A Aeronáutica brasileira
possui arquivos de aparições de objetos não-identificados desde o início da
década de 1950. Os documentos liberados pela FAB dizem respeito a um período de
1952 a 2010. O Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra) apontou, em
dois relatórios, 710 ocorrências em todo o país entre 1954 e 2005.
A reportagem do Novo Jornal encontrou,
em consulta ao Sistema de Informações do Arquivo Nacional (Sian), alguns
documentos relativos a OVNIs avistados nos céus potiguares, muitos dos quais
fora dos relatórios do Comdabra.
Passava pouco das 6h30 do dia
28 de junho quando o vôo 2348 da Varig, entre Recife-PE e Natal se encaminhava
para chegar à capital potiguar. O
piloto, que não é identificado na ocorrência com “tráfego hotel” – eufemismo
utilizado pela Aeronáutica para avistamento de OVNI – anotada pelo Sargento
Aragão, relatava um céu “cavok”, um termo utilizado pelos aviadores para o
popular “céu de brigadeiro”.
A pouco menos de 40 km de
Natal e já em processo de diminuição de altitude, em contato com a torre de
controle do Aeroporto Augusto Severo, o comandante do vôo passa a relatar que
uma luz de intensidade variante estava seguindo o avião, pelo lado esquerdo.
“Pela apresentação radar não havia nada, nenhum outro tráfego naquele local”,
anotou o Sargento Aragão. A luz seguiu o avião da Varig até ele descer no
antigo aeroporto internacional, em Parnamirim, por volta das 6h50.
A ocorrência mais recente de
avistamento de OVNI apontada nos documentos liberados da Aeronáutica foi em 19
de julho de 2009.
Por uma hora e 30 minutos, a
geógrafa Josiane Moura da Rocha relatou ao 1º Tenente Antônio Maerton de
Medeiros Lopes ter visto dois objetos de cores azul e vermelho trafegando em
zigue-zague por cima da Lagoa do Carcará, em Nísia Floresta.
De acordo com o relatório
encaminhado para o Comdabra, os objetos tinham formato de estrela e alternavam
momentos de movimentação rápida e lenta, sem deixar rastros ou emitir sons.
Contato de rebocador com
“luzes” no RN foi parar no comando da FAB
O único caso envolvendo o RN
incluído nos relatórios liberados do Comdabra sobre OVNIs foi em 1980. O
documento de 43 páginas produzido pelo Tenente-Coronel Aviador Francisco José
Hennemann Filho, diretor do Centro de Lançamento de Foguetes da Barreira do
Interno (CLFBI), foi parar no gabinete do Tenente-Brigadeiro Délio Jardim de
Mattos, então comandante da Aeronáutica, marcado com o assunto “OVNI”. O
relatório também envolveu o 3º Distrito Naval da Marinha, que repassou
inicialmente o caso para a FAB.
O rebocador Caioba Seahorse
reportou, através de mensagem por rádio, por volta das 19h do dia 27 de julho
daquele ano terem avistado “objeto todo iluminado exclusivamente com luzes
branca a cerca de 100 metros de distância pela proa”, a uma altura entre 50 e
60 metros. O barco estava a cerca de 12 milhas (19,3 km) da praia de Pititinga,
no Litoral Norte potiguar.
Os relatos feitos pelo marinheiro
Ivan de Souza Melo e o imediato português Fernando Fangueiro indicam que uma
luz parecida com a “estrela d’alva” pairava sobre o oceano, entrava na água,
sumia e depois voltava a brilhar. O objeto também emitia luzes azul e laranja,
além de reluzir um facho branco em direção ao mar.
A lancha Teche Seahorse, que
dava apoio logístico com sinal de rádio e radar, não relatava nenhum outro
navio na região, apesar dos ocupantes do rebocador verem as luzes – ocupantes
da lancha também relataram ter visto uma iluminação branca muito forte, próxima
ao rebocador. Tanto a lancha como o rebocador faziam parte da frota Seahorse no
Brasil, operada pela Arthur Levy INC.
O alerta sobre a luz foi dado
por pelo marinheiro Ivan de Sousa Melo ao comandante do rebocador, José da
Silva. “Comandante, olhe esta luz à proa do rebocador, parece um farol”, falou
Ivan. Após avistarem o objeto, os marinheiros resolveram desligar o barco, que
ficou à deriva e há cerca de 50 metros do objeto até enquanto o contato não
terminou.
A distância estimada era de
seria de três milhas náuticas do Caioba e a uma altura de 60m, segundo os
relatos do comandante. O objeto tinha forma de um prato, grande, parado no
espaço, e cujo diâmetro aparente seria o dobro do diâmetro da lua. “Olha gente,
se existe disco voador nós estamos vendo um”, falou o comandante aos
marinheiros, antes de comunicar o fato por rádio.
