![]() |
Assaltantes fazem ataque a
empresa de valores em Ciudad del Este, no Paraguai. (Foto: Christian
Rizzi/Fotoarena / Agência O Globo)
|
Autoridades paraguaias
suspeitam que a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) está por trás
do roubo de US$ 40 milhões da transportadora de valores Prosegur em Ciudad del
Este, na fronteira com o Brasil. Na madrugada de segunda-feira, cerca de 50
assaltantes armados com fuzis e explosivos invadiram a empresa, que fica a
quatro quilômetros da Ponte da Amizade, e levaram o equivalente a R$ 124,8
milhões no que está sendo considerado o maior roubo da História do Paraguai. Ao
longo do dia, três suspeitos e um policial paraguaio foram mortos na fronteira
entre os países. Ao menos dois homens foram presos. Policiais brasileiros
localizaram carros, um barco, armamento pesado e malotes da Prosegur. Todos
vazios.
Investigações feitas pela
Polícia Civil e pelo Ministério Público Estadual de São Paulo nos últimos anos
reforçam as suspeitas da polícia paraguaia sobre o envolvimento do crime
organizado no assalto à Prosegur. A atuação da facção paulista no Paraguai
ficou mais visível em junho de 2016, depois do assassinato de Jorge Rafaat
Toumani, de 56 anos, em Pedro Juan Caballero, também na fronteira com o Brasil.
Conhecido como “o rei do tráfico”, Rafaat foi alvo de uma emboscada no centro
da cidade enquanto dirigia uma caminhonete blindada. A proteção não foi
suficiente para parar os tiros de metralhadora calibre ponto 50, o mais potente
disponível em armamentos individuais.
Após derrubar o “rei do
tráfico”, os criminosos paulistas teriam assumido o controle do tráfico de
drogas na região, segundo o MP. Para os investigadores, a disputa pela rota da
Bolívia e Paraguai foi o estopim para a guerra com o Comando Vermelho (CV), que
causou a morte de mais de cem presos em cadeias do Norte e Nordeste no início
deste ano.
— Após a morte do Rafaat, o
PCC consolidou o monopólio do tráfico de drogas na região, que é muito mais
estruturado e lucrativo do que as rotas do Norte do país — afirma o procurador
do Ministério Público de São Paulo Márcio Sérgio Christino, responsável por
investigar o crime organizado nos últimos anos. — A facção tem uma atividade
principal: o tráfico de drogas. Mas o resto, a facção faz de acordo com a
oportunidade: assaltos, sequestros.
Para Christino, o roubo da
Prosegur no Paraguai tem as mesmas características que assaltos que ocorreram
no interior de São Paulo e no Nordeste do Brasil nos últimos anos:
— É o mesmo modus operandi:
grande número de pessoas, uso de armamento pesado, que não tem parâmetro em
qualquer polícia, talvez só no Exército, uma estratégia de cerco e fuga. Não é
qualquer quadrilha que consegue fazer um mega-assalto como esse.
PREJUÍZOS DE R$ 135 MILHÕES
Ao investigar cinco roubos a
transportadoras de valores que ocorreram em São Paulo em 2016, o Departamento
de Investigações Sobre o Crime Organizado (Deic) identificou a presença da
facção paulista em três casos, que, somados, causaram prejuízos de ao menos R$
135 milhões. Onze pessoas foram presas após ataques à Prosegur, em Santos e em
Ribeirão Preto, e à Protege, em Campinas.
No caso mais recente, em 5
julho do ano passado, assaltantes trocaram tiros com a polícia, incendiaram
veículos e explodiram um transformador de energia antes de fugir com cerca de
R$ 51 milhões da Prosegur de Ribeirão Preto. A polícia estima que cerca de 40
pessoas participaram da ação em Ribeirão Preto, divididas em 15 veículos. Um
morador de rua e um dos suspeitos morreram no tiroteio. Oito pessoas foram
denunciadas pelo crime, incluindo dois vigias que teriam fornecido informações
privilegiadas à quadrilha. O roteiro se repetiu com pequenas mudanças nos
demais crimes, segundo a investigação.
Durante coletiva de imprensa
na tarde de segunda-feira, o delegado Fabiano Bordignon, chefe da Polícia
Federal em Foz do Iguaçu, disse que policiais dos dois países vão continuar
trabalhando para tentar encontrar outros suspeitos. Ele concordou que roubos
como o da Prosegur precisam de planejamento grande e não pode ser feito por
qualquer quadrilha.
A identidade dos suspeitos
mortos e presos ontem após trocar tiros com a polícia brasileira em
Itaipulândia, às margens do lago de Itaipu, não foi revelada. O ministro do
Interior do Paraguai, Lorenzo Lezcano, também participou da entrevista e disse
ter evidências de que a quadrilha era formada por brasileiros. Testemunhas do
crime contaram à polícia paraguaia que os criminosos falavam português.
Ainda na segunda-feira, o
ministro do Interior da Bolívia também mostrou preocupação com a atuação de
criminosos brasileiros em assaltos a transportadoras de valores. Em março, um
caminhão blindado da Brinks foi roubado no país e um brasileiro foi apontado
como mandante.
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Reflita, analise e comente