Pesquisa aponta a resposta para uma pergunta que os especialistas vêm fazendo há anos, enquanto tentam entender exatamente como a água é estocada na Lua
Trilhões de quilos de água
estão espalhados pela Lua, presos em pequenas “gotas de vidro” que teriam sido
formadas quando asteroides colidiram com a superfície da Lua, de acordo
com uma nova pesquisa.
As descobertas, apresentadas em um estudo publicado nesta segunda-feira (27) na revista científica Nature Geoscience, foram reunidas por cientistas na China, que analisaram as primeiras amostras do solo lunar a serem trazidas à Terra desde a década de 1970.
A pesquisa aponta a resposta
para uma pergunta que os cientistas vêm fazendo há anos, enquanto tentam
entender exatamente como a água é estocada na Lua – principalmente nas regiões
fora dos polos lunares, onde o gelo pode existir em maior abundância.
Essencialmente, o estudo
preenche algumas lacunas em uma teoria sobre o ciclo da água lunar.
Para sustentar um ciclo da
água na superfície da Lua, deveria existir uma camada hidratada (reservatório)
profunda nas terras lunares, segundo os autores do estudo. “No entanto,
encontrar esse reservatório parecia ilusório, apesar de diversos estudos terem
investigado o inventário de água em grãos finos de minerais em solo lunar.”
Os pesquisadores decidiram
identificar um potencial reservatório de água ao investigar as gotas de vidro
formadas durante o impacto de asteroides. E a equipe encontrou os pequenos
objetos com quantidades substanciais de água.
A amostra de solo lunar
analisada para este estudo foi coletada pela missão Chang’e-5, da China, que
fez um pouso suave no canto noroeste da Lua voltado para a Terra e carregou
amostras de regolito de volta para casa em 2020.
A partir dessas amostras,
pesquisadores de várias instituições na China, incluindo a Universidade de
Nanjing e a Academia Chinesa de Ciências, escolheram a dedo 150 grãos para
estudar, variando em tamanho de cerca de 50 micrômetros – ou a largura de um
fio de cabelo humano – a cerca de 1 milímetro.
A teoria proposta por esta
última pesquisa é que essas gotas de vidro, formadas nos tempos antigos, podem
ter sido imbuídas de água quando atingidas pelos ventos solares, que
transportam hidrogênio e oxigênio da atmosfera do sol através do sistema solar.
Na verdade, pode haver mais de 270 trilhões de quilos de água armazenados na
Lua.
“Encontramos um novo
mecanismo, no qual o hidrogênio do vento solar pode difundir nas gotas de vidro
e, assim, identificamos um novo reservatório de água na Lua”, disse Hejiu Hui,
um dos coautores do estudo e pesquisador da Universidade de Nanjing, por
e-mail. “Por outro lado, gotas de vidro de impacto são distribuídas no regolito
globalmente na Lua. Portanto, as gotas de vidro de impacto podem ser
reabastecidas com água na superfície da Lua e podem sustentar o ciclo da água
na superfície lunar”.
As gotas podem ser
reabastecidas com água de poucos em poucos anos, sugeriu o estudo.
As descobertas se baseiam em
pesquisas da Nasa que sugerem que a água está presente no lado da Lua
iluminado pelo Sol. Os cientistas têm procurado mais informações sobre
como essa água foi armazenada.
A Nasa não respondeu
imediatamente a um pedido de comentário sobre este estudo. A agência espacial
não tem permissão para trabalhar com suas contrapartes chinesas desde 2011,
quando o Congresso aprovou a Emenda Wolf.
Compreender como a água é
armazenada na Lua é útil, observou Hui, porque poderia apontar futuros
astronautas lunares para recursos potenciais que poderiam um dia ser
convertidos em água potável ou até mesmo em combustível de foguete.
“Essa água pode ser liberada
simplesmente aquecendo essas contas de vidro”, disse Hui.
David Kring, cientista
principal do Instituto Lunar e Planetário em Houston, disse que esta pesquisa
dá aos cientistas uma nova visão sobre como a água pode ser armazenada na Lua,
particularmente em locais semelhantes ao local de pouso da missão Chang’e 5 no
lado próximo da Lua. Ele não esteve envolvido no estudo.
“Isso é importante para a
discussão científica dos ciclos lunares da água na lua”, observou ele.
Mas, disse Kring,
provavelmente existem lugares melhores para os astronautas coletarem água para
fins práticos, “é por isso que estamos interessados nos polos lunares”.
Os cientistas teorizaram que
pode haver grandes depósitos de gelo de água nos polos da lua desde a era
Apollo. E a Nasa planeja enviar astronautas para explorar a área como parte de
seu programa Ártemis, que visa enviar humanos ao polo sul lunar ainda nesta
década.
“Acho que o interesse
internacional na exploração da Lua alimentará o interesse de todos”, disse
Kring. “Mal posso esperar até que tenhamos astronautas Ártemis na região polar
sul lunar em dois a três anos.”
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