O polêmico 'Jogo da Baleia
Azul' – que tenta virtualmente induzir seus participantes ao suicídio ao final
de 50 desafios – também preocupa famílias e instituições no Rio Grande do
Norte. Nesta quinta (20), a Promotoria de Defesa da Infância e Juventude da
comarca de Macau, distante 170 quilômetros de Natal, deu início a um trabalho
de proteção e orientação aos pais e responsáveis por crianças e adolescentes da
cidade. Lá, pelo menos duas adolescentes, uma de 13 e outra de 14 anos, já
estariam envolvidas. O Conselho Tutelar, que colabora com o trabalho de
prevenção, foi chamado pelas escolas onde as meninas estudam.
Segundo o Ministério Público
do Estado, a partir de uma denúncia anônima, se tomou conhecimento de possíveis
vítimas do jogo em Macau. “E, como forma de investigar os fatos, a 1ª
Promotoria de Justiça, através da representante ministerial, promotora de
Justiça Isabel de Siqueira Menezes, buscou o Conselho Tutelar a fim de adotar
as primeiras providências junto às famílias”.
Uma promotora de Justiça de
Macau, acompanhada de uma assistente social do MP e do presidente do Conselho
Tutelar da cidade foram às rádios locais prestar informações sobre o jogo. O
objetivo foi esclarecer a população sobre os perigos do uso indiscriminado da
internet por crianças e adolescentes, bem como os meios de proteção e ajuda às
eventuais vítimas.
Confira AQUI o comunicado
elaborado pela Promotoria de Justiça de Macau. O documento será publicado nas
escolas, bem como em toda rede de atendimento municipal.
Vítimas
Uma equipa da Inter TV Cabugi
também foi a Macau. Lá, conversou com as famílias das duas adolescentes. A mãe
da garota de 13 anos contou que percebeu cortes no braço da filha e, no dia
seguinte, foi chamada à escola pela diretora. Ela contou que a filha é uma
menina séria, fechada e que não gosta de conversar com ninguém.
Já a mãe da adolescente de 14
anos contou que entrou em choque quando descobriu o que estava acontecendo com
a filha. "Eu simplesmente surtei, enlouqueci. Procurei a escola”,
acrescentou. No colégio, a diretora revelou que foram os próprios colegas de
turma que alertaram para o que estava acontecendo.
As duas escolas dizem que já
tomaram medidas para tentar identificar que está propondo os desafios às
estudantes. “Nós chamamos o Conselho Tutelar para que fossem feitos registros
dessas situações. Queremos descobrir quem está a frente desses grupos”, disse
uma das diretoras.
Valorização da Vida
No Rio Grande do Norte, o
Centro de Valorização da Vida oferece apoio emocional e preventivo ao suicídio.
Os atendimentos são feitos pelo telefone (84) 3221-4111, de forma gratuita. De
acordo com Ciro Sampaio, coordenador do CVV em Natal, o serviço recebe cerca de
2 mil ligações por mês. Contudo, nas duas últimas semanas, o número de ligações
aumentou em mais de 30% – todas relacionadas ao jogo da Baleia Azul.
Recomendações
As recomendações para as
famílias são: monitorar o uso da internet, frequentar as redes sociais dos
filhos, observar comportamentos estranhos e, sobretudo, conversar e
conscientizar os adolescentes a respeito das consequências de práticas que nada
têm de brincadeira. Atenção redobrada com os jovens que apresentem tendência a
depressão, pois eles costumam ser especialmente atraídos por jogos como o da
Baleia Azul.
Também as escolas devem
colocar o assunto em pauta e incorporar no currículo, cada vez mais, a educação
para a valorização da vida, o respeito pela vida dos outros e o uso consciente
das mídias e tecnologias.
O portal G1 ouviu
especialistas que dão dicas de como lidar com o tema:
1. Fique atento à mudança de
comportamento
Uma mudança brusca de
comportamento pode ser sinal de que a criança ou o adolescente esteja sofrendo
com algo que não saiba lidar, segundo Elizabeth dos Reis Sanada, doutora em
psicologia escolar e docente no Instituto Singularidades.
