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Neymar comemora o segundo gol
da vitória do Brasil (Foto: Edilson Dantas)
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Pode-se destacar que o Brasil
fez 3 a 0 no Paraguai com sobras, que Neymar fez um golaço, que a seleção de
Tite segue evoluindo e joga o melhor futebol do mundo no momento. Mas aconteceu
aos 40 minutos do segundo tempo o momento mais significativo do jogo. O gol de
Marcelo, o terceiro, é uma espécie de apologia do jeito brasileiro de jogar.
Arte e passe, envolvimento, talento e coletividade, sempre a caminho do gol.
Cinco jogadores envolvidos no lance, tocando a bola como se lembrassem ao
mundo: “Assim jogamos futebol”.
Com 33 pontos, a seleção
lidera com sobras as eliminatórias e já está garantido na Copa do Mundo da
Rússia de 2018. Beneficiado pela vitória de virada do Peru sobre o Uruguai, por
2 a 1 (gols de Guerrero e Flores), em casa, o Brasil garantiu a vaga ao
Mundial, com quatro rodadas de antecipação.
Foi durante a entrevista
coletiva, após o jogo com o Paraguai, que Tite foi informado de que o Brasil
estava classificado para a Copa. Levantou-se da cadeira, sorriu e ergueu as
duas mãos para o céu. "Obrigado, pai do céu", disse.
Em seguida, caminhou em
direção à esposa, Rose, e à filha. Abraçou as duas e, a esta altura, tinha os
olhos vermelhos, visivelmente emocionado.
A seleção anda funcionando
melhor dentro de campo do que fora dele. Enquanto o time vai encontrando boas
soluções, a arquibancada insistiu ontem no grito de “bicha” a cada tiro de meta
do goleiro rival, o que já rendeu punições ao Brasil nessas eliminatórias.
Teme-se que as multas possam virar sanções mais graves. Já a politica de preços
da CBF produziu a chamativa renda de R$ 12 milhões. Pode ser bom para as
estatísticas e cofres da entidade, difícil é crer que o ingresso médio de R$
277 seja adequado à cultura do futebol no país. Havia poucos lugares vazios.
Para um time que atinge um
notável estado de forma a 15 meses da Copa da Rússia, que é o objetivo
principal, são as vigências, os enfrentamentos contra times que imponham
obstáculos diferentes que vão proporcionar o crescimento. Nesta terça, o
Paraguai foi quem até agora melhor se defendeu contra esse Brasil de Tite, que
talvez tenha sido o nome mais gritado antes e durante o jogo.
No primeiro tempo, os
paraguaios cortaram quase todas as opções de passe na saída de bola do Brasil e
não se limitaram a aglomerar jogadores defendendo perto do próprio gol.
Marcaram agressivamente, diminuindo ao máximo o espaço entre seu zagueiro mais
recuado e seu atacante mais avançado. Um retrato da dificuldade foi o erro de
Miranda que terminou em chance desperdiçada de Derlis González, aos 25 minutos.
Coutinho comemora o primeiro
gol da vitória do Brasil - Marcos Alves
Mas aos poucos o Brasil foi
tomando o controle com o seu já habitual apreço à posse de bola. Uma das
soluções foi fazer Renato Augusto recuar até a linha de zaga para ser mais uma
opção para iniciar as jogadas e, ao mesmo tempo, permitir a subida de Marcelo
pela esquerda.
Mas foi pelo outro lado do
jogo que a história começou a mudar. Tite prega a aliança entre individual e
coletivo. E foi numa solução absolutamente individual de Coutinho que, aos 33
do primeiro tempo, em um drible abriu a defesa paraguaia pelo lado direito.
Depois, as armas coletivas do Brasil se encarregaram do resto. Paulinho entrou
na área, puxou a marcação e permitiu a tabela e a bela finalização do meia
brasileiro.
NEYMAR: PÊNALTI PERDIDO E
GOLAÇO
O Brasil voltou a dominar no
início do segundo. Tentava chegar com menos toques, mas com um pouco mais de
verticalidade diante de um Paraguai que, mais adiantado, oferecia espaços.
Logo, o jogo se tornaria um duelo pessoal entre Neymar e a estatística. O Paraguai,
ao lado da Venezuela, era um dos únicos rivais sul-americanos jamais vazados
pelo atacante. Era.
Coutinho deu bola preciosa
para Neymar perder, se chocar com a trave e dar susto na torcida. Em seguida,
de um lance pessoal, todo dele, surgiu o pênalti mal marcado. Mas Anthony Silva
defendeu a cobrança ruim. Ocorre que é tal a plenitude física e técnica do
astro que o gol era questão de tempo. Há momentos em que Neymar não parece
correr. A descrição mais fiel à imagem é dizer que desliza em campo, como
quando recebeu a bola no campo de defesa e passou de passagem por dois
paraguaios. Foi parar na outra área, driblando, encantando e finalizando. A
sorte se viu obrigada a ajudar. Com desvio do zagueiro e tudo, um golaço, aos
18.
A esta altura, o jogo virara
um monólogo de uma seleção brasileira que, quando controla a bola, exibe sua
melhor versão. Enquanto Neymar, entre um pontapé sofrido e outro, driblava
paraguaios desgovernados, a seleção trocava passes e celebrava um capítulo
marcante do reencontro com valores mais representativos da identidade
brasileira num campo de futebol. Neste aspecto, nenhum lance do jogo de ontem
deverá ser tão lembrado quanto o extraordinário gol de Marcelo. Uma apologia ao
passe e à arte: Marcelo, Neymar, Coutinho, Paulinho e, de novo, Marcelo tocando
para a rede. Talvez nem fosse necessária a camisa amarela para se reconhecer um
gol tão genuinamente brasileiro.
O Globo
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