A crise entre o presidente
Jair Bolsonaro e a cúpula do PSL implodiu o único apoio fiel que o governo
tinha na Câmara. Incomodados com a ofensiva do Palácio do Planalto para
derrubar o líder da bancada, Delegado Waldir (PSL-GO), deputados do partido
ligados ao presidente da sigla, Luciano Bivar (PE), afirmam que passarão a
atuar de forma independente, o que significa contrariar os interesses do
governo em alguns casos.
Segundo levantamento do Estado
utilizando a ferramenta Basômetro, que mede o governismo de deputados e
partidos, o PSL é o partido que mais deu suporte às propostas de interesse do
governo na Câmara. Parlamentares da sigla votaram com Bolsonaro em 99% das
vezes – índice superior a DEM e Novo, que deram 94% dos votos alinhados ao
governo.
Entre os temas que os
“bivaristas” prometem encampar contrariando interesses do Planalto está a Proposta
de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a prisão após condenação em segunda
instância e a defesa das comissões parlamentares de inquérito (CPIs) da Lava
Toga e das Fake News.
“Não haverá consenso em todas
as pautas com o presidente Bolsonaro, o partido terá seu posicionamento”,
afirmou Waldir ao Estado. Segundo ele, o apoio às medidas econômicas, no
entanto, está garantido.
Apenas 10 dos 53 deputados do
PSL foram 100% fiéis a Bolsonaro
Dos 53 deputados do PSL,
apenas dez foram 100% fiéis a Bolsonaro até agora. Na lista estão Waldir e
Bivar, principais alvos do presidente. “Vamos apoiar as bandeiras de Bolsonaro
na campanha e que defendemos também. Mas, se aparecer algum projeto que diverge
do que ele defendeu, vamos votar contra”, afirmou o deputado Charles
Evangelista (PSL-MG).
Parlamentares apontam como
exemplo propostas que afrouxam o combate à corrupção. Na lista, a transferência
do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiros (Coaf) do Ministério
da Justiça para o Ministério da Economia. A mudança, que representou uma
derrota ao ministro Sérgio Moro, foi aprovada pelo Congresso em junho, com aval
do Planalto.
“Quando houver flexibilização
daquilo que o Brasil quer, merece e precisa, por óbvio que ninguém contará
comigo. Eu não faço jogo, não faço esquema”, afirmou a deputada Joice
Hasselmann (PSL-SP), destituída do posto de líder de governo no Congresso
anteontem após não endossar uma lista contra Waldir.
Bolsonaro atuou pessoalmente
para retirar o atual líder da bancada e emplacar no lugar o filho, Eduardo
Bolsonaro (PSL-SP). Os pedidos do presidente a deputados para que assinassem um
documento de apoio a Eduardo foram gravados e divulgados por bivaristas, o que
acirrou a crise entre as duas alas do partido.
O pano de fundo da disputa é o
controle do PSL, que se tornou uma superpotência ao receber o maior número de
votos para a Câmara no ano passado, na onda do “bolsonarismo”. Apenas neste
ano, a legenda deve receber R$ 150 milhões do Fundo Partidário, o maior valor
entre as 32 siglas do País.
Entre os deputados que
defenderam a permanência de Waldir na liderança, porém, há quem mantenha a
fidelidade ao governo. “Meu apoio ao presidente Jair Bolsonaro é incondicional.
Neste momento, o Brasil precisa do nosso trabalho e não de picuinhas que não
levam a nada”, afirmou a deputada Soraya Manato (PSL-ES).
O deputado Felipe Francischini
(PSL-PR), que preside a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), afirma que a
postura “independente” já era adotada por ele na condução do colegiado – o mais
importante da Câmara.
“Eu já tenho independência na
CCJ. Até porque hoje tudo o que eu pautei foi porque eu fui atrás”, afirmou o
parlamentar. “E vou continuar assim. Se a insanidade de alguns está ofuscando a
vista para um projeto de nação, não vai acontecer isso comigo".
Nesta semana, em uma reação ao
Supremo Tribunal Federal (STF), Fracischini decidiu acelerar a discussão da PEC
que prevê a prisão antecipada de réus após condenação em segunda instância. A
intenção é se antecipar a uma eventual mudança de entendimento do Supremo, que
começou na quinta-feira a julgar três ações sobre o tema.
Embora o governo não tenha se
posicionado sobre o assunto, uma postagem anteontem na conta de Bolsonaro no
Twitter em defesa da PEC foi apagada. Minutos depois, o vereador do Rio de
Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, admitiu ter sido o autor
da publicação no perfil do pai, mas sem autorização.
O Planalto tem adotado cautela
na relação com o STF e, em alguns casos, atuado para evitar que o Congresso
tome medidas que visem atingir ministros da Corte. É o caso, por exemplo, da
CPI da Lava Toga, que mira no chamado “ativismo judicial” de magistrados.
O pedido de criação da
comissão foi enterrado no Senado com a ajuda do senador Flávio Bolsonaro
(PSL-RJ), primogênito do presidente.
NoMinuto
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