é acusada. São casos de ódio, de violência, de
amizades rompidas, de laços familiares afetados pelas dívidas e de igrejas
rachadas por causa do negócio, que pode ser o maior caso de fraude envolvendo
marketing multinível do mundo.
Pessoas que perderam tudo, que
tiveram que adiar planos, que foram demitidas, que sofreram ameaças de morte. A
história da Telexfree esconde dramas que vão muito além do crime de pirâmide
financeira a qual a empresa é acusada. São casos de ódio, de violência, de
amizades rompidas, de laços familiares afetados pelas dívidas e de igrejas
rachadas por causa do negócio, que pode ser o maior caso de fraude envolvendo
marketing multinível do mundo.
Há exatos três anos, dois milhões de brasileiros que depositaram esperança em um alto retorno financeiro ficaram sem chão quando a empresa foi impedida de continuar a operar e teve os bens bloqueados pela Justiça do Acre. Desde então, os afiliados da rede estão à espera de uma definição sobre o dinheiro que aplicaram no negócio. Muitos não acreditam mais que vão recuperar suas economias.
Entenda o caso Telexfree
A empresária Maria (nome
fictício) está entre os divulgadores, como eram chamados os associados da
empresa, que perderam a fé. Ela vendeu uma casa em Vila Velha para um dos
líderes da Telexfree. Recebeu parte em dinheiro. O restante, cerca de R$ 100
mil, ganhou em contas da empresa, que duas semanas depois da transação teve as
atividades suspensas pela Justiça.
“Eu havia acabado de comprar
um apartamento e precisava do dinheiro para quitá-lo. Mas fui convencida por
esse líder a aceitar os bônus da Telexfree, com a promessa de alto rendimento.
Não sei porque fiz esse investimento. Nunca fui gananciosa”, conta Maria, que
não quis revelar o nome verdadeiro por medo de retaliações. “Para mim, o pior
foi ter prejudicado mais gente. Coloquei na Telexfree várias pessoas da minha
família, achando que era algo bom. Depois, quando tudo veio à tona, não sabia o
que falar a todos”.
Segundo o promotor de Justiça
do Acre, Marco Aurélio Ribeiro, responsável pela ação civil pública contra a
Telexfree, na lista de prejudicados estão pessoas que investiram até R$ 500
mil, que venderam casas, carros e até pegaram empréstimos com a expectativa de
ver o dinheiro multiplicar.
O aposentado Dalton dos
Santos, 62, ganha pouco mais de um salário mínimo do INSS. Foi convidado a
participar da Telexfree por amigos. Juntou dinheiro e aplicou R$ 3 mil. “Passou
uma semana e tudo foi barrado. A empresa não havia quebrado, podia nos pagar.
Mas a Justiça nos prejudicou. Era só mandar a Telexfree devolver o dinheiro
ainda naquela época”, reclama o idoso, que viveu um conflito com a ex-mulher,
que o culpou pelo mau negócio.
Um analista de sistema, de 25
anos, que preferiu não se identificar por vergonha, diz aguardar os famosos
plantões, vídeos com Carlos Costa, um dos donos da Telexfree, que são
publicados no Facebook, para saber se vai tentar resgatar o que aplicou no grupo.
“A gente aprende com os erros. Todo mundo entrou com ganância. A empresa era
boa, mas a vontade de todos de lucrar levou a isso. Foi uma lição. Mas também
acho que a Justiça foi culpada pelos nossos prejuízos”, afirma o rapaz, que
colocou na época na faixa de R$ 6 mil.
Outro divulgador que também
pediu anonimato disse ter recuperado R$ 50 mil dos R$ 70 mil investidos ao
colocar o líder da empresa contra a parede. “Eu ainda continuei a cobrá-lo os
R$ 20 mil que perdi. Quando entrei, paguei direto a ele, que me deu bônus. Não
tenho comprovante das negociações. Foi tudo no boca a boca”, revela o
empresário, morador de Vitória.
US$ 3 bilhões
Foi o volume de negócios
realizados pela Telexfree. Empresa recrutou 4 milhões de pessoas em todo o
mundo.
Definição sobre divulgadores
pode levar mais de 10 anos
Embora em outubro do ano
passado, a Justiça do Acre tenha obrigado a Telexfree a devolver o dinheiro aos
divulgadores, a sentença que ainda condenou a empresa por pirâmide financeira
encontra vários empecilhos para ser cumprida. Além dos recursos que tramitam em
instâncias superiores, a Telexfree e os donos são alvo de outras medidas de
bloqueio de bens, decisões tomadas pela Justiça Federal no Espírito Santo, em
processos cautelares criminais e na área tributária.
Divulgadores e União disputam
R$ 700 milhões em dinheiro, depositados em contas judiciais, além de recursos
milionários que foram aplicados em renda fixa e em fundos de pensão. Estão
sequestrados ainda bens, como carros e imóveis. A Procuradoria da Fazenda, em
Vitória, já conseguiu penhorar parte das propriedades e aguarda a tramitação de
recursos na Receita Federal para cobrar o restante. Estima-se dívida de R$ 3,5
bilhões em PIS/Cofins, FGTS, INSS, Imposto de Renda e tributos sobre o lucro.
O caso pode demorar dez anos
ou até mais para se desenrolar como aconteceu com a Avestruz Master, empresa
semelhante à Telexfree, que depois de ter sido fechada em 2004, até hoje não
pagou aos associados.
O promotor de Justiça Marco
Aurélio Ribeiro diz que o processo da Telexfree é complexo, mas afirma que os
divulgadores podem buscar a Justiça em seus municípios para liquidar a sentença
e esperar pelo resultado. “Ainda que as pessoas não entendam, o bloqueio foi
uma forma de protegê-las. Em outras pirâmides recentes, os donos sumiram com o
dinheiro e ainda fugiram para outros países”.
G1
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