Em pronunciamento, a presidente
DIlma Rousseff disse que recebeu com indignação a decisão do presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de acatar o pedido de impeachment contra ela.
Em referência indireta ao peemedebista, ela afirmou que não tem conta no
exterior, que não pesam contra ela denúncias de práticas de atos ilícitos nem
de desvio de dinheiro público. Com uma cara bastante séria, Dilma prosseguiu,
dizendo que nunca coagiu pessoas nem instituições em busca de satisfazer seus
interesses pessoais. Segundo ela, são inconsistentes e improcedentes as razões
que embasaram o pedido de impeachment.
Dilma também negou que tenha
barganhado votos no Conselho de Ética da Câmara para evitar a abertura de
processo de perda de mandato contra Cunha. Ela aproveitou ainda para registrar
que o Congresso aprovou na tarde de hoje a nova meta fiscal, permitindo que o
governo volte a ter condições de prestar todos os serviços à população.
— Recebi com indignação a
decisão do presidente da Câmara de processar pedido de impeachment contra mandato
democraticamente conferido a mim pelo povo brasileiro. São inconsistentes e
improcedentes as razões que fundamentam esse pedido. Não existe nenhum ato
ilícito praticado por mim. Não paira sobre mim nenhuma suspeita de desvio de
dinheiro público. Não possuo contas no exterior. Nunca coagi ou tentei coagir
instituições ou pessoas na busca de satisfazer meu interesse. Meu passado e meu
presente atestam minha idoneidade e meu inquestionável compromisso com as leis
e a coisa coisa pública — discursou Dilma ao lado de 11 ministros.
A presidente esteve
acompanhada, no Salão Leste do Palácio do Planalto, dos ministros Jaques Wagner
(Casa Civil), Ricardo Berzoine (Secretaria de Governo), José Eduardo Cardozo
(Justiça), GIlberto Occhi (Integração), Celo Pansera (Ciência e Tecnologia),
Aldo Rebelo (Defesa), Henrique Eduardo Alves (Turismo), Armando Monteiro
(Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior),Gilberto Kassab (Cidades),
Luís Inácio Adams (AGU) e André Figueiredo (Comunicações).
Ao longo dos quatro minutos
que duraram seu discurso, os ministros permaneceram enfileirados ao lado
direito de Dilma, em manifestação de apoio.
O Palácio do Planalto foi
tomado de surpresa com a decisão de Cunha de abrir o processo de impeachment
contra a presidente Dilma Rousseff hoje. No começo da tarde, logo após o
anúncio dos deputados petistas de que votariam contra Cunha no Conselho de
Ética, o governo reagiu imediatamente temendo que algo grave pudesse acontecer,
vislumbrando a discussão do impeachment nas próximas semanas. No entanto, ao
longo da tarde e com o ambiente parecendo calmo, o Planalto resolveu que
aguardaria os desdobramentos da reunião do conselho, na semana que vem. Mesmo
com a preocupação no ar, ninguém imaginava que Cunha desse andamento ainda hoje
ao pedido de afastamento.
Imediatamente após o anúncio
de Cunha de que aceitaria o pedido de impeachment, o ministro Jaques Wagner
(Casa Civil) desceu para o gabinete de Dilma para discutir o assunto. Em
seguida chegou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Auxiliares da presidente
afirmaram que o momento é de cautela e que não cabia até então ao governo se
antecipar ao debate sobre o impeachment. Até minutos antes do anúncio de Cunha,
o Planalto avaliava que se ele tomasse essa decisão, ficaria evidente que
estava se vingando do PT e do Executivo. Surpreendidos, os governistas se
reunirão para decidir qual será a reação a Cunha.
O núcleo político do governo
vinha operando fortemente para que os três deputados petistas no Conselho de
Ética aliviassem a situação de Cunha a fim de evitar que ele aja contra a
petista. A operação, no entanto, vinha causando constrangimento na maioria da
bancada do PT, que não concordava com a ajuda ao peemedebista.
— Berzoini, Jaques e Rossetto,
que têm proximidade com muitos de nós na bancada sabiam da nossa posição e da
nossa dificuldade, mas agiram de forma contraditória, numa posição de governo
que não era boa para ninguém — disse um parlamentar petista citando os
ministros do PT da Secretaria de Governo, da Casa Civil e do Trabalho,
respectivamente.
A decisão tomada pela bancada,
com o suporte do PT a partir da nota do presidente Rui Falcão, expôs a rebeldia
dos deputados com a pressão do governo.
— Criou-se uma situação muito
constrangedora. Não podemos igualar Dilma a Cunha — disse o deputado Vicentinho
(PT-SP).
O Globo
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