Falha humana, defeito no
guindaste e instabilidade do terreno são as principais hipóteses investigadas
pela Polícia Civil de São Paulo para tentar
encontrar a causa do acidente que
matou dois operários na quarta-feira (27) nas obras do estádio do Corinthians,
em Itaquera, Zona Leste, local escolhido para a abertura da Copa do Mundo, em
junho de 2014.
“Tem que apurar se houve falha
humana, problema mecânico ou instabilidade do terreno”, disse nesta
quinta-feira (28) ao G1 o delegado Luiz Antonio da Cruz, titular do 65º
Distrito Policial, Artur Alvim.
O delegado e seus investigadores
apuram as circunstâncias e eventuais responsabilidades pela queda de parte da
cobertura do estádio que era içada por um guindaste que tombou, derrubando a
peça de cerca de 400 toneladas sobre dois funcionários. O motorista Fábio Luiz
Pereira, de 41 anos, que estava dormindo num caminhão, e o montador Ronaldo
Oliveira dos Santos, 43, que estava perto de um banheiro químico, foram
atingidos e morreram.
Inquérito policial apura o
crime previsto nos artigos 256 e 258 do Código Penal que tratam,
respectivamente, de "causar desabamento ou desmoronamento, expondo a
perigo de vida, a integridade física ou patrimônio de outrem", e "se
do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a
pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada
em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena
aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio
culposo, aumentada de um terço.”.
No caso de condenação, o
artigo 256 determina que a pena vai de um a quatro anos de prisão.
Para tentar esclarecer as
causas do acidente, a polícia vai ouvir depoimentos, entre eles de testemunhas,
sobreviventes, operários, representantes das empresas responsáveis pela obra,
Corpo de Bombeiros e Defesa Civil. Também irá requisitar documentos técnicos da
construção e aguardar o resultado dos laudos periciais da Polícia
Técnico-Científica.
Peritos do Instituto de
Criminalística (IC) deverão ir ao estádio para analisar e determinar o que
provocou o acidente. Geralmente, o resultado dos trabalhos é feito em 30 dias.
Quem determina a causa da morte dos funcionários é o Instituto Médico Legal
(IML), que deverá apontar esmagamento das vítimas.
Cinco pessoas já foram ouvidas
pela polícia na quarta-feira, segundo o delegado: três empregados da Odebrecht,
empresa responsável pela construção da obra, e dois policiais militares que
realizaram os primeiros atendimentos no local do acidente.
“Desses depoimentos, o mais
importante foi de um engenheiro que informou que esse guindaste já havia
colocado todas as outras peças e iria colocar a última parte da peça metálica”,
disse o delegado Luiz Antonio da Cruz, que também ouviu uma administradora e um
técnico de segurança do trabalho da Odebrecht.
Ele não pretende ouvir
depoimentos nesta quinta. Para tentar saber se houve falha humana, a polícia
quer falar, entre esta sexta-feira (29) e segunda-feira (2), com o operador do
guindaste, José Walter Joaquim, de 56 anos. Procurada pela equipe de reportagem,
a assessoria de imprensa da Locar, dona da máquina, o funcionário trabalha na
empresa, mas “está abalado e só irá falar com a polícia”.
“Para apurar a hipótese de
falha humano quero saber do maquinista se ele ficou nervoso, se errou no
içamento da peça, no cálculo etc”, comentou o delegado, que também apura a
possibilidade de falha mecânica no guindaste e de instabilidade do terreno, na
hipótese de ter havido movimentação de terra, por exemplo, que fez a máquina
tombar de derrubar a peça.
“Mas quem dirá mesmo à
investigação qual foi a causa do acidente será a perícia. Por isso é importante
aguardar o laudo”, disse Antonio da Cruz.
'Falha de procedimento'
O coordenador da Defesa Civil
em São Paulo, Paca de Lima, afirmou que, ao inspecionarem o chão onde o
guindaste que desabou estava apoiado, não foi possível perceber qualquer tipo
de falha no solo.
Para ele, o mais provável é
que tenha ocorrido "uma falha de procedimento", mas Paca de Lima não
deu mais detalhes da suspeita. "A perícia que vai dizer a causa do
acidente", ressaltou Lima.
Fábio Luiz Pereira, de 42
anos, motorista e operador de guindaste do tipo munck da empresa BHM, e Ronaldo
Oliveira dos Santos, 44 anos, montador da empresa Conecta, morreram no
acidente, quando um guindaste erguia uma peça de 420 toneladas. Cerca de 30
funcionários trabalhavam na operação, enquanto os outros estavam em horário de
almoço.
Apurações
Além da Polícia Civil, o
Ministério Público Estadual (MPE) e o Ministério Público do Trabalho (MPT)
investigam as causas e prováveis responsabilidades pelo acidente com mortes no
estádio do Corinthians.
Nesta quinta-feira, a Defesa
Civil realiza uma nova vistoria no canteiro de obras da arena. Os trabalhos
começaram por volta das 10h30.
A Defesa Civil já havia
interditado 30% de uma das alas do estádio, uma área de cerca de 5 mil metros
quadrados. Apesar da interdição e da nova vistoria, o coordenador do órgão,
Jair Paca de Lima, tinha dito na quarta que as obras poderão continuar nos
demais setores.
O MPE também informou que fará
uma vistoria nos próximos dias e exigirá laudos da Polícia Técnico-Científica
para avaliar se pedirá à Justiça a paralisação total das obras do estádio.
Na manhã desta quinta-feira,
nenhum funcionário foi visto funcionário no canteiro de obras e as máquinas
estavam paralisadas. A Odebrecht e o Corinthians, parceiros responsáveis pelo
estádio, informaram em nota, que as obras da Arena Corinthians serão retomadas
na segunda-feira (2).
O corpo do operador de
caminhão Fábio Luís Pereira, que morreu no acidente foi liberado do IML na
manhã desta quinta e levado a Limeira, cidade no interior paulista onde Pereira
vivia com a mulher e três filhas.
O corpo de Ronaldo Oliveira
dos Santos também já foi liberado pelo IML. A Secretaria da Segurança Pública
(SSP) não informou o local do enterro.
Odebrecht e Corinthians
Segundo a Odebrecht, o
acidente ocorreu na 38ª vez em que um módulo da estrutura da cobertura era
içado. "Uma peça de igual proporção foi instalada há pouco mais de uma
semana no setor sul do estádio", informou a empresa em nota.
O ex-presidente do Corinthians
Andrés Sanchez afirmou na quarta que Odebrecht e o clube de futebol não têm
estimativa de qual será o impacto do desabamento no cronograma das obras do
estádio. "Não estamos nem pensando nisso, as autoridades vão fazer o que
precisa ser feito. O que menos estamos preocupados é cronograma, prazos.
Estamos preocupados em atender as famílias das vítimas", disse Sanchez.
Odebrechet e Corinthians
também afirmaram na quarta, em pronunciamento conjunto, que somente a perícia
vai determinar a causa do acidente.
O gerente operacional da obra,
Frederico Barbosa, afirmou que todo o procedimento para colocação da estrutura
envolvida no acidente foi feito conforme os procedimentos indicados. "Essa
peça está içada desde ontem. As condições eram favoráveis", disse.
Barbosa disse que checou
pessoalmente as condições de vento e temperatura para autorizar o içamento da
peça de 420 toneladas – o guindaste tinha capacidade para erguer cerca de 1,5
mil toneladas.
“A operação estava correta,
faz parte do procedimento, nada fora do que estava programado, tinha acabado de
chover, tínhamos esperado uma semana para fazer o procedimento”, afirmou.
G1
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