
Apesar de sugerir
recomendações aos consumidores sobre o aspecto dos alimentos, a Proteste -
Associação de Consumidores - adotou uma posição mais rigorosa: orienta os
cidadãos a não comprarem produtos das empresas envolvidas nas irregularidades.
A operação da Polícia Federal bloqueou R$ 1 bilhão de empresas suspeitas de
subornar fiscais para que carnes vencidas fossem reembaladas e liberadas para
comercialização.
Algumas das maiores empresas
do ramo alimentício do país estão na mira das investigações, entre as quais a
JBS, dona do Big Frango e Seara, e a BRF, detentora das marcas Sadia e
Perdigão.
“Foi falado em alguns momentos
que a indústria maquiava a carne para comercializar. Essa é uma interpretação
errada, no meu entendimento. Com as substâncias aprovadas, isso não é possível.
Você não consegue utilizar [aditivos] para mascarar uma carne deteriorada.
Visualmente, quando você adiciona algum produto, a carne fica pior do que
estava antes”, explicou o professor Sérgio Pflanzer, mencionando conservantes
como nitrito, fosfato e os ácidos sórbico e ascórbico [vitamina C]. “Nenhuma
dessas substâncias aprovadas consegue mascarar uma carne fresca deteriorada”,
afirma.
Anvisa
A Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), segundo o especialista, aprova a utilização dos
produtos, a maioria com um limite máximo permitido. “Se eu usar em excesso, o
produto vai ficar caro, porque os ingredientes são caros, e vão desenvolver
características indesejáveis ao produto. Se eu colocar demais, por exemplo, o
ácido ascórbico, que foi falado muito nos últimos dias, a percepção sensorial
vai ficar comprometida. O consumidor estará seguro, ela não causa mal, mas
ninguém vai conseguir consumir o produto, então a indústria não vai fazer
isso”, argumenta.
Já a temperatura, de acordo
com Sérgio, precisa de um “controle rigoroso”, tanto na aquisição por
frigoríficos como no armazenamento em supermercados e açougues. O professor
alerta, contudo, para a importância dos fiscais agropecuários ao analisar as
características de refrigeração e de validade da carne.
“Cabe à fiscalização liberar ou não. Não é
porque chegou um carregamento que deveria estar armazenado a 7ºC e estava a 8ºC
[que obrigatoriamente deve ser descartado]. Existem outros dados que indicam
que a carne não pode ser comercializada, como a cor e o aroma”, avalia. No caso
de alguma carne vencida, Sérgio explica que o congelamento inibe o crescimento
de bactérias, o que pode manter a segurança do alimento.
“Ela deveria também ser
descartada, mas se for utilizada, não vai oferecer risco. Na maioria dos casos,
eles não são autorizados. Mas dependendo da condição, o fiscal pode liberar.
Cabe a ele avaliar lote a lote, peça por peça, se podem ser utilizados”,
sugeriu.
Não recomendado
Segundo Sonia Amaro, advogada
e representante da Proteste, o posicionamento da entidade é que os consumidores
deixem de comprar carnes que têm como origem os frigoríficos alvo da operação.
Ela explica que a orientação tem como objetivo evitar malefícios à saúde dos
consumidores, que, como leigos no assunto, não têm condições de garantir a
qualidade dos produtos.
“Com tudo que foi divulgado
nessa operação, o nosso posicionamento, diante da gravidade do assunto, é dizer
para o consumidor: não compre produtos dessas empresas. O consumidor, que é a
parte vulnerável, não pode ter a certeza de que a carne não vai fazer mal à sua
saúde. Como ele vai se proteger? Não tem como. Por isso, a Proteste adotou essa
postura”, disse Sonia.
Cuidados
Apesar da contraindicação,
Sonia e o professor de Qualidade de Carne dão dicas gerais para o consumidor
ficar atento na hora de ir ao supermercado. Para as peças vendidas em bandejas
de isopor e embaladas com plástico, a atenção à cor e ao aroma são as
principais orientações. Em geral, alertam os especialistas, o prazo de
conservação aceitável desse tipo de alimentos em refrigeradores é de no máximo
três dias.
“Como entidades de proteção ao
consumidor, nós sempre recomendamos que seja observada minimamente a higiene do
local. Checar se os funcionários que estão em contato com alimento usam luvas e
toucas. Em segundo lugar, o aspecto do produto, verificar se a embalagem não
está violada, e o cheiro do alimento”, aconselha Sonia Amaro.
A representante do Proteste
sugere também que os consumidores analisem se não há água escorrendo dos
refrigeradores, porque isso pode ser um sinal de que foram desligados à noite.
A preferência por carnes que possuem embalagens originais também é recomendada,
pois nelas é possível saber a origem do produto e se ele possui selo do Serviço
de Inspeção Federal (SIF).
“Essa é a maior garantia de
que a carne foi inspecionada. Vamos imaginar que, quase na totalidade, o
sistema funciona muito bem, salvo algumas exceções que a Polícia Federal
mostrou que existem falhas de fiscalização. São pontuais, mas existem. Então, a
gente parte do princípio de que o serviço de inspeção federal é o melhor.
Depois, a gente tem o estadual, o municipal, que sou honesto em dizer que nem
sempre funciona da mesma maneira”, finaliza o professor.
Agência Brasil
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