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Ricardo Paes de Barros,
professor do Insper. (Foto: Valor / Anna Carolina Negri)
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Acusado pela presidente Dilma
Rousseff de querer acabar com os programas sociais caso assuma a Presidência, o
vice Michel Temer escalou o economista Ricardo Paes de Barros, referência em
desigualdade e pobreza, para formular um conjunto de propostas para a área.
Paes de Barros, um dos criadores do Bolsa-Família, trabalha há alguns meses na
plataforma, que deverá ser apresentada à sociedade em um prazo de sete a dez
dias, antes que o Senado vote o afastamento da petista.
Pronatec reforçado
Entre as principais propostas
que devem ser incluídas está o aumento do valor do benefício mensal do
Bolsa-Família, a retomada do Fundo de Financiamento estudantil (Fies) e dos
investimentos no Programa Nacional de Acesso ao Ensino técnico e Emprego
(Pronatec), além do reforço no programa Minha Casa Minha Vida, que pode voltar
às metas originais antes do ajuste fiscal.
O tamanho do incremento do
Bolsa Família, no entanto, ainda está em discussão entre o grupo de Temer, que,
além do próprio vice e de Paes de Barros, inclui ainda o ex-ministro Moreira
Franco e o analista político Gaudêncio Torquato. O aumento, no entanto, seria
uma medida de impacto a curto prazo, de acordo com o plano. O foco central
estará em promover portas de saída para que os beneficiários possam obter renda
suficiente para não dependerem do benefício. A aposta, nesse caso, seria na
educação.
Aliados do peemedebista
afirmam que o programa servirá como uma poderosa contra-ofensiva ao discurso do
PT de que Temer submeterá os brasileiros a sacrifícios em nome da adoção de um
ajuste fiscal.
Os formuladores do programa
garantem que o conteúdo do plano social deve surpreender pelo teor
progressista. O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), drasticamente cortado
nos últimos dois anos pela gestão Dilma, deverá ser retomado, junto com
investimentos no ensino técnico, por meio do Pronatec.
Os dois programas terão, no
entanto, metas reformuladas, e um novo sistema de métricas mediria a qualidade
e eficácia das ações. Raciocínio parecido servirá também para o Minha Casa
Minha Vida.
FIM DO "APARTHEID
SOCIAL"
A expectativa dos
peemedebistas é que o programa social de Temer convença políticos e eleitores
de que ele não fará um governo nem de esquerda, nem de direita. A ideia é
também reduzir as resistências de movimentos sociais a seu nome.
Por trás das propostas
estaria, segundo interlocutores, a vontade de Temer de acabar com o que chama
de “apartheid social”. Para tanto, seria necessário um salto na qualidade da
educação da população. O tema tornou-se assunto de predileção de Paes de Barros
nos últimos tempos. O economista, hoje também professor do Insper, participou
do governo Dilma até 2015 na Secretaria de Assuntos Estratégicos, comandada até
aquele momento por Moreira Franco.
ALTO IMPACTO A BAIXO CUSTO
Depois de deixar o governo,
foi um duro crítico do Plano Nacional de Educação (PNE) apresentado no ano
passado. À época, Paes de Barros afirmou que as metas apresentadas eram pouco
ambiciosas para a quantidade de recursos consumidos (10% do PIB). Segundo ele,
nos últimos 15 anos o Brasil foi capaz de diminuir o percentual de pobres de
15% para 3%, mas no mesmo período o analfabetismo teve redução muito mais
modesta, de 12% para 9%.
Em meio à crise econômica e à
queda da arrecadação fiscal, aliados de Temer rebatem o ceticismo no
investimento em programas sociais afirmando que Paes de Barros é obcecado em
desenhar programas que tenham o máximo de impacto social com o menor custo
possível, e que haverá um enxugamento da máquina estatal.
Redução de ministérios
Temer estuda ainda reduzir
entre cinco e sete o número de ministérios — hoje são 31 pastas. Isso seria
possível com a criação de “superministérios”. Agricultura e Desenvolvimento
Agrário, por exemplo, seriam fundidos. Uma pasta de infraestrutura combinaria
os atuais ministérios de Minas e Energia, Transportes e a Secretaria de Aviação
Civil.
Temer aposta ainda na retomada
de confiança do mercado no governo. Na noite de segunda-feira, ele jantou com o
ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga para sondá-lo sobre a
possibilidade de que ele assumisse o Ministério da Fazenda. Armínio Fraga, que
recentemente retomou seus negócios privados, declinou, mas afirmou que
apresentará ideias para a nova política econômica.
O Globo
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