“Isolamento, mudança no
apetite, o fato de o adolescente passar muito tempo fechado no quarto ou usar
roupas para se esquivar de mostrar o corpo são pistas de que sofre algo que não
consegue falar”, diz.
2. Compartilhe projetos de
vida
Para entender se a criança ou
adolescente está com problemas é fundamental que os pais se interessem por sua
rotina. Elizabeth reforça que este deve ser um desejo genuíno, e não momentâneo
por conta da repercussão do “Jogo da Baleia”.
“Os pais devem conhecer a
rotina dos filhos, entender o que fazem, conhecer os amigos”, afirma a
Elizabeth. Ela lembra que muitos adolescentes “falam” abertamente sobre a falta
de motivação de viver nas redes sociais. Aos pais cabe incentivar que os filhos
tenham projetos para o futuro, tracem metas como uma viagem, por exemplo, e até
algo mais simples, como definir a programação do fim de semana.
3. Abra espaço para diálogo
Filhos devem se sentir
acolhidos no âmbito familiar, por isso, Elizabeth reforça que é necessário que
os pais revertam suas expectativas em relação a eles. “É preciso que o
adolescente se sinta à vontade para falar de suas frustações e se sinta
apoiado. Se ele tiver um espaço para dividir suas angústias e for escutado, tem
um fator de proteção”, afirma Elizabeth.
Angela Bley, psicóloga
coordenadora do instituto de psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, diz que o
adolescente com autoestima baixa, sem vínculo familiar fortalecido é mais
vulnerável a cair neste tipo de armadilha. “O que tem diálogo em casa, não é
criticado o tempo todo, tem autoestima melhor, tem risco menor. Deixe que ele
fale sobre o jogo, o que sente, é um momento de diálogo entre a família”.
Angela reforça que muitas
vezes o adolescente não tem capacidade de discernir sobre todo o conteúdo ao
qual é exposto. “Por isso é importante o diálogo franco. Não pode fingir que
esse tipo de coisa não existe porque ele sabe que existe”.
4. Adolescentes devem buscar
aliados
O adolescente precisa buscar
as pessoas em que confia para compartilhar seus anseios, seja no ambiente
escolar ou familiar, segundo as especialistas. “Que ele não ceda às ameaças de
quem já está em contato com o jogo e entenda que quem está a frente deles são
manipuladores”, diz Elizabeth.
5. Escolas podem criar iniciativas
pela vida
Assim como a família, as
escolas podem ajudar a identificar situações de risco entre os alunos. “Não é
qualquer criança que vai responder ao chamado de um jogo como esse, são os que
têm situações de vulnerabilidade. A escola ajuda a construir laços e tem papel
fundamental de perceber como os alunos se desenvolvem”, afirma Elizabeth.
Alguns colégios, já cientes da
viralização do jogo, começaram a pensar em alternativas para aumentar a
conscientização sobre a importância de cuidade da vida. No Colégio Fecap, que
fica na Região Central de São Paulo, essa ideia virou projeto escolar: a turma
de alunos do ensino médio técnico de programação de jogos digitais começou a
criar uma espécie de “contra-jogo” da Baleia Azul. “O jogo ainda está sendo
produzido pelos alunos. Eles estão se reunindo e debatendo a questão. Serão 15
desafios de como desfrutar melhor da vida e celebrá-la”, conta o professor
Marcelo Krokoscz, diretor do colégio.
Durante o curso, os estudantes
aprender a aplicar linguagens de programação para criar jogos para
computadores, videogame, internet e celulares, trabalhando desde a formação de
personagens, roteiros e cenários até a programação do jogo em si. Segundo
Krokoscz, a ideia é que o jogo, ainda sem prazo de lançamento, esteja
disponível on-line para o público em geral.
Ele afirma que o objetivo é a
ajudar os jovens a verem o lado bom da vida. “Impacta mais fortemente nossos
alunos a partir do momento que eles mesmos criam um jogo a favor da vida”.
G1RN
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