O mar de lama da mineradora
Samarco chegará ao Oceano Atlântico, na costa do Espírito Santo, na próxima
sexta-feira, de acordo com o cálculo informado ontem à noite ao Ibama. Os
rejeitos da mineradora Samarco passaram a ser transportados com mais velocidade
no leito do Rio Doce. À tarde, a presidente do Ibama, Marilene Ramos, ainda
esperava a chegada da lama à foz do rio somente no próximo domingo.
Marilene dá como certa a
contaminação do mar pelos rejeitos da mineradora e diz que novas multas, cada
uma com valor máximo de R$ 50 milhões, poderão ser aplicadas. A Samarco já
tinha sido multada em R$ 250 milhões pelo Ibama, na semana passada.
A presidente do Ibama listou
cinco novos impactos: contaminação da foz do rio, ambientalmente sensível e com
áreas de reprodução de tartarugas e de formação de ninhos de aves; ameaça às
espécies de peixes na zona costeira; falta de água em Colatina (ES); impactos
nos reservatórios de usinas hidrelétricas; e contaminação de unidades de
conservação. Cada episódio pode render nova multa máxima de R$ 50 milhões, o
que totalizaria mais R$ 250 milhões. Os danos ainda serão avaliados.
Marilene disse que, somente
num trecho já avaliado pelos técnicos do Ibama, pelo menos 900 hectares de
preservação permanente foram destruídos (o equivalente a 900 campos de
futebol).
— A lama poderá chegar de
forma mais amortecida (ao mar), mas alguma coisa vai chegar, certamente.
Estamos nos preparando para o pior, que é chegar um nível de turbidez elevado e
isso impactar na ictiofauna, na fauna que vive nessas áreas úmidas, ou até uma
impossibilidade de captação e abastecimento de água em Colatina — diz ela.
A interrupção do abastecimento
de água em Governador Valadares (MG) foi a razão de uma das cinco multas
aplicadas pelo Ibama na semana passada, no valor máximo de R$ 50 milhões cada.
As outras quatro se referiram a morte de espécies, destruição de áreas urbanas,
risco à saúde humana e lançamento dos rejeitos no Rio Doce.
A presidente do Ibama defende
o reajuste do valor máximo das multas, previsto em lei de 1998 e congelado
desde então. Segundo Marilene, as tarifas do Ibama estavam sem reajuste desde
2000 e passaram por um aumento recente de 170%. Levando em conta esse
parâmetro, o valor da multa máxima saltaria, pelo menos, para R$ 135 milhões.
Marilene diz que o Ibama vai elaborar um projeto de lei a respeito.
O fato de ter havido cinco
rompimentos de barragens de mineração em pouco mais de dez anos é “um fator de
alerta”, segundo a presidente do Ibama:
— Precisamos rever a
metodologia de cálculos e de construção de barragens. O próprio governo federal
está começando essa discussão e pretendemos nos inserir nesse debate, pois o
dano ambiental acaba recaindo sobre o Ibama.
Para Marilene, o que ocorreu
foi um desastre ambiental:
— Só uma investigação vai
mostrar as causas, até para prevenir eventos futuros. As ações serão no curto,
médio e longo prazo. A bacia precisará ser monitorada. Vamos notificar a
empresa para que apresente um plano de recuperação.
O Globo
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