“A Copa do Mundo pode ser um
tiro no pé”. Se essa frase fosse dita um ano atrás por qualquer empresário ou
líder patronal, possivelmente seu autor seria execrado em praça pública.
Mas, nesta sexta-feira, ela
foi repetida mais de uma vez pelo presidente da Associação Brasileira da
Indústria Hoteleira do Rio Grande do Norte, Habib Chalita, durante entrevista
coletiva para mostrar os resultados de uma pesquisa encomendada pela ABIH/RN
sobre a importância do turismo para a população potiguar.
Realizada na última quinzena
de maio junto a um universo de 800 pessoas em Natal, a sondagem assinada pela
Consult, a mesma empresa que recentemente conduziu uma radiografia da
construção civil para o Sinduscon/RN, mostrou, entre outras coisas, que a
população já identificou o Governo do Estado, com alguma colaboração da
Prefeitura de Natal, como protagonistas no processo de esquecimento do turismo
como agente de desenvolvimento econômico.
A pesquisa primeiramente
mostra toda a importância que a população da capital atribui à atividade do
turismo como gerador de riqueza para, em seguida, colocar os poderes
constituídos como os mesmos que não reconhecem essa condição.
Ao analisar as informações
capturadas no trabalho realizado na última semana de maio, entregue à ABIH
local na segunda quinzena de junho e guardada a sete chaves enquanto a
diretoria da associação resolvia o que fazer com elas, Habib Chalita fez uma
previsão ainda mais sombria: “do jeito que as coisas vão, a rede hoteleira de
Natal não conseguirá uma ocupação de 85% durante o evento Copa do Mundo”.
Indagado de onde tirou tanto
pessimismo, ele disse que o fator “divulgação deficiente” se encarregará de
roubar da cidade todas as possibilidades
na comparação com outras sedes da Copa, como Recife, aonde a distância
da Arena Pernambuco vem sendo considerada entre os grandes obstáculos a serem
enfrentados pelo turista.
“A gente sabe que quem for
inteligente pode se basear em Natal para acompanhar os jogos em outras sedes
nordestinas da Copa, já que a nossa Arena das Dunas estará a poucos minutos de
qualquer hotel”, lembrou Chalita.
O problema, segundo ele, é que
os atrasos nas obras de mobilidade e a falta de um planejamento tripartite,
envolvendo Estado, prefeitura e iniciativa privada, podem colocar tudo a
perder. “Pedimos apenas bom senso por parte das autoridades, pois a situação se
afigura, faltando um ano para a Copa, extremamente preocupante”, afirmou
Chalita.
De acordo com a pesquisa
Consult, 55% consideram a atividade turística “muito importante” e 33,88%
importante. E 43% acham que o Governo do Estado não incentiva o turismo como
devia, enquanto 42% têm a mesma opinião sobre a presença da prefeitura de
Natal.
Diante de questionários de
múltipla escolha, 57,9% dos entrevistados apontaram a divulgação como principal
prioridade de ação turística, mais até do que a qualificação profissional, que
ficou com 43,6%.
“Eu nem concordo com essa
prioridade, acho que a qualificação deveria vir em primeiro lugar, mas isso
reforça a idéia geral que sem divulgação do destino nós teremos uma resposta
insuficiente”, analisou Chalita.
Um dado interessante da
pesquisa é quando se pergunta o que deve ser uma prioridade da prefeitura na
tarefa de atrair turistas. A resposta de 47,3% vai para a limpeza urbana, com o
cuidado das praias com 31% e (novamente) a divulgação com 25,6%.
Para o presidente da ABIH/RN,
o sinal de alerta já foi dado. De uma ocupação hoteleira com média de 85% a
90%, em 2010, a rede hoteleira de Natal exibe preocupantes 60% a 65% no
primeiro semestre deste ano.
Dos seis hotéis que estavam
projetados para estarem funcionando até o evento da Copa, em 2014, será sorte
se dois abrirem as portas. Dos investimentos previstos há dois anos pela
hotelaria da ordem de R$ 360 milhões, apenas – e com sorte – R$ 160 milhões
serão concretizados.
Habib Chalita tem uma
explicação racional para o problema. O turismo está no sangue, no DNA, do Rio
Grande do Norte. Só que as políticas de desenvolvimento econômico não conseguem
enxergar isso e nem tratar o tema como um desafio de “Estado” e não de
“Governo”.
Essa miopia, Chalita tem
certeza, vai custar muito caro quando, no ano que vem a Copa do Mundo mostrar à
incapacidade dos gestores públicos de aproveitaram as grandes oportunidades que
se apresentam.
Fonte: Jornal de Hoje
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