Após alguns minutos de
avistamento, de acordo com o relato do comandante à FAB, a luz afastou-se no
rumo sudoeste, para a terra, com “uma velocidade incrível, subindo, ganhando a
altura, desaparecendo em menos de um segundo”.
O Tenente-Coronel Francisco José
Hennemann Filho terminou por concluir, em novembro de 1980, que não se tinha
“nenhuma evidencia de que houvesse a presença de algum veículo aeronavegante
nas imediações do Gaioba Seahorse”.
Aeronáutica tem manuais para
tratar de OVNIs
A Força Aérea trata os casos
de avistamento de OVNI com extrema seriedade. Existem protocolos, manuais e
questionários desde a década de 1960. A última leva de documentos liberados
pelo órgão supera as 4,5 mil páginas de relatórios, croquis e depoimentos
apontados por oficiais da FAB em mais de cinco décadas.
E isso seria, de acordo com os
ufólogos, só uma parte dos documentos oficiais. Como no caso da Operação Prato,
no Para, quando um grupo da Aeronáutica passou mais de um ano entre 1977 e 1978
registrando as “naves chupa-chupa” na região de Colares.
O capitão Uyrangê Bolivar
Soares Nogueira de Hollanda Lima, que comandou o grupo e presidiu o relatório,
chegou a contar anos depois que teve contatos de primeiro grau com supostos
extraterrestres durante a operação. Os ufólogos reclamam mais de 900 páginas de
documentos e fotos da Operação Prato teriam sido suprimidas pela FAB da
divulgação recente.
A força armada também teria
escondido informações da “noite dos discos voadores”, em 19 de maio de 1986,
quando foram vistos OVNIs em diversos locais do Brasil.
A Aeronáutica chegou a formar
um órgão específico para investigar os OVNIs nos céus do Brasil. Criado em
1969, o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani)
atuou de forma secreta por três anos, com membros da Força Aérea e civis
ligados à ufologia. O Sioani registrou
mais de quando mais de cem casos, até ser extinto pelo governo militar. O
protocolo do órgão era rígido. Quem relatava ter visto algo passava até por
exames psiquiátricos.
Uma “coisa de outro mundo”
aparece no Forte dos Reis Magos
Muito mais do que os relatos
oficiais, as histórias “oficiosas” abastecem há tempos a questão dos OVNIs. Uma
busca rápida na internet aponta uma série de histórias, vídeos e imagens de
objetos não-identificados que foram vistos por potiguares nos anos recentes. E
boa parte desses relatos extraoficiais – até o astronauta brasileiro Marcos
Pontes conta um caso da época que era piloto da FAB que não foi registrado
oficialmente – alimenta tanto os trabalhos dos ufólogos, assim como o ceticismo
dos contrários. A própria Aeronáutica estima que apenas 10% dos avistamentos
sejam relatados.
O NOVO Jornal ouviu um homem, morador
de Natal, que decidiu contar dois casos de avistamento de OVNIs na capital potiguar.
O relatante, um militar aposentado, não quis se identificar, com temor de que
seus relatos tornem-se motivo de ironia e gozação. “Mas não tem nenhuma
mentira. Não tenho para que mentir”, garantiu o homem de 49 anos.
O primeiro foi no fim da
década de 1970. Ele pescava com mais duas pessoas nas imediações do Forte dos
Reis Magos, em uma madrugada de céu claro. Enquanto jogavam redes e linhas na
região de encontro do oceano com o Rio Potengi, de repente uma grande bola com
luzes amarelas e laranjas surgiu do mar. Por alguns segundos ela pairou,
suspensa na água, e seguiu em alta velocidade na direção de Ponta Negra.
Minutos depois ele diz ter visto caças da Força Aérea passando pela região.
“Eu jamais vou esquecer da
frase de seu Manoel: corra meu filho, que isso é coisa do outro mundo. Deixamos
todo o material de pesca lá e fomos correndo na direção de Brasília Teimosa. Só
voltamos no dia posterior, para recolher o material. Foi um susto muito
grande”, relembra ele.
O outro avistamento da fonte
ouvida pela reportagem foi um pouco mais “tranquilo”. Em meados de 1985, ele
estava na casa da então namorada, na Zona Oeste da capital potiguar, quando
começou a ver, junto com ela e o cunhado, luzes giratórias no céu.
“Pelo movimento não era avião,
nem helicóptero. Eu era militar e meu cunhado também. Resolvemos ligar para a
Base Aérea de Natal e contar a situação. Um tempo depois vieram uns caças, mas
as luzes já tinham seguido em direção ao Oeste”, conta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Reflita, analise e comente