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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Relator vota a favor do processo contra Cunha, e sessão é suspensa

Após pedido de vista, presidente do Conselho de Ética marcou votação do relatório para a próxima terça-feira - Jorge William / Agência O Globo
O deputado Fausto Pinato (PRB-SP), relator do processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, no Conselho de Ética, acatou nesta terça-feira a denúncia contra o peemedebista, porque considerou que, em tese, os fatos imputados contra ele constituem falta de decoro. Após a leitura do relatório, aliados de Cunha pediram vista do processo, como era esperado. O pedido foi feito pelo deputado Sérgio Brito (PSD-BA) e, em seguida, outros deputados o acompanharam, transformando o pedido em coletivo. O presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), então, encerrou a sessão e marcou para a próxima terça-feira a votação do relatório de Pinato pela admissibilidade do processo.

Em seu relatório, Pinato afirma que há indícios suficientes para levar adiante o processo. "Os documentos que acompanham a representação constituem, decerto, suporte indiciário suficiente a permitir o prosseguimento do feito". O relator observou que a aceitação da denúncia não configura prejulgamento. "Pode-se entender por justa causa o lastro probatório mínimo para a deflagração do procedimento disciplinar, contendo indícios de autoria (pessoa suspeita), e a prova da materialidade (prova da existência da conduta desviante). Pinato também afirma que “não resta outra conclusão senão a de que há justa causa para o prosseguimento do feito”. 

Ainda de acordo com o relatório, "o arquivamento inicial da representação seria extremamente temerário, e passaria a impressão à sociedade brasileira de que este Parlamento não atua com cuidado, cautela e espírito público de transparência"

No relatório, Pinato destaca que, em ofício, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, confirmou a existência de contas bancárias em nome de Eduardo Cunha e de seus familiares na Suíça, que elas foram bloqueadas, e informou ainda que a investigação que envolve Cunha diz respeito a crimes de lavagem de dinheiro e corrupção.

Pinato diz ainda que a afirmação de Cunha, na CPI da Petrobras, de que não teria contas além daquelas declaradas em seu imposto de renda, deve ser “melhor analisada”.

 “Não havendo evidências da atipicidade do fato, ausência de indícios e de extinção da punibilidade, que possam descaracterizar a justa causa, levando ainda em consideração a necessidade de proteção da honra objetiva da Câmara dos deputados perante a sociedade brasileira, a gravidade dos fatos imputados ao representado e o conjunto de fatos reunidos nos autos, não resta outra conclusão, senão a de que há justa causa para o prosseguimento do feito”, conclui Pinato.

A defesa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no Conselho de Ética, pediu a substituição do relator do processo contra o peemedebista no colegiado. O advogado Marcelo Nobre alegou que Pinato antecipou seu parecer antes de ter ouvido a defesa e, por esse motivo, estaria sob suspeição.

– Essa preliminar nos assusta e nos preocupa. Avocamos preliminarmente a suspeição do relator para que, da mesma forma que esse conselho decidiu em caso anterior, possa este deputado ser retirado por conta da antecipação pública que fez – afirmou Marcelo Nobre.

Marcelo Nobre citou o caso, em 2009, do afastamento do relator do processo contra o então deputado Edmar Moreira, por ter antecipado seu voto sobre a acusação. Na ocasião, o presidente do conselho, que também era José Carlos Araújo, determinou o afastamento de Sergio Moraes (PTB-RS) do caso.

– O que indigna é que o relator não nos aguardou, não teve interesse em se preocupar com os argumentos que defesa traria. Qual o receio? Qual o problema? A defesa está aqui para colaborar – disse Marcelo Nobre.

Pinato se defendeu do pedido de suspeição e disse que não irá deixar a relatoria. Ele disse que, no caso de Edmar Moreira, o relator teria se antecipado ao mérito do processo:

– O relator não está vinculado à defesa prévia para apresentar seu exame de admissibilidade. Depois disso, será aberto todo prazo de defesa e contraditório. Quando há manifestação de mérito fora dos autos, antecipadamente, em tese, surge hipótese de suspeição. Não reconheço o pedido de afastamento e não me afastarei. Reafirmo minha capacidade de julgar o processo – pontuou Pinato.

O presidente do conselho afirmou que a decisão sobre a suspeição é de “foro íntimo” por parte do relator.

PRESIDENTE DO CONSELHO NEGA COMBINAÇÃO
A sessão de hoje foi iniciada pelo presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PSD-BA), que contestou informações de que teria atropelado o regimento na sessão de quinta-feira passada, quando foi acusado por aliados de Cunha de ultrapassar os 30 minutos previstos no regimento para que houvesse quórum. Araújo disse ainda que a sessão de quinta não deliberou nada e que, por isso, não havia sentido em pedir o anulamento da sessão, como sugeriram alguns deputados ligados a Cunha.

Araújo refutou ainda que estivesse fazendo qualquer tipo de combinação no conselho.

– Não vou beneficiar ninguém, nem vou acusar ninguém. Estou aqui para julgar, Uma tarefa árdua, difícil, que não faço por prazer, mas tenho que fazê-lo bem, sendo direito e sério, como sempre fui na minha vida política. Não vou arredar um passo dessa linha. Tenho filhos, netos e mulher e não quero chegar em casa e me envergonhar – disse.

O presidente do Conselho de Ética afirmou esperar que a sessão de hoje ocorra “em paz”.

– Hoje estamos em outro clima, as coisas estão bem mais calmas, transcorrendo em paz e espero que isso siga assim até o final – afirmou.

O Globo

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