A falta de um delegado para a
lavratura de flagrante e de um lugar apropriado para custodiar um preso levou
um policial militar do interior do Rio Grande do Norte a soltar um preso. O
mais inusitado é que a retirada das algemas foi filmada e ainda contou com a
narração do próprio PM que havia feito a prisão. “Eu não posso ficar com o
preso aqui. Ele (o delegado) não pode ficar com o preso na casa dele. Então, se
a gente não tem como deixar ele (o preso) detido, a melhor forma é soltar”,
disse o soldado (veja vídeo clicando aqui).
O caso aconteceu na noite da
última quarta-feira, dia 30 de março. Foi na delegacia de Tangará, responsável
pelas ocorrências na cidade de Sítio Novo, onde o homem foi preso suspeito de
furtar uma bicicleta deixada em uma calçada. Sítio Novo fica a 100 quilômetros
de Natal. As imagens, inclusive, mostram o momento em que o policial retira as
algemas do preso.
“Boa noite, tô aqui tirando
essas algemas depois de ter ido pegar esse cidadão em Sítio Novo por furto. E,
tendo em vista que não tem dependências pra ele ficar aqui em Tangará detido
até amanhã, levei pra Santa Cruz e, chegando lá, o delegado disse que não
recebia de forma alguma.
Liguei para o pessoal da
Secretaria de Segurança, inclusive Lula, para falar e o delegado disse que não
recebe. Procurei de várias outras formas, mas não receberam ele de forma
alguma. Eu estourei o pneu da viatura e fiquei sem condições de ir na Plantão
Zona Norte. Tô liberando ele.
Falei com o delegado de
Tangará, e ele disse que o jeito era liberar porque não tinha o que fazer.
Eu não posso ficar com o preso
aqui. Ele (o delegado) não pode ficar com o preso na casa dele. Então, se a
gente não tem como deixar ele (o preso) detido, a melhor forma é soltar. Tô
fazendo isso aqui pra ver que eu tô liberando ele e não fiz nada com o preso”,
narrou o soldado.
No dia seguinte à soltura, de
acordo com o tenente Mário Conte, superior imediato do soldado João Maria, o
suspeito voltou a ser preso. “Ele foi pego novamente, desta vez roubando um
aparelho celular. Agora está preso”, afirmou. O nome do preso não revelado.
Em contato com o G1, o major
Válber Moura, comandante da 4ª Companhia Independente de Polícia Milita,
confirmou a autenticidade do vídeo e disse que o tenente, ao tomar conhecimento
do fato, registrou um Boletim de Ocorrência e fez um documento relatando o caso
ao Ministério Público. “Se ele tivesse me ligado, não teria chegado a este
ponto, de ter que soltar um preso. O Ministério Público foi informado e vai
analisar a situação”, comentou o oficial, admitindo a falta de delegado na
região para fazer os flagrantes em horários de plantão. “Durante a semana, já a
partir das 15h, não tem. Aí os policiais precisam levar os presos para a
regional, que é em Santa Cruz, ou mesmo para Natal”, afirmou.
A assessoria de comunicação da
Delegacia Geral de Polícia Civil disse que não existe prova da situação de
flagrante. Mesmo assim, a delegada Ivani Bezerra, que atuava como supervisora
da Diretoria de Polícia a Grande Natal no dia da ocorrência, disse que orientou
o PM a levar o suspeito para a Delegacia de Plantão da Zona Sul de Natal, mas
que em momento algum ficou sabendo que o PM estava sem viatura. “Se soubesse, a
delegada certamente teria providenciado um outro carro para que o preso fosse
levado”, afirmou a assessoria. A Degepol também informou que o delegado da
regional de Santa Cruz, da cidade de Tangará e o próprio policial militar serão
convocados para que possam prestar esclarecimentos.
O G1 tentou falar com o
soldado João Maria, mas seus superiores preferiram resguardá-lo até que ele
seja ouvido pelo MP, o que deve acontecer nesta segunda-feira (4).
G1 RN
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