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Kleber Luz, infectologista e professor da UFRN, acompanha a
evolução dos registros no Estado junto às equipes epidemiológicas.
Foto: Alex Régis
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O Ministério da Saúde declarou
estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, ontem (11), em
decorrência do aumento inesperado no número de casos de microcefalia em bebês
nascidos na Região Nordeste. Rio Grande do Norte, Paraíba e, principalmente,
Pernambuco registram casos da doença que ocasiona uma malformação congênita, em
que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada e os recém-nascidos acabam
por apresentar um perímetro cefálico menor que o normal, que habitualmente é
superior a 33cm.
No Rio Grande do Norte, foram
registrados 21 casos em aproximadamente um mês, tanto em Natal quanto no
interior, de acordo com o infectologista Kleber Luz, que trabalha para a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e acompanha a situação.
Todas as suspeitas estão sendo investigadas e contam com o monitoramento de
equipes do Ministério da Saúde, segundo publicação do órgão. Só em Pernambuco,
foram notificados 141 casos suspeitos de microcefalia no mesmo período, em 44
municípios, sendo que a média no estado era de 10 ocorrências por ano.
Embora estudos mostrem que
essa anomalia congênita pode ser efeito de uma série de fatores de diferentes
origens (como o uso de substâncias químicas pela gestante, desnutrição, agentes
biológicos infecciosos, como bactérias e vírus, ou mesmo radiação) e não haver
uma definição da causa do problema nos casos citados, a principal suspeita para
este aumento no número de casos é relacionada ao surto de zika vírus que
aconteceu neste ano e atingiu, em especial, os estados da região Nordeste.
Em coletiva de imprensa
realizada ontem, o ministro da saúde, Marcelo Costa e Castro, disse que o
Ministério está acompanhando e investigando os casos de microcefalia em Pernambuco
desde o dia 22 de outubro, quando foi notificado. Uma Equipe de Resposta Rápida
às Emergências em Saúde Pública, formada inicialmente por seis profissionais
epidemiologistas, foi enviada, imediatamente, à capital pernambucana para
apoiar as Secretarias de Saúde do estado e dos municípios nas investigações de
campo.
O quadro de microcefalia no
Nordeste brasileiro também foi comunicado à Organização Mundial de Saúde e à
Organização Pan-americana de Saúde, conforme os protocolos internacionais de
notificações de doenças.
É a primeira vez que o Brasil
decreta emergência sanitária, desde que se definiram regras para o uso desse
mecanismo, em 2011. Após o decreto, que permite ao governo dispensar licitação
para compras e contratações, um grupo de especialistas será criado para
investigar a causa do aumento de casos.
Ainda ontem, o secretário José
Ricardo Lagreca, da Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do
Norte (Sesap), se reuniu com representantes da Subcoordenadoria de Vigilância
Sanitária (Suvisa/RN) e da Coordenação de Promoção à Saúde (CPS), para tratar
do assunto. Hoje à tarde, às 16h, será realizada uma coletiva de imprensa, no
gabinete do secretário, onde serão anunciadas medidas para amenizar a situação.
Perguntas:
- Como é feito o diagnóstico?
Após o nascimento do
recém-nascido, o primeiro exame físico é rotina nos berçários e deve ser feito
em até 24 horas do nascimento. Este período é um dos principais momentos para
se realizar busca ativa de possíveis anomalias congênitas. Por isso, é
importante que os profissionais de saúde fiquem sensíveis para notificar os
casos de microcefalia no registro da doença no Sistema de Informação sobre
Nascidos Vivos (Sinasc).
- A microcefalia pode levar a
óbito ou deixar sequelas?
Cerca de 90% das microcefalias
estão associadas com retardo mental, exceto nas de origem familiar, que podem
ter o desenvolvimento cognitivo normal. O tipo e o nível de gravidade da
sequela vão variar caso a caso. Tratamentos realizados desde os primeiros anos
melhoram o desenvolvimento e a qualidade de vida.
- Qual o tratamento para a
microcefalia?
Dependendo do tipo de
microcefalia, é possível corrigir a anomalia por meio de cirurgia. Geralmente,
as crianças, como já informado, precisam de acompanhamento após o primeiro ano
de vida. Nos casos de microcefalia óssea existem tratamentos que propiciam um
desenvolvimento normal do cérebro.
- Quais estados estão
apontando crescimento de casos de microcefalia acima da média?
O Ministério da Saúde está os
casos de microcefalia em Pernambuco, estado que tem apresentado aumento de
casos da doença, classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como
situação inusitada em termos de saúde. Temos recebido relatos de profissionais
de saúde sobre o mesmo corrido nos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte.
Todas essas suspeitas estão sendo investigadas e todos esses locais contam com
a atuação de profissionais de saúde do ministério.
- Há registro de ‘surtos’ de
microcefalia em outros países?
Por enquanto, não há relatos
na literatura cientifica e nem casos registrados em outros países da associação
do zika vírus com a microcefalia. No entanto, nenhuma hipótese está sendo
descartada.
- Que exames estão sendo
realizados nas crianças e nas gestantes dos estados (PE,
RN e PB) que já notificaram o
Ministério da Saúde?
A partir dos casos
identificados em Pernambuco, como já informado, estão sendo realizadas
investigações epidemiológicas
de campo, tais como: revisão de prontuários e outros registros de atendimento
médico da gestante e do recém-nascido. Também estão sendo feitas entrevistas
com as mães por meio de questionário. Os casos seguem para investigação
laboratorial e exames
- Neste momento, qual é a
recomendação do Ministério da Saúde?
Neste momento, o Ministério da
Saúde reforça às gestantes que não usem medicamentos não
prescritos pelos profissionais
de saúde e que façam um pré-natal qualificado e todos os exames
previstos nesta fase, além de
relatarem aos profissionais de saúde qualquer alteração que perceberem durante
a gestação. Além disso, é importante que os profissionais de saúde estejam atentos à avaliação cuidadosa
do perímetro cerebral e à idade gestacional, assim como à notificação de casos suspeitos
de microcefalia no registro de nascimento no Sinasc.
Tribuna do Norte